O negócio é amar: A maturidade nos faz mais experientes ou vulneráveis?


Nesse artigo, Alexei Waichenberg pondera: “A chance de acertar é boa, afinal ninguém, a essa altura, vai apostar tudo que tem no pleno, de 1 a 36. O que vale é o frio na barriga, a vontade de encontrar, comidinha juntos, drinques que dormem conosco na cabeceira, rir de bobeira, jogar conversa fora”

Ilustração (feita exclusivamente para essa crônica), assinada pelo artista plástico Leandro Figueiredo, atualmente morando no Porto, em Portugal

“Tem gente que ama, que vive brigando e depois que briga acaba voltando… Tem quem ama tanto que até enlouquece e tem quem dê a vida por quem não merece. Tem gente que escreve até poesia, que rima saudade com hipocrisia… mas não interessa o negócio é amar”. Esses versos da canção do Carlinhos Lyra sempre me ocorrem quando identifico em mim qualquer coisa que me diga que estou pronto para amar de novo ou pra sofrer como o cachorro que caiu da mudança.

Par ou ímpar?

Não interessa, o negócio é amar.

A maturidade nos faz mais experientes ou mais vulneráveis?

Sei lá. Acho que nos faz mais temerosos. Mesmo assim, acho que já temos que temer por tanta coisa, que amar e ainda correr o risco de ser surpreendido pelo amor do outro, é quase como jogar no preto ou no vermelho da roleta. A chance de acertar é boa, afinal ninguém, a essa altura, vai apostar tudo que tem no pleno, de 1 a 36. O que vale é o frio na barriga, a vontade de encontrar, comidinha juntos, drinques que dormem conosco na cabeceira, rir de bobeira, jogar conversa fora.

Não precisa andar de gôndola, pode ser um Netflix com suspiros, não precisa fazer promessas, pode ser um carinho inesperado no elevador, não precisa café na cama, pode ser um encontro de olhar, disfarçado. Não precisa de clichê, pode ser um beijo nas costas ou os pés que se enlaçam, sem querer. Não precisa postar nas redes, o cheiro grava e a mão escapa.

Amar é jogo pronto, quem perde ganha, quem banca apanha. Melhor é deixar rolar, é estar na mesa. Um par ganha de quem não tem nenhum. Zerinho ou um, passa anel e o que deixamos ontem, queremos amanhã.

Só te digo uma coisa, a gente volta ser criança, nada aborrece muito, a pele estica, o gozo é fácil e a vertigem assusta.

Voltando ao Lyra, “tem amor de raça e amor viralata, amor com champanhe e amor com cachaça, amor nos iates e nos bancos de praça… tem assunto à beça pra gente falar, mas não interessa o negócio é amar”.

*Alexei Waichenberg, jornalista que bota Lyra pra tocar.