*Por Jeff Lessa
Cacau Hygino é multi. Afinal, como descrever um profissional que todo mundo deseja que ele escreva sua biografia, ou quer atuar no seu filme, roteirizar seu programa de humor, estrelar sua peça de teatro? Pois é. Cacau é assim: muitos homens em um. Depois de escrever a biografia da cantora e atriz Zezé Motta, 74 anos, lançada em dezembro de 2018, ele está à toda colocando a vida da atriz Nicette Bruno, de 87, em palavras. Nesse meio tempo, fez sucesso com “Através da Iris”, monólogo em que dame Nathalia Timberg interpretou a socialite, designer de interiores e ícone fashion nova-iorquina Iris Apfel, de 98 anos. Além disso, Cacau faz parte do time de roteiristas da sitcom “Dra. Darci”, exibida pelo Multishow desde junho do ano passado, com Tom Cavalcante e Fabiana Karla nos papéis principais. Agora, está prestes a estrear sua mais nova peça, a comédia “Tem Um Príncipe no Divã”, dia 27, no Teatro J. Safra, em São Paulo, com direção geral de Rogério Fabiano.
No palco, o Príncipe Encantado dá um piti durante as filmagens de “Bela Adormecida”. Depois do ataque de estrelismo e de uma discussão séria com a diretora, ele entra em crise e começa a fazer análise. A plateia assume o papel de terapeuta enquanto o Príncipe discorre livremente sobre diversos assuntos, como a sexualidade dos personagens de filmes e desenhos animados, a liberdade de cada um se assumir, os preconceitos e a busca eterna das mulheres por um príncipe, entre outros temas, sempre com muito humor.
O youtuber e humorista Victor Meyniel, de 22 anos, faz sua estreia em monólogos. Cacau conta que já conhecia o ator, que tem nada menos que 1,6 milhão de seguidores no YouTube. “Recebi o convite para escrever uma comédia com pegada jovem e que tivesse a ver com a veia cômica do Victor. Quando leu pela primeira vez, fiquei chocado, parecia que já tinha lido o texto mil vezes, de tão bem que se saiu. E nunca tinha lido o texto, viu na hora! Tinha que ser dele mesmo”, conta Cacau, que não tinha o costume de seguir ninguém no YouTube. “Nunca tive esse hábito, mas, vez ou outra, eu olho as redes para ver a comunicação com o público. Depois que conheci o Victor, passei a acompanhá-lo. Afinal, escrevi para ele, preciso entender sua personalidade, conhecer seu universo”.
A comédia faz parte de uma trilogia que inclui “Deu a Louca na Branca”, uma brincadeira com a Branca de Neve, e “Por Onde Anda Cinderela”. Em comum, os textos têm o fato de os personagens agirem de uma maneira nonsense. “É loucura atrás de loucura. Mas com fundo de verdade. As pessoas vão se identificar com as mensagens. Pelo menos, é o que espero”, diz Cacau. “Apesar de ter sido feita para um jovem, é humor para a família inteira. Humor rasgado com mensagens reais. Não tem filosofias. É para se divertir e ponto. Não é politicamente incorreto. É entretenimento que fala da realidade, mas dando aquele aumento com lupa para o público morrer de rir”.
Antes de rodar pelo Brasil, “Tem Um Príncipe no Divã” vai estrear em Portugal. “Faremos sem dúvida no Rio, mas ainda não tenho uma data definida. Só no ano que vem. Vamos nos apresentar em Portugal antes do Rio”, entrega Cacau. “Sou carioca, me formei como ator no Rio, trabalhei em muitos teatros aqui, mas preciso admitir que o público paulistano se interessa mais pelo teatro”.
Nosso homem multitarefas está colhendo os frutos do sucesso. O autor já recebeu convites de Angola e de Portugal para montar “Através da Iris” nesses países, com Nathalia Timberg no palco. De Estados Unidos, Argentina e Uruguai vieram propostas para comprar o texto. O monólogo também está sendo traduzido para o francês e o espanhol, visando a possíveis montagens na França e na Espanha. “Em São Paulo, a imagem dela se popularizou muito. Muita gente ficava para conversar com a Nathalia sobre a personagem. Tinha uma empresa de sapatos querendo fazer uma linha da Iris e a Zara lançou camisetas com a foto dela. É muito curioso todo esse interesse”, observa Cacau.
“Muita gente questionou. ‘Por que esta personagem, uma mulher estrangeira que gosta de moda?’, diziam. Ora, a peça fala de muita coisa, não só de moda. Fala da vida, basicamente. E a Iris tem uma força imensa. É uma potência”, conta Cacau, acrescentando que, em seu primeiro encontro com a Iris verdadeira, ela usava um roupão, pura elegância em gestos e na simplicidade.
Com tanto trabalho em áreas diferentes, como ficam as biografias? Um dos sonhos de Cacau é contar a história da vida de Xuxa Meneghel: “Gosto de gente de sucesso que ralou o couro para chegar onde está”, diz. Mas o sonho mais caro ao autor é escrever a respeito da dupla Sandy e Junior. Da dupla mesmo, dos irmãos juntos: “Não sei se faria um livro histórico ou sobre o momento atual deles. Fui muito bem recebido pela família quando os entrevistei. Sem fricotes. Sandy pintou um quadro para mim. Ninguém ficou me vigiando, nenhum segurança, me deixaram muito à vontade. Afinal, eu era um estranho na casa daquelas pessoas”.
“Quando comecei a escrever a bio da Nicette, fui convidado a fazer um filme como ator. E ela foi fazer teatro. Passamos a nos encontrar só uma vez por semana e o trabalho começou a ficar lento, lento. Fico muito agoniado enquanto não termino algo. Não quero e não gosto de ficar três anos com um livro, sou muito rápido, não posso me dar a esse luxo”, conta Cacau. “Começamos esse trabalho no final de 2017. Quando estou com a Nicette, a gente conversa o dia inteiro, ela me conta tudo! Agora que estou encerrando outros projetos, quero entrar de sola. Em outubro, quero estar com tudo pronto para entregar para a editora” (no caso, a Editora Vitti).
A biografia da atriz será o nono livro de Cacau lançado num espaço de apenas 14 anos. O primeiro, de 2005, foi “Mulheres Fora de Cena”, e falava de 165 mulheres famosas de todo o país. O livro virou um talk show em 2015 no Village Mall, “Com dez mulheres apenas, não haveria como fazer 165 entrevistas no teatro”. As biografias começaram a ser lançadas em 2007, com “Virna – A Trajetória De Uma Guerreira”, sobre a vida da ex-jogadora de vôlei Virna Dias. Em seguida vieram os livros sobre Nathalia Timberg (2014), Irene Ravache (2015) e Zezé Motta (2018).
Cacau em um dia está falando de uma grande dama do teatro, no outro está escrevendo um livro sobre um artista popular… “Não tenho preconceito. Não vejo problema em escrever uma peça para a Nathalia Timberg e, no outro dia, fazer o roteiro de um programa para ser estrelado por um garoto recém-saído da escola de teatro. Não faço esse tipo de distinção, mas sou cobrado por isso”.
Encontrar a estrela para “Através da Iris” também foi surpreendente. Cacau viu Nathalia no escritório do Marcus Montenegro e notou que ela usava óculos iguais aos da americana. Enviou o texto para a atriz e fez o convite… suspense! Nathalia aceitou e o resultado é um ano de sucesso e agenda ocupada até maio de 2020. “Em São Paulo, é impressionante como a imagem dela se popularizou. Muita gente fica para conversar com a Nathalia sobre a personagem. Tem uma empresa de sapatos querendo fazer uma linha da Iris e a Zara tem camisetas com a foto dela. É muito curioso todo esse interesse”, observa Cacau. Quem foi mesmo que perguntou o motivo de se escrever uma peça sobre Iris Apfel?
Pensa que parou por aí? Sem chance. Cacau Hygino é um dínamo. Entre um trabalho e outro, ele escreveu a palestra-teatro “O Rei dos Brinquedos”, para o amigo Luiz Fernando Guimarães. Palestra-teatro? Como assim? “Ele faz muitos trabalhos para o universo corporativo. Nesse caso é uma palestra motivacional. Mas queria algo mais moderno, leve, sem a cara de uma palestra tradicional em que as pessoas ficam uma hora e meia escutando alguém falar. Essa palestra conta a história de um cara que faz sucesso com uma fábrica de brinquedos. Falamos do mundo corporativo, é claro, mas sem ranço”, adianta Cacau. “Quero transformar em teatro”.
E mais outra: Cacau está às voltas com a segunda temporada de “Dra. Darci”, sitcom exibido pelo Multishow desde junho do ano passado, com Tom Cavalcante e Fabiana Karla nos papéis principais. Ele faz parte do time de roteiristas do programa, que conta a história de um psicanalista que fecha seu consultório devido à crise financeira no país e passa a atender seus pacientes em casa. O doutor aceita trabalhar numa rádio respondendo perguntas dos ouvintes, mas, graças a um erro do locutor, é confundido com uma mulher. Com o sucesso, vem a exigência de manter a farsa. Daí nascem a doutora Darci e as confusões habituais geradas por esse tipo de situação.
Ele também está escrevendo seu primeiro livro infanto-juvenil, “É Normal Ser Diferente”. Mas confessa que, agora, gostaria de dar uma parada e criar algo para si próprio: “Sempre escrevi para muitas pessoas, agora tenho vontade de fazer algo para mim. Não sei se consigo, pois visualizo o outro atuando e, na hora da leitura, sai direitinho, do jeito que pensei”, explica. Sobre as múltiplas atividades, ele conta: “Sou muito agitado. Quando me descobri autor, o lado ator foi diminuindo. Eu era muito ansioso com testes, queria fazer todos, não podia ficar parado. Hoje não fico mais ansioso, quando aparece trabalho de ator eu faço”. E dispara: “Vou começar a filmar como ator ‘O Eu Imaginário’ e também pretendo trabalhar com a Gotsha, em qualquer coisa, menos musical”.
Outra: foi autor do especial da Rede Record para o fim do ano batizado “O Figurante”. O texto tem parceria com Chico Amorim e a direção ficou por conta de Ivan Zettel. Estrelado por Eri Johnson, com Bemvindo Sequeira, Giuseppe Oristânio, Pérola Faria, Inez Galvão e Angelina Muniz no elenco vai entrar na grade para 2020.
E o merecido descanso? “Eu não sabia que, nesse momento da minha vida, faria tanta coisa. Não quero mais isso, fico estressado. Não sou do tipo que faz de tudo todo dia: trabalho em uma coisa só por dia”, desabafa. “Mas sei que vou acabar de dizer isso e começar um projeto novo”.
Alguém duvida?
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