*por Vítor Andrade
Por mais que esteja há muitos anos na carreira, inclusive foi por conta de uma apresentação no “Xou da Xuxa” que Junno Andrade e Xuxa se conheceram, o ator e cantor acabou tendo maior visibilidade. Não que seja demérito, pelo contrário. Junno sempre teve uma carreira vitoriosa. É dele a autoria de muitos clássicos populares e dos quais muita gente sequer imagina ser ele o autor. É dele a canção “Apaixonada por Você“, um dos primeiros sucessos da carreira de Wanessa Camargo e “Minha Timidez” do KLB, trio de enorme sucesso dos anos 2000. Assim como ele cantou na abertura de “Tiro e Queda“, novela da Record de 1999. Em razão dessa produção musical intensa, Junno tem duras críticas à distribuição de direitos autorais e ao pagamento aos autores. “Acho que o compositor brasileiro é mal remunerado e até marginalizado. A composição é a matéria-prima de qualquer sucesso, de qualquer intérprete e em muitas das vezes nem citados somos! Um intérprete pode ficar muito rico com um único sucesso, o compositor não ficará nem que tenha 50 sucessos gravados”, aponta.
No dia 14 de setembro, Junno estreia, na companhia de Bianca Rinaldi, no Rio e em Niterói, na montagem de “Casa, Comida e Alma Lavada“, uma peça que trata, especialmente, sobre relacionamento, a durabilidade dele e os desafios de relacionar-se. “A peça retrata um casal com 20 anos de convivência, com todas aquelas situações já bem conhecidas por quem tem ou já teve a experiência de viver junto com alguém… A gente brinca com essa DR de uma forma leve e divertida, e já deu para sentir que o público se enxerga em várias passagens da peça e se diverte junto. Inclusive, muitos nos relatam isso ao final da peça. Acho que o segredo é respeitar o espaço do outro, as diferenças e os momentos de cada um… Enaltecer as afinidades e beijar muito, acarinhar, dar colo…”.
Casado há quase 10 anos com a apresentadora Xuxa Meneghel, Junno vê com naturalidade as novas formas de relacionar-se das gerações jovens e dos seus relacionamentos líquidos. “Acho que os tempos são outros. Temos que tentar entender esse novo jeito de ver a vida. As coisas mudaram muito. Hoje, qualquer pessoa tem informação de tudo que é jeito, e imagino que saber lidar com isso tudo também não deve ser fácil para essa galera mais jovem! A gente aprendia na prática, na convivência, no tempo de cada um… Hoje, com tanta informação, deve rolar uma ansiedade muito grande em não realizar”.
Ainda diante do fato de estar casado com Xuxa, Junno problematiza as dificuldades de ter que conviver com as fake news, já que ambos são muito famosos. E tudo que envolve Xuxa gera engajamento e repercussão desde o seu surgimento, ainda no início dos anos 1980. Sobre isso, o artista acredita que estamos “vivendo no mundo das fake news, do desespero por likes, seguidores, por um lugar ao sol… E as pessoas fazem qualquer coisa para aparecer. Tudo que envolve o nome da Xuxa dá repercussão, por tudo que ela representa e por estar onde chegou, trabalhando muito e com muito talento. Mas a gente se conhece muito e tá fechado! Às vezes rimos, às vezes ficamos com pena… Infelizmente temos que conviver com isso”.
O tempo atual é pautado nas pessoas que a todo tempo “querem uma carona” [na fama]. Ou por não quererem trabalhar, ou por falta de talento mesmo – Junno Andrade
COM A ALMA LAVADA
Na vastidão da arte, onde a expressão humana encontra seu refúgio e sua voz mais autêntica, Junno Andrade se revela um ator cuja generosidade e busca incessante por aprendizado reverberam em cada gesto, em cada escolha. A parceria com Bianca Rinaldi, na peça Casa, Comida e Alma Lavada, marca o início de uma nova temporada. Este compromisso com o teatro, uma plataforma onde o artista enfrenta o desafio imediato e a resposta instantânea do público, revela a coragem de quem entende que a arte é um campo de constante aprimoramento e reinvenção. “Estamos começando uma temporada no teatro com a peça Casa, Comida e Alma Lavada. Eu e a Bianca Rinaldi já temos agenda para estrear em São Paulo na segunda quinzena de janeiro e, a partir daí, definir até quando iremos! Estou contratado pela Record para interpretar o personagem Baalnatan, em sua terceira fase na série Reis, e ainda não sei até quando as gravações se estenderão”.
Essa humildade, expressa em suas próprias palavras, revela um artista consciente de que a verdade da atuação reside na simplicidade e na honestidade com o público. No teatro, onde a troca é direta e visceral, Junno se depara com o desafio de uma entrega sem filtros, onde cada apresentação é uma nova oportunidade de se conectar profundamente com quem assiste. “Eu continuo fazendo o arroz com feijão, foi como aprendi e como acredito que convença quem está assistindo! Teatro ainda é aquele desafio imediato, com resposta na hora… E novela a gente vai acertando a mão de acordo com a trama, o diretor, o autor… o público”.
Apaixonado por motocicletas, Junno entende que pilotar não é apenas um ato de deslocamento, mas uma terapia, uma forma de se conectar consigo mesmo e com o mundo ao seu redor. A solidão na estrada, as curvas sinuosas, tudo contribui para um momento de reflexão íntima, onde cada quilômetro percorrido é um diálogo silencioso entre o homem e a máquina. “Pilotar é a minha terapia. Amo a sensação de pegar uma estrada, sozinho, as curvas… É meu momento de reflexão… Porém, é um veículo que pode se tornar perigoso mesmo, a fragilidade de estar em cima de duas rodas onde nem tudo é respeitado ou apropriado pode se tornar desagradável, quando não fatal!”
Junno também problematiza a precarização que envolve a vida dos motociclistas, tanto em termos de segurança quanto de condições de trabalho. A fragilidade inerente ao veículo, a falta de respeito nas estradas, e as condições adversas impostas por práticas como a cobrança de pedágio, que expõe o piloto a riscos desnecessários, são questões que ele vivencia e critica com a autoridade de quem conhece a realidade das pistas. “Me incomoda o fato de algumas autoestradas não liberarem pedágio para moto. Se torna muito perigoso parar de moto no guichê, primeiro porque o motorista que vem de carro atrás tem pouca visibilidade quando há uma moto parada ali e pode bater atrás do motociclista. Outro problema é a quantidade de óleo e graxa no local; já escorreguei algumas vezes. Fora que, quando há fila, estar de moto num dia de chuva ou de muito sol, com a roupa adequada de proteção e capacete, torna-se extremamente desagradável ficar no tempo sob sol ou chuva. O calor é intenso, é desumano. Deveriam liberar as motos, assim como é feito na Dutra, Castelo Branco, Anhanguera…”
Para Junno Andrade, a maturidade trouxe uma sabedoria que transcende o simples acúmulo de anos, revelando-se como um processo de refinamento interior, de descoberta e redescoberta de si mesmo. Ele reflete sobre as lições que essa jornada lhe ofereceu, com a clareza de quem aprendeu a aceitar a imperfeição e a celebrar a liberdade de ser humano. “Saber que podemos muita coisa, mas nem sempre devemos! Arriscar mais, não ligar tanto para a opinião alheia… Que a gente realmente pode errar, é humano; que a gente pode e deve se desconstruir; que não devemos nos levar tão a sério”. Ou seja, para Junno, o grande aprendizado que a maturidade lhe trouxe foi o discernimento. Afinal, para quem tem a poesia como ferramenta de trabalho, não é tarefa difícil ver beleza em tudo, inclusive na passagem do tempo.
Créditos:
Fotos Marcio Farias
Styling Samantha Szczerb
Beleza Graziele Bragança
Artigos relacionados