*por Vítor Antunes
Quando Leonardo Miggiorin surgiu na tela da TV era apenas um menino. E. tal como ele, seu peronsagem em “Presença de Anita” era também um jovem rapaz, marcado pelas sardas e espinhas que lhe compunham o rosto. Hoje Leonardo está distante dessa imagem. É um homem maduro, com 42 anos, e que está movimentando-se para voltar ao teatro e à arte da atuação, que concilia com a profissão de psicólogo. Estreou a peça “Não Se Mate“. Na TV poderá ser visto em “Beleza Fatal“, primeira produção brasileira da Max no gênero, bem como nas reprises de “Cobras e Lagartos” e “Viver a Vida“. Formado em Psicologia, Leonardo Miggiorion constesta a fala costumeira das redes sociais que virou meme, que é a frase “Está/estou com a terapia em dia”. Naturalmente, por ser psicólogo, o ator reforça a importância de se estar em dia com a saúde mental. Todavia, esse ainda é uma realidade para poucos. “Se a pessoa precisar firmar isso numa discussão, se ela precisa usar como uma defesa, é o resultado de uma insegurança. E quem precisa se sentir superior a alguém para se sentir melhor, isso já não é tão saudável”.
O ator, formado em Psicologia e pós-graduado em Psicodrama, é o idealizador do Projeto Casa Encontro, que beneficia idosos em situação de vulnerabilidade, atendidos pelo Instituto Velho Amigo, que promove a longevidade saudável. “Eu fazia sessões de psicodrama com as senhoras de Heliópolis, bairro de São Paulo, com alguns jogos teatrais e atividades de acolhimento, buscando promover saúde à população mais idosa. Um estudo da Universidade de São Paulo (USP) aponta que o psicodrama em grupos de idosos os auxilia a repensar suas vidas, alterarem sua visão sobre o envelhecimento e a velhice, e trabalharem questões sobre sua existência e a de seus companheiros em situações semelhantes, auxiliando assim o resgate da saúde do idoso e o fortalecimento de sua cidadania e integração em novos ambientes”, comenta.
PAZ COM O TEMPO
Como iniciamos dizendo, Leonardo Miggiorin surgiu na TV imprimindo adolescência e hoje já se flagra diante de outra fase da vida. “Demorei para me desprender dessa imagem. Hoje eu já penso diferente, a cabeça muda, a relação com o mundo muda. Haver feito ‘Presença de Anita‘ foi um momento muito importante e transformador na minha vida. Devo muito ao Manoel Carlos, porque o personagem me abriu portas”. Recentemente, “Presença de Anita” vem sendo discutida e criticada exatamente por trazer uma protagonista, Anita (Mel Lisboa), que é tóxica, além de fortemente sensual e usa da sensualidade para destruir as pessoas à sua volta. Para Leonardo, é preciso observar a série sob a perspectiva da época. “Cada época tem seu parâmetro. É preciso compreender a cabeça, a mentalidade daquela época. A gente evolui. A crítica é bem-vinda, mas a obra de arte, ela tem que ser preservada por ser um patrimônio da teledramaturgia brasileira”.
Além das novelas em reprise, Leonardo pode ser visto em “Beleza Fatal“, do Max. Novela do streaming. “Nesta estou vivendo um personagem com outro registro, um ex-presidiário”, conta. “Eu penso que o mercado mudou, então a forma de produzir também mudou, as contratações são diferentes, é tudo mais rápido, o tempo de preparação é muito curto, assim como os contratos mais curtos, então é sempre um movimento de recolocação no mercado, que muda tanto. É uma forma de ter resiliência”.
Eu estou com 42 anos. Não tenho mais tempo para certas coisas, para certos embates, e também não tenho tempo mais para ficar de melindre ou com medo de algumas atitudes que eu preciso tomar se eu quiser continuar com a minha carreira – Leonardo Miggiorin
Para Leonardo, o passar do tempo o fez reencontrar-se com sua própria autenticidade. A maturidade, por que não dizer, diminui a necessidade de concessões. “O tempo nos faz mais autênticos, e não escolher o que sempre escolheu, ou influenciado pelos outros ou na tentativa de pertencer a um grupo. A gente se reconcilia com a nossa própria dor, com a nossa própria verdade”.
Num tempo em que é imprescindível falar de saúde mental, a peça “Não Se Mate“, traz à tona esse assunto, mesclando dramaturgia com poemas de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). “Eu nunca tentei tirar a minha vida, tenho muita gratidão a ela, mas parece que esta é a dor de muitas pessoas. Tratar desse assunto no palco é fundamental e tem me ajudado a quebrar algumas conservas culturais, como o medo de fazer comédia ou de estar em cena sozinho. São limitações que me forçam a experimentar uma coisa nova na vida, a ousar”.
Leo também fala sobre o desafio de manter em dia o psicológico, em face de ser psicólogo. “Há de se aprender a limpar, a separar as coisas, limpar a mente. Para tratar dos outros é necessário olhar para si, ter espaço para elaborar as emoções e os fantasmas, então estou sempre buscando esse suporte. Para cuidar de alguém, é necessário primeiro se cuidar. Tal como eu, cujo autocuidado, além da terapia é voltar a cuidar da carreira, me arriscar no palco, convidar as pessoas para me assistirem”.
Num mundo de mudanças rápidas e contratações breves, Leonardo redefine sua posição, adaptando-se às dinâmicas do mercado com a mesma ousadia que sempre o caracterizou. Sua passagem pela televisão e, agora, novamente, pelos palcos, revela não apenas o talento de um ator, mas a essência de um ser humano que, ao abraçar suas próprias dores e verdades, inspira outros a fazerem o mesmo. Com a autenticidade como bússola, Leonardo Miggiorin não apenas retorna à arte; ele retorna a si mesmo, numa reconciliação com sua própria verdade, onde a dor não é mais uma sombra a ser evitada, mas um componente essencial da beleza que o tempo preserva. Ao desfolhar a rosa do viver, Leonardo Miggiorin trilha o caminho da suavidade, onde a madureza descortina novas perspectivas e caminhos inexplorados. Uma travessia que leva tempo, tal como uma obra de arte que, esculpida pelo tempo, revela sua verdadeira beleza. Afinal, as coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão. Mas as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão.
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