*Por Brunna Condini
Com todas as dificuldades do setor artístico para retomada dos trabalhos diante do cenário de pandemia dos últimos dois anos, Paloma Bernardi tem feito do seu ofício um ato de resistência e de constante busca por novos caminhos de realização. Apesar dos impactos sentidos, a atriz não parou de trabalhar e sonhar com dias melhores, tanto que, agora, se une a 30 atores, entre eles Virgínia Cavendish e Bruna Guerin, para colocar em cena um espetáculo para fazer refletir. Em ‘Terremotos‘, que traz para cena temas como o colapso ambiental e a depressão feminina pré-parto, ela faz uma mulher grávida em crise sobre o destino de seu bebê neste mundo caótico. Nada mais atual. “É contraditório para mim, porque tenho o desejo de ser mãe, e minha personagem quase rejeita a criança que espera, não vê o filho com certezas, mas com dúvidas, que é o que uma depressão neste estado faz. Tem mexido muito comigo”, conta a atriz, que namora o também ator Dudu Pelizzari desde 2018.
Conectada aos novos tempos, ela destaca que o novo trabalho joga luz sobre a questão da importância do cuidado com a saúde mental. “Sou ansiosa por natureza, e vivendo essa nossa nova realidade, as crises de ansiedade se potencializaram, dentro do meu coração, da minha cabeça”, revela. “O que me ajudou foi buscar o autoconhecimento, comecei a fazer terapia na pandemia. Foi a melhor coisa que fiz, porque se conhecer ajuda muito a lidar com as questões de ansiedade, desespero, pânico, depressão, solidão, carências, dificuldades afetivas, profissionais. Vamos aprendendo a domar essas emoções para não atrapalhar nosso dia a dia. Quem está aqui hoje, depois destes dois anos para contar essa história, é sobrevivente”.
Paloma conta que a sua fé ter permanecido inabalável também ajudou. “Sou católica e devota de Nossa Senhora Aparecida. Respeito todas as religiões, acho que todos buscamos um Deus comum, por caminhos diferentes. Minha vida é baseada na fé. Me conforta, me traz paz e me ajuda a tomar decisões. Mentalizo a minha vida, dos meus, da humanidade. Quando vemos uma catástrofe como a que aconteceu em Petrópolis, não tem como não nos conectarmos com essas pessoas que perderam tudo, suas casas, seus parentes, seus amigos, através da fé, da caridade, da solidariedade. Sou madrinha de alguns projetos sociais, e quando acontece uma coisa como essa, não tem como ficar de mãos atadas, também me mobilizei. Procuro usar minha visibilidade para mobilizar as pessoas para causas importantes, pertinentes”.
Resistência e potência
O espetáculo que estreia em 5 de março, no Teatro do Sesi São Paulo, no Centro Cultural Fiesp, cumpre longa e gratuita temporada, até 12 de junho, trazendo um texto inédito ao Brasil do dramaturgo inglês Mike Bartlett, com direção de Marco Antônio Pâmio. A atriz exalta a importância do incentivo à cultura para formar plateias e cidadãos. “Não é só sobre lazer, entretenimento, também faz refletir, gera muitos empregos. E além de tudo, a arte educa seu povo. Antes de querer ser atriz, me eduquei através da arte, e assim pretendo fazer com meus filhos. Que seja assim para todos, mas para isso, investir é preciso. O Amir Haddad diz uma coisa linda: “Todo ator conta histórias da humanidade”. É isso que somos, refletimos no palco os nosso temas. Isso é uma maneira de fazer as pessoas olharem para a arte como algo que transforma, potencializa o futuro”.
“Você pode viver a arte independente de ser contratado de algum lugar ou não”, argumenta Paloma, que participou de sua última novela em 2017, na Record, e de lá para cá, vem atuando no streaming e no teatro, como tantos atores. “O crescimento dos canais das plataformas de streaming geram muitas oportunidades, precisamos enxergar isso. Tem público para todos os gostos, em todos os segmentos. Abre espaço para todos que vivem da arte e da cultura, também nos bastidores, as equipes”.
Filme sobre relações abusivas
O filme ‘Ninguém é de Ninguém’, que será lançado este ano, baseado no bestseller de Zíbia Gasparetto, conta a história de dois casais, Gabriela (Carol Castro) e Roberto (Danton Mello) e Dr. Renato (Rocco Pitanga) e Gioconda (Paloma Bernardi), que vivem vidas estáveis até o momento em que seus destinos se cruzam. A história dirigida por Wagner de Assis narra a trajetória das famílias marcadas por situações de abuso, paixão e ciúmes que produzirão consequências até depois da morte. “O filme trata da espiritualidade e de relações abusivas. Relacionamentos tóxicos. A minha personagem, a Gioconda, é uma mulher linda, rica, forte, mas é uma pessoa tóxica. Não percebe que sua mente é sua pior inimiga, que a impede de viver uma relação mais saudável. Isso cai no tema da saúde mental, que se as pessoas não cuidam têm perdas nas relações, nos trabalhos, vai minando qualquer situação. A mente é a pior inimiga quando estamos abalados”, analisa.
“Acho que todo mundo, de alguma forma, dentro de uma relação amorosa ou de trabalho, já passou por algo abusivo. Passamos por situações assim em grande ou pequena escala, tanto que muitas vezes nem percebemos. Quando estamos dentro, não configuramos como uma situação tóxica. Eu também já vivi isso e precisei de ajuda, dei um basta por mim, por amor próprio. É algo que todos estamos sujeitos a viver. Por isso é tão importante o autoconhecimento, a busca deste equilíbrio mental, espiritual e emocional”.
Artigos relacionados