A peça Duplo Etéreo, de Sebastião Bicalho, foi uma aposta da companhia mineira Atores Associados que pretende expandir o seu público e atingir os cidadãos cariocas. Para conseguir isso, Gabriel Amaral trouxe um texto que foi premiado em Belo Horizonte, em 2011, que fala sobre a esquizofrenia. Dessa forma, o ator e Fabiana Gois, dirigidos por Fernando Couto e Dhan Marcell, estrearam na Casa de Cultura Laura Alvim no dia 9 de janeiro. A história, inicialmente, fala sobre a relação de dois irmãos, no entanto com o decorrer dos acontecimentos a esquizofrenia acaba se tornando a temática principal da peça. O assunto desperta a curiosidade do público por ser algo pouco abordado. “Não sabia muito sobre a a doença, tanto que me assustei quando comecei a estudar sobre o tema. Procurei o que já existia sobre o assunto como personagem de novela, como o papel do Bruno Gagliasso. Em termos de filme, assisti Uma Mente Brilhante. Conheci um pouco dos sintomas, com esta pesquisa, e percebi como é fundamental que nós saibamos disso, pois podemos ajudar muitas pessoas. Entrei em contato com três associações, inclusive, o Instituto Philippe Pinel, no Rio de Janeiro. Elas me ajudaram com entrevistas e estudos sobre o assunto”, afirmou Gabriel, que ficou dois meses completamente mergulhado no tema.
Ao levantar o tema da esquizofrenia, o espetáculo utiliza o nu artístico para ajudar a falar sobre o assunto. “Para mim o nu sempre foi algo natural, mas entendo que a sociedade tenha a sua moral. Eu respeito este traço e, por isso, busco trabalhar com o nu apenas em casos onde é extremamente necessário”, afirmou. Uma das cenas mais relevantes e especiais do espetáculo, por exemplo, mostra a mulher falando que o irmão possui uma mentalidade infantil, no entanto, ao longo da peça, é perceptível que quem desencadeia isto é a doença de esquizofrenia da irmã. Sendo assim, a nudez aparece em um momento que o antagonista está tomando um banho. O rapaz ainda fala que ele é a verdade nua e crua dela. “Seria muito falso se, unicamente por uma questão moral, eu usasse roupa nesta cena. A nudez está em cena para causar uma reflexão”, esclareceu. A classificação do espetáculo será de 18 anos o que irá impedir que menores de idade assistam ao conteúdo. De acordo com Gabriel, a nudez não imprime uma apologia ao sexo ou a droga, apenas é usada para falar sobre um tema sério.
O que mais impressionou o rapaz neste estudo foi à quantidade de casos que existem no Brasil, são mais de dois milhões de cidadãos diagnosticados. No mundo, uma a cada cem pessoas desenvolve a doença, que é fruto de um trauma muito grande. Muitas vezes, é difícil de identificar um paciente que sofre de esquizofrenia. O próprio ator, inclusive, passou a avaliar mais o comportamento de amigos e familiares. “Não sou médico para fazer nenhum diagnóstico, mas percebi que algumas pessoas, inclusive já falecidas, poderiam ter a doença. Pelo o que estou estudando, os sintomas eram nítidos. Como foi o caso de um tio avô que morou a vida inteira isolado e conversava sozinho. Nunca recebeu nenhuma medicação ou tratamento, talvez se eu tivesse estudado isto antes poderia ter ajudado em uma possível melhora na qualidade de vida dele”, lamentou.
Uma das maiores motivações para a companhia Atores Associados ao montar esta peça é informar as pessoas e poder ajudar a melhorar a qualidade de vida de quem possui sofre com o diagnóstico. “A peça não tem compromisso de comunicar a doença, porque não deixa de ser um produto de ficção. Queremos, realmente, levantar a discussão sobre esquizofrenia. Estamos sem patrocínio, com o suporte do Cabify e do restaurante Frontera. No final, podemos sair no prejuízo, mas achamos que isto é vantajoso porque queremos trabalhar no Rio de Janeiro também. Por isso, também, investimos em um conteúdo que pode ser significativo”, explicou.
Apesar de não ter o compromisso de comunicar a doença, a peça já conseguiu levantar discussões. Em 2011, por exemplo, houve uma grande repercussão em torno do espetáculo devido um grupo de psicólogos e psiquiatras argentinos que foram assistir a montagem da trupe. Por causa dela, eles começaram a debater sobre o assunto, em Belo Horizonte. “A peça possui um diálogo muito forte e o público quer saber o que vai acontecer. Não vai ser aquele espetáculo que as pessoas saem sem entender o final, porque o fim vai impactar. Será suficiente para fazer os espectadores discutirem sobre o tema”, garantiu.
Serviço
Local: Casa de Cultura Laura Alvim – Ipanema – Rio de Janeiro
Temporada: 09/01/2018 a 31/01/2018
Terças e Quartas às 20h
Gênero: Drama
Valores: R$ 40,00 inteira /R$20,00 meia
Lista Amiga e atores que apresentarem DRT pagam o valor da meia: R$20,00
Duração: 50 min
Classificação: 16 anos
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