Tudo tem um lado bom, até mesmo depois de uma doença a gente consegue sair fortalecido e com mais esperança, por exemplo. É nesta ideia que o espetáculo “O Som e a Sílaba” de Miguel Falabella estreia em São Paulo. No palco, Alessandra Maestrini interpreta uma menina autista que sai de um mundo particular e invisível e passa a desbravar a vida através da voz. Em um repertório guiado do grave ao agudo, a atriz e cantora tem a ópera como engrenagem narrativa do texto escrito exclusivamente para ela. “Eu faço uma menina que tem Síndrome de Asperger, que é um autismo de alta funcionalidade, e que tem como genialidade a ópera. No espetáculo, eu divido a cena com Mirna Rubim que interpreta a professora de canto que consegue tirar essa menina de um mundo invisível”, contou Alessandra que também destacou o apoio que tem recebido de Mirna fora do palco.
No entanto, não é apenas esta parceria de Alessandra Maestrini com Miguel Falabella – que já vem desde os tempos de “Toma lá da cá” – e Mirna Rubim que tem abrilhantado a carreira da atriz e cantora. No mês passado, Alessandra ganhou o Prêmio da Música Brasileira na categoria Melhor Álbum de Língua Estrangeira por “Yentl em concerto”. O trabalho, que foi reconhecido na noite que homenageou Ney Matogrosso, é resultado de uma parceria simples, mas luxuosa, de Alessandra e o pianista João Carlos Coutinho.
Segundo ela, o álbum existe apenas por um desejo pessoal da atriz de guardar de forma concreta o espetáculo que originou o disco. “Quando eu estava fazendo a turnê do meu show Drama n’Jazz, eu gostava de aquecer a voz cantando ‘Papa, can you her me?’. Essa é uma música que tem uma extensão absurda, exige extrema delicadeza e, ao mesmo tempo, um vigor. Então, eu me preparava com essa música porque se eu estivesse bem com ela, estaria pronta para qualquer outra”, lembrou.
Depois de algumas experiências com a música, ou tema de seu aquecimento vocal, Alessandra Maestrini contou que decidiu ampliar seu setlist pré-show. “Decidi pegar do mesmo repertório para me ajudar e, quando eu percebi, estava com um espetáculo pronto. Só que, como eu não tinha nem tempo e nem dinheiro, decidi que iria fazer apenas eu, um piano e uma poltrona”, contou a atriz que, nesta proposta, se uniu a João Carlos Coutinho e ao amor à arte para o resultado da ideia. Aliás, essa é uma mistura que tem garantido a sobrevivência da arte brasileira em tempos de crise, como apontou Alessandra. Com apenas uma poltrona e um piano, a atriz e cantora encantou, emocionou e foi premiada pelo trabalho. “Quando o artista tem conteúdo no palco e comunicação com o público, não precisamos de mais nada. Em alguns casos, é extremamente necessário que haja uma estrutura. Mas em ‘Yentl’ não é o caso”, analisou.
Mesmo assim, Alessandra Maestrini se junta ao coro da classe artística que lamenta a atual situação cultual brasileira. Porém, embora reconheça a crise, a atriz também destacou outro ponto que tem se fortificado em meio ao caos: a parceria entre os artistas. Cada vez mais, os personagens reais da nossa cultura unem forças para manter a chama acesa. Prova disso, por exemplo, foi a última edição do Prêmio da Música Brasileira, que reconheceu o trabalho de Alessandra Maestrini e ocorreu sem recursos e na base da amizade. “É triste ver esse cenário. Porém, ao mesmo tempo, é bonito ver que o amor continua realizando projetos. Isso acalenta o nosso coração e nos dá esperança. Fora que isso nos lembra que, com vontade, é possível realizar qualquer projeto”, argumentou a atriz e cantora Alessandra Maestrini.
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