Por onde anda Ernesto Piccolo? No ar em Alma Gêmea, ele está em 6 peças e fala da efemeridade da fama


“Tem gente que acha, especialmente as mais noveleiras, que eu parei com a profissão, que eu abandonei a carreira, que eu não estou fazendo mais nada, quando não é isso”, diz Ernesto, que analisaria um convite caso fosse chamado para voltar à TV. De fato, a última novela completa na Globo na qual atuou foi a que está atualmente em reprise, “Alma Gêmea”, de 2005. Conhecido por seu carisma nas novelas, ele continua ativo, negando ter abandonado a atuação. Embora não apareça em novas produções televisivas, permanece engajado como diretor, atualmente trabalhando em seis peças. Seus projetos incluem uma releitura de “A.M.I.G.A.S.” com jovens atrizes, refletindo seu compromisso em revelar talentos. Aos 62 anos, celebra a maturidade com um olhar positivo, mantendo sua essência e paixão pela vida e acredita que o sucesso vai muito além das redes sociais

*por Vítor Antunes

Faz algum tempo que Ernesto Piccolo não aparece na televisão fazendo um trabalho inédito. A quem se acostumou em vê-lo nas novelas, é difícil conceber que tamanho carisma não esteja sendo entregue a nenhum personagem. Há tanto tempo trabalhando como diretor, função que acaba por chegar de maneira mais recorrente ao seu outro ofício, ele nega que tenha se aposentado da atuação em detrimento da direção. “Tem gente que acha, especialmente as mais noveleiras, que eu parei com a profissão, que eu abandonei a carreira, que eu não estou fazendo mais nada, quando não é isso”. De fato, a última novela de Ernesto completa na Globo, foi a que está atualmente em reprise, “Alma Gêmea“, de 2005. Depois desta, apenas suma participação em “O Rico e Lázaro“, na Record. Sobre a volta às novelas, ele diz: “Isso depende da trama e do personagem. Afinal, fazer novela implica em parar seis meses com tudo, já que divido a minha vida nos três turnos para conseguir dar conta dos compromissos que me remuneram tão bem quanto”.

E, definitivamente, Ernesto é um homem ativo. Faz muitas peças ao mesmo tempo, e acumula trabalhos – e sucessos – como ninguém. Atualmente pode ser visto como diretor de seis montagens teatrais. Uma delas é o “Doidas e Santas“, que está em sua última temporada depois de 10 anos em cartaz. Além desta, “Pormenor de Ausência“, monólogo com Giuseppe Oristânio, “Duetos”, com Patrícya Travassos e Eduardo Moscovis, o super sucesso “Detetives do Prédio Azul“, assim como “Duas Irmãs e Um Casamento“, peça com Maitê Proença e Débora Olivieri. Uma que estreia no próximo dia 19, com um elenco de jovens atrizes. Vocação de Ernesto, que é revelar talentos.

Há muitos anos professor do Tablado – tradicional escola de teatro carioca -, Ernesto diz que o mais importante é que haja interesse em conhecer o teatro, não só pelo jogo cênico, mas como forma de socialização. “É ali onde as pessoas querem se soltar, serem verdadeiras, se sentirem à vontade, se respeitarem, praticarem a empatia”. Mais que isso, Neco diz que ter seguidores no Instagram ou nas redes, não é algo definitivo para ter sucesso na carreira de ator. “Isso não significa que vai manter essa profissão. Essa coisa de fama, de sucesso é efêmera, ela depende de consistência. Tem que haver dedicação. Já passei por vários atores que eram inicialmente flanelinhas ou tinham dificuldade de decorar texto, mas que se disciplinou, se deixava experimentar, tinha vontade de fazer. É preciso ter profissionalismo”.

Ernesto Piccolo está em seis peças de teatro e remonta peça que trabalhou como ator (Foto: Divulgação)

ECLÉTICO

Sob a diretriz do profissionalismo, Ernesto Piccolo estreia “A.M.I.G.A.S. – Associação das Mulheres Interessadas em Gargalhadas Amor e Sexo”, montada há 25 anos, com Luana Piovani, Fernanda Rodrigues, Mary Sheyla e ele próprio no elenco. Essa nova encenação conta com as jovens atrizes Julia Iorio, Luiza Lewicki e Isabel Castello Branco, numa adaptação do texto de Duda Ribeiro – pai de Julia. Uma peça montada entre amigas, amigos e fortemente ligada à questão afetiva. “O teatro é feito de equipe, então é muito legal, 25 anos depois, você trabalhar com os filhos dos parceiros da primeira equipe. É o caso da Isabel, filha do Maneco Quinderé, que fez a luz, e também da Julia, filha do Duda Ribeiro, o autor que inventou essa história toda e que me deu esse presente que foi fazer essas múltiplas personagens há 25 anos atrás. Soma isso tudo e multiplica por Julia, Luisa e Isabel, três meninas cheias de gás, de energia, muito criativas, que adaptaram o texto brilhantemente para os tempos modernos, mais o Bernardo arrebentando com suas várias personagens. Ando me divertindo muito. Tá sendo feito com amor”

Ernesto Piccolo e o elenco deA.M.I.G.A.S (Foto: Divulgação)

Ernesto Piccolo é um artista eclético. Não faz muito tempo, realizou um musical inacreditável para os encaretados dias atuais: uma peça chamada “Boca Suja“, totalmente composta por músicas nada pudicas para falar de sexo e afins. A montagem, em cartaz entre 2016 e 2017, encontrou alguma repercussão à época, mas há de se questionar se encontraria espaço hoje.  “Houve um momento em que a gente percebeu que coisas estranhas estavam acontecendo no mundo. Ou essas coisas escrotas sempre estiveram ali e a gente achava que não existiam mais. As coisas vão mudando no decorrer dos anos, a forma de encarar as coisas, as palavras que a gente falava antigamente não pode falar mais hoje… Essas pessoas, de várias tendências, deram um tom cinza horroroso para o Brasil. Mas acho que hoje estamos num movimento de retomada. Quem é careta continuará sendo e os jovens estão vendo as coisas novas e importantes que precisam ser trabalhadas e modificadas”.

Para Ernesto, o momento que vivemos hoje é de oportunidade de aprendizado. “Olha, quanta coisa aprender atualmente? Quantas palavras a gente dizia, fazia e usava sem qualquer discernimento. Tudo isso é uma evolução. A gente tem que trabalhar para ser uma evolução de um lugar certo não de um lugar errado. É uma renovação da educação. A gente só não pode se deixar encaretar, mas manter a própria essência, manter o que se é”.

O jovem Ernesto Piccolo em “A Maconha da Mamãe é Mais Gostosa” [1985] (Foto: Reprodução/Facebook)

Aos 62 anos, o ator lida com muita naturalidade com o passar do tempo. “Acho muito doido olhar no espelho e ver que a cara ganhou uma dobra, que a gente não pode beber e acordar de manhã numa boa, mas tem elementos na maturidade que são não ter mais a ansiedade de ter que ficar provando a sua capacidade a todo tempo, começar a conquistar seu espaço, a ter respeito, isso é ótimo e dá um alento de perceber que os filhos estão crescidos, as amizades que perduraram e o quanto a vida é breve e o quanto temos que valorizar tudo”. Mas diante de tantos sonhos, um a maturidade não trouxe: O de ser avô e esse é um sonho dele.

Já perto do fim da entrevista, Ernesto relembra o que tem saudade. De imediato, fala da sua mãe e depois rememora sua avó e familiares. “Amei muita gente que esteve presente em minha vida”. Mais que amor, Ernesto é amar. É verbo. E sabemos, todos, verbo é palavra em movimento. Se a sua vida mesma fosse uma peça, sem dúvida seria um musical. Alegre, para divertir – afinal, na vida já há miséria e tristeza que baste e, convenhamos, que entrra num teatro e ão ouvir uma gargalhada sequer é um desperdício de vida. E se há alguma palavra possível ou desejável para se iniciar uma peça como esta seria uma frase recorrentemente dita por Ernesto: “Eu te respeito porque me importo. E me importo com você”. Em italiano, Piccolo é “pequeno”, nome incompatível para alguém de tão grande coração e se é possível um rebatismo, que seja, a partr de hoje, Ernesto… “immenso”!