O intenso ritmo de Alice Ripoll chega ao Teatro Cacilda Becker no espetáculo “Suave”, com direito a aulão gratuito no projeto “Ocupa Cacilda!”


O grupo, que já se apresentou em festivais na Europa, fará performances para mexer com o imaginário do público. “O passinho é um ritmo expressivo. Dez minutos de dança condensam muita história”, analisou Alice

A partir de amanhã e até o dia 4, o Teatro Cacilda Becker receberá o espetáculo “Suave” no projeto “Ocupa Cacilda!”, que reúne atividades e espetáculos diversificados. Enquanto a sexta-feira e o sábado serão dedicados a apresentações do grupo, no domingo os dançarinos ministrarão um aulão gratuito de passinho no teatro. O “Suave” nasceu de um convite do Festival Panorama em 2014. Além do passinho da coreógrafa Alice Ripoll, o projeto “Entrando na Dança” contava com aulas de hip hop ministradas por Renato Cruz na Pavuna, e charme, de Sonia Destri, em Madureira. O grupo que ensaiava na Arena Carioca Dicró deu tão certo que, em agosto, Alice foi com 10 jovens do Complexo do Alemão para uma turnê de um mês em festivais de dança na Holanda, Alemanha e Suíça. “O convite surgiu de uma apresentação no Festival Panorama. Um curador da Holanda estava assistindo e nos chamou para festivais em Zurique, Hamburgo e outras cidades europeias”, contou Alice.

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O espetáculo “Suave” já rodou em turnê por festivais da Europa e agora estará no Teatro Cacilda Becker (Foto: Divulgação)

A coreógrafa definiu o espetáculo de 50 minutos como “abstrato”. “É dança contemporânea com passinho e elementos teatrais. Tentamos abordar o imaginário do público. Dança é abstrata, mas há uma tentativa de mostrar a expressividade só passinho, um ritmo que comunica tanto em pouco tempo e espaço. Dez minutos de dança condensam muita história”, analisou ela, que aprendeu o ritmo para o projeto. “Não virei dançarina de passinho, mas dirigia, então aprendi o básico para coreografá-los”, ressaltou. Ainda assim, se rasga em elogios. “O legal desse ritmo é que ele é bem informal, não há compromisso com a técnica, isso traz muita riqueza. Cada um interpreta o passo de uma maneira e faz do seu jeito”. De fato, a mistura de samba, frevo e kuduro é democrática, tanto que qualquer um pode frequentar as aulas.

O aulão no “Ocupa Cacilda!”, inclusive, ressalta ainda mais isso. Ministrado pelos dançarinos do espetáculo, mesmo quem não tem experiência pode participar. “Eu vou acompanhar, mas eles darão a aula, porque é bem específica sobre passinho, então faz mais sentido. Eles vão ensinar o conteúdo que aprenderam e inventaram na rua. Qualquer um pode ir”, disse. Essa é a primeira apresentação grande do grupo após a experiência internacional e as expectativas da coreografa são as melhores possíveis. “É o mesmo trabalho, só que mais afiado, com eles mais maduros e uma excelente oportunidade de apresentar mais pelo Rio”, avaliou. A turnê na Europa só trouxe bons frutos. “Foi intenso para eles e para mim também. Muito trabalho e mudando de país, montando e desmontando o espetáculo em vários palcos, ensaiando. Alguns do grupo nunca tinham saído nem do Rio de Janeiro e os lugares são muito ricos culturalmente. Apesar de haver um certo choque nesse sentido. Para os europeus tudo é muito novo, uma qualidade diferente, uma apresentação solta, de interação com a plateia”, contou Alice.

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O grupo apresenta coreografias no ritmo do passinho, que mistura danças como frevo, samba e kuduro (Foto: Divulgação)

Ainda assim, Alice garante que a recepção foi a melhor possível. “Eles ficaram impressionados com a informalidade e a quantidade de vida”. Ela, que chegou a fazer faculdade de psicologia e entrou na dança para entender melhor expressão corporal, usa a psicanálise como base em seu trabalho. “Atuo diretamente no mercado há 10 anos. Estudei na Angel Vianna e a minha relação começou até meio tarde. Fui como estudante de psicologia para conhecer abordagens corporais e acabei me apaixonando, me encontrando na dança”, contou. Apesar de não ter se formado na faculdade, acredita que as áreas se cruzam mesmo que remotamente. “O que me ajuda nesse sentido é estar em análise, isso certamente tem muito a ver. A faculdade em si não, mas a psicanálise tem uma base profunda no meu trabalho”.

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Durante o projeto “Ocupa Cacilda!” haverá um aulão gratuito para os interessados no ritmo (Foto: Divulgação)

A dança contemporânea, de acordo com ela, é para onde sempre volta. Diretora da “Cia de Dança R.E.C”, já tem outros projetos: “Vamos reapresentar ‘BÔ’, no Projeto Dança Gamboa. E estou preparando um espetáculo ligado ao público infantil para o Festival Panorama 2015. É um desafio, minha primeira vez para este público. A ideia surgiu por que mesmo com os trabalhos adultos, quando vão, as crianças sempre gostam e se identificam”. Vindo de quem coreografa espetáculos de ritmo solto e já levou 10 jovens do Complexo do Alemão para turnê na Europa, desafios não parecem amedrontá-la.