Carnaval cancelado não garante conscientização de foliões

No Estado do Rio temos 16 milhões de fluminenses à espera da vacina. Apenas na capital somos quase 7 milhões. Ainda que pegássemos supostamente todas as doses liberadas neste momento pela Anvisa e trouxéssemos para o Rio não seria suficiente para termos uma população completamente imunizada. Não há como fazer, portanto, carnaval no meio do ano. Os prognósticos desde o início para a produção da vacina eram os piores. A maioria dos cientistas e médicos brasileiros alertava sobre a inconsequência de se agendar grandes eventos diante da pandemia do Covid-19, em que qualquer previsão é invalidada a cada instante, conforme a dinâmica de transmissão do novo coronavírus.

Há duas categorias de foliões no cenário dos debates que animam redes sociais e rodas de conversa. Aqueles utópicos, que pregam conscientização e acreditam em carnaval com distanciamento social e uso de máscaras e álcool em gel, até mesmo nos barracões de escola de samba. E os distópicos, esses que creem na cloroquina e na ivermectina como imunizantes capazes de impedir a contaminação no céu, no mar e na terra. É o grupo que vem comprando passagem área promocional para curtir o recesso da folia em fevereiro em algum canto no Nordeste. Ou que já se organiza para pegar aquela prainha com a família na orla carioca. Ou então que planeja lacrar pulando em bloquinhos de negacionistas pró-Bolsonaro. Engana-se quem acha que teremos paz e conscientização foliã. O carnaval em julho foi cancelado. O que aconteceria mês que vem há muito, mas o feriado, não.

O Brasil é um dos poucos países do mundo que continua recebendo turistas sem quaisquer restrições, com gente morrendo por falta de oxigênio. Por outro lado, a pressão já exercida por redes hoteleiras, associações comerciais, de bares e restaurantes e, sobretudo, pelos profissionais do carnaval requer que sejam adotadas medidas de compensação financeira de forma célere. Eduardo Paes anunciou a criação de um programa de fomento ao setor, que será coordenado pela Riotur em conjunto com a Secretaria Municipal de Cultura.

A experiência com ações de socorro aos trabalhadores da cultura não tem sido nada boa. A execução da Lei Aldir Blanc foi caótica na maioria dos estados e municípios brasileiros. Não há notícias por enquanto do saldo final. O Rio, historicamente, sempre teve expertise em organizar o maior espetáculo da terra. Apesar da crise, pode agora provar também competência para administrar um projeto de auxílio emergencial aos que, hoje desempregados, internacionalizam a cultura inigualável da cidade.