A peça Edward Bond Para Tempos Conturbados traz um elenco inusitado composto por artistas plásticos, dançarinos, cineastas e, claro, atores para falar sobre a violência e a crueldade humana


O espetáculo foi baseado no manifesto do autor britânico Edward Bond e pretende provocar uma reflexão no público

Angústia e aflição são um dos muitos sentimentos despertados pela peça Edward Bond Para Tempos Conturbados, escrita por André Pellegrino. A ideia do espetáculo é tentar entender através de cenas curtas como funciona a violência que, atualmente, expressamos quando queremos manifestar a injustiça e a contradição. Mostra também como acontece a manipulação das massas, como nós tomamos decisões que não saíram de nosso subconsciente, mas da opinião e sugestão de outras pessoas. O objetivo é provocar e incitar o público a refletir sobre a maldade da sociedade atual. “O roteiro fala da crueldade. Quando os seres humanos falam desta característica a abordam como se estivessem fora de nós. A grande sacada desta peça é mostrar isto dentro da gente e como o que sentimos está refletido do lado de fora. Sempre falamos da violência no Brasil e não olhamos para nós. O André Pellegrino tenta sair do discurso maniqueísta. Acho importante falar sobre esta questão, porque se todos dentro de seus microcosmos alterarem seu ponto de vista, seja político ou social, estamos contribuindo para mudar”, afirmou a atriz e diretora Susanna Kruger que faz parte do elenco assim como Fernando Melvin, João Sant’Anna, Kallanda Caetana, Leonardo Bianchi e Lívia Feltro.

Na peça, Susanna faz os pensamentos do escritor Edward Bond. O texto inteiro foi baseado no manifesto do britânico escrito há mais de trinta anos. “O meu personagem é o pensamento do Edward Bond, mas os trechos que falo não são do discurso dele, na verdade, é uma mistura do que ele diz com o olhar do nosso dramaturgo, o André Pellegrino, que ajuda a atualizar os pensamentos”, comentou. A visão de André ajudou a colocar a contemporaneidade na peça que poderia parecer desatualizada se usado apenas o manifesto. Dessa forma, André mexeu diversas vezes no texto adaptando como melhor lhe parecia.

A peça fala sobre a realidade da crueldade humana (Foto: Kaio Caiazzo)

A razão de Susanna estar nesta peça foi a curiosidade pelo novo. A atriz nunca havia ouvido falar de Edward e se interessou muito pelo o que ele tinha a dizer. “Eu não conhecia o Edward Bond e o achei muito interessante, com uma grande acidez.  É muito bom fazer parte de algo do qual realmente gosto. Foi muito bom”, comemorou a mesma.

Além do texto, Susanna Kruger está muito empolgada com a formação dos diálogos que foi feita de forma integrada. Depois de escrita, André acompanhou vários ensaios e deixou que os atores improvisassem. Com isso, foi acrescentando e alterando algumas cenas conforme achava interessante. “Acho um privilégio muito grande quando um dramaturgo trabalha de forma inclusiva, como o André, trabalha o texto em cena, abrindo portas para o improviso e depois reescreve as partes que achou interessante. A escrita desta peça induz a ação, as cenas são criadas no mesmo tempo que o texto se desenvolve. Foi um processo de criação coletivo. Acredito que os textos de Shakespeare, por exemplo, foram feitos desta forma porque não são uma literatura, são narrativas prontas para ir para cena”, explicou. A diferente forma de produzir o texto só foi possível graças a integração do escritor com o diretor Daniel Belmonte. “Precisamos de uma grande dedicação do diretor e autor porque era necessário que eles direcionassem os atores para o caminho que queriam chegar com o texto. Existe uma parceria muito grande entre ambos o que faz com que este processo se concretize e dê certo”, afirmou.

Artistas desempenham diversas funções no palco (Foto: Kaio Caiazzo)

Susanna é atriz, mas também diretora e, por isso, consegue avaliar o trabalho de um diretor muito bem. Daniel, no caso, é novo no ramo, pois tem apenas 23 anos, mesmo assim a atriz afirmou que ele está dando conta do recado e pediu que o público não se atentasse a este detalhe. “Mesmo o Daniel sendo jovem, ele é muito firme em suas propostas, algo difícil de ser visto em outros diretores mais experientes. A idade não deveria importar, porque ela funciona como preconceito para os dois lados. Se a pessoa está velha vai dar trabalho, se é nova também”, lamentou.

A peça busca cruzar várias esperas artísticas, trazendo para a cena uma artista plástica, um dançarino, um cineasta e outros artistas que desempenham diferentes funções. “Acredito que os diferentes tipos de produtores de arte estão em cena para ajudar a compor o processo de criação. Acho que o diretor queria diferentes cores para o teatro que só poderiam ser trazidas pela turma de outras funções e todos estão em cena e produzindo arte naquele momento com base no improviso. Cada esfera artística com a sua forma de atuar no espaço, a artista plástica, por exemplo, faz um quadro na hora do espetáculo. A forma que encontramos de criar uma lógica foi fazer com que cada um entendesse o objetivo da peça”, informou. Além disso, Susanna garantiu que sempre haverá o improviso visto que a cada apresentação o texto pode ir mudando.

 

SERVIÇO

Espetáculo: Edward Bond Para Tempos Conturbados

Teatro II – Sesc Tijuca: Rua Barão de Mesquita, 539

Telefone: (21) 3238-2100

Temporada: 11 de agosto a 03 setembro 2017 – sextas, sábados e domingos às 19h

Ingressos: R$6,00 ( comerciário com carteirinha), R$12,00 meia (idosos e menores de 21 anos) e R$25,00 (inteira)

Duração: 60min

Não recomendado para menores de: 16 anos

Gênero: Comédia Dramática