*Por Rafael Moura
O espetáculo O Cavaleiro Amarelo, da Multifoco Cia de Teatro, aborda, a partir da epidemia do vírus na década de 1980, estigmas, preconceitos e consequentes alterações nas trocas sociais. A peça fica em cartaz até o dia 7 de abril, no Teatro Laura Alvim. “O espetáculo surgiu de um edital do Sesi para novas dramaturgias. É um tema de interesse público que despertou um grande envolvimento da companhia. Mergulhamos nas pesquisas sobre o assunto e as relações sobre o indivíduo”, explica o diretor Ricardo Rocha.
O texto inédito de Felipe Pedrini foi escrito em 2016 e traz à tona investigações acerca da epidemia do vírus HIV, a partir de meados da década de 1980. Buscando combater a desinformação sobre o vírus e desvincular estigmas que o relaciona à população homoafetiva, o texto também se insere na luta pela garantia de direitos LGBTQI+. “Eu troquei muitas ideias com o autor, porque esse texto foi escrito em 2016 e queríamos atualizar tirando desse imaginário marginal”, conta o diretor.
“Diante das constantes agressões sociais, do retrocesso das políticas públicas e do cinismo por trás dos argumentos, tocar em temas como o HIV e AIDS é como remexer algumas páginas da nossa história e memória na intenção premente de evitar o esquecimento das lutas e das conquistas em determinados eixos sociais da população. Nossa principal motivação é quebrar os estigmas que fazem crer que toda pessoa infectada pelo HIV está doente e à beira da morte. Imagens que foram construídas durantes anos de desinformação e campanhas truculentas que só faziam aumentar o preconceito com soropositivos. O HIV é um vírus resistente às defesas naturais do corpo humano e, como qualquer vírus, possui um tratamento”, afirma Ricardo, diretor da companhia, que contou com a consultoria de um soropositivo no processo de montagem e fez parceria com o Grupo Pela Vidda, que em 2019 completa 30 anos de atividades ininterruptas.
Ricardo conta que procurou trazer uma aproximação para esse espetáculo. A nossa sociedade é muito festiva e para afastar esse lado trágico que até flerta com a morte. “O HIV é um tema cheio de preconceitos, por isso mergulhamos nessa nessa realidade do soropositivo. É um texto que irá levantar essa bandeira para que os estigmas. Queremos abrir esse debate sobre o tema”, e completa: “o momento chave da peça é quando os atores debatem com o público e esclarecem dúvidas. Queremos trocar informações com as pessoas. É um espetáculo campanha. Um marketing social totalmente engajado com a causa”.
O programa do espetáculo é uma cartilha com dúvidas e informações de prevenção. “Estamos querendo com a ONG Grupo Pela Vidda fazer a testagem após as apresentações. Aos sábados trazemos mesas com especialistas. A obra é um estopim para esse alerta”, comemora o diretor. Ricardo conta que o o público é bem atuante. O tema é ainda um tabu, uma nuvem. O público participa como ouvinte para entender e aprender mais sobre o tema. “No fim do espetáculo, eles trocam ideias com a equipe, querendo saber mais. A resposta do público tem sido muito positiva, assim como, dos militantes, ativistas, soropositivos e até de leigos. Recebemos muitos depoimentos afetuosos. É uma forma teatral de militar”, explica.
“A metáfora neste espetáculo está subjetivamente associada à ignorância, que é capaz de matar muito mais do que qualquer vírus. Hoje o Brasil é referência no tratamento de HIV através das políticas públicas gratuitas, e conseguimos exportar nossos métodos de tratamento e gerenciamento para o mundo. Ao lado da França e da África do Sul, compomos o tripé que possui tratamento gratuito para HIV e Aids. Os estigmas são muitos e precisamos combatê-los, impedindo que esse cavaleiro amarelo da ignorância continue levando mais vidas”, conclui Ricardo.
SERVIÇO:
“O CAVALEIRO AMARELO”
Até 07 de abril de 2019
Horários:
Sextas e sábados às 20h / Domingos às 19h
Teatro Laura Alvim – Av. Vieira Souto, 176 – Ipanema
Tel.: (21) 2332-2015
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