Ator, dramaturgo, mas, no momento, dedicado à direção teatral, Sérgio Modena, que é formado pela Unicamp e École Philippe Gaulier, em Londres, estrá em cartaz com a peça “Esse Vazio”, que estreou na última semana. O espetáculo conta a história de um grupo de amigos que se reencontra após a morte de um deles. O quarteto se separou com o tempo quando um deles foi morar na cidade grande, enquanto os outros três permanecem no interior. Durante o velório, os personagens refletem sobre as escolhas e os valores traçados ao longo desses anos que estiveram separados. “O espetáculo mostra em 55 minutos o vazio de cada personagem. Todos nós temos, em uma medida maior ou menor, esse certo espaço não preenchido. Não importa se você está numa cidade do interior ou em uma cidade grande, você sempre se depara com essa falta. Essa é a premissa do espetáculo”, disse Sérgio ao HT.
O texto da peça é do argentino Juan Pablo Gomez e foi apresentado a Sérgio Modena pelos produtores do espetáculo Daniel Dias e Gustavo Falcão. “Eu me apaixonei pela obra. Ao mesmo tempo que é muito simples de ideia, ela consegue ser muito complexa ao tratar das relações humanas”, disse. Segundo o diretor, o público que assistiu as três apresentações do último fim de semana saiu emocionado e envolvido com a história. Sérgio acredita que a eminência da morte é a principal causa desse envolvimento da plateia. “Depois das apresentações, a gente percebe como as pessoas se sentem tocadas e se reconhecem nos personagens em algumas medidas. Eu acho que todo mundo se identifica nessa fragilidade, porque nós não sabemos muito o que fazer diante da morte”, explicou.
E essa conexão verdadeira entre quem está nos palcos – ou bastidores – e quem está na plateia é o mais prazeroso, segundo Sérgio. “Essa comunhão do público com o artista é uma alegria inexplicável. Eu acho que só quem faz teatro ou quem trabalha com arte tem essa experiência”, disse. Para o profissional do teatro, segundo Sérgio, essa comunicação é vista como um sucesso de espetáculo. De acordo com ele, muitas vezes essa conquista não está atrelada a uma boa bilheteria, por exemplo. “Eu já vi muita peça excelente que não teve um bom público e peças ruins que tiveram sessões lotadas. Para um artista, o sucesso é quando você se sente realizado por aquilo que está fazendo, com uma obra que, de fato, atende às expectativas dele”, argumentou. E, para os jovens atores, Sérgio Modena sugere que sigam o caminho da realização pessoal para buscar o reconhecimento. “Acredite naquilo que você está fazendo e não naquilo que acha que pode agradar as pessoas. Se pensar nos outros antes, você não vai estar sendo sincero consigo mesmo. Faça aquilo que você acredita, porque os artistas são diferentes uns dos outros. Então, fazendo a sua verdade, você vai estar fazendo um tipo de teatro. E é importante que nós tenhamos vários tipos de conduzir a arte, várias cabeças pensando dentro do meio”, aconselhou o diretor. Recado dado, leitores?
Sérgio, que começou no meio como ator e hoje ocupa a cadeira de diretor, se considera otimista em relação a nova cena cultural. Para ele, principalmente no Rio de Janeiro, onde tem mais contato, há um movimento de novos atores e dramaturgos surgindo. “Novos caminhos estão sendo percorridos e buscados. E eu vejo essa renovação na cena carioca. Porém, o momento difícil que estamos vivendo no Brasil prejudica muito a cultura. Estamos em uma guerrilha, em um ato de resistência. Esses novos talentos ajudam a reforçar isso, que é preciso persistir nessa profissão”, explicou. E é do poder público que vem a maior dificuldade da arte teatral brasileira. Como nos contou, além da falta de recurso, a ausência de educação da sociedade reverbera na produção cultural. “No Brasil, lidar com o baixo estímulo do governo é uma questão gravíssima. Nós deveríamos ser atendidos pelo poder público. Hoje em dia, o artista que consegue é aquele que persevera e supera essas dificuldades”, desabafou ao HT.
E toda essa situação política e econômica que estamos vivendo renderia uma boa peça de teatro. Assim como fez em 2014 com a Revista de Ano produzida por Ana Veloso em que levava aos palcos em forma de comédia a derrota do 7 a 1 para a Alemanha na final da Copa do Mundo, Sérgio reconhece que o atual panorama brasileiro também resultaria em um bom espetáculo. “É um ano muito conturbado e cheio de reviravoltas. Nenhum roteiro de seriado dá conta do que a gente está vivendo no país ultimamente, seja no campo político, econômico ou social. Então, é um prato cheio para fazer uma Revista de Ano. Porém, nós estamos vivendo um momento muito crítico. Então, precisaria saber bem de que forma seria abordado esse assunto”, disse Sérgio. Embora ele tenha afirmado que não há planos para essa produção, fica aqui uma montagem a ser pensada, né diretor?
Sérgio Modena também está em cartaz com a peça “Como Me Tornei Estúpido”, no Shopping da Gávea até o fim deste mês e, em setembro, volta ao Rio de Janeiro com o espetáculo premiado “Ricardo III”.
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