O amor tal qual uma droga: “passa a exaltação e vem o buraco, a depressão, a necessidade de mais”


Neste artigo, Alexei Waichenberg revela: “Construo castelos, derrubo os escombros da tragédia e crio o idílio, porque ainda posso escrever”

Ilustração (feita exclusivamente para essa crônica), assinada pelo artista plástico Leandro Figueiredo, atualmente morando no Porto, em Portugal

Ilustração (feita exclusivamente para essa crônica), assinada pelo artista plástico Leandro Figueiredo, atualmente morando no Porto, em Portugal

*Por Alexei Waichenberg

“Sim, eu poderia fugir, eu poderia partir, eu poderia morrer (T) de dor,  e me serenizar”, mas,

O amor é uma droga. Se ele não me matar, eu vou morrer de velho, vou morrer da droga, eu vou morrer de amor”.

Noutro dia, quando já nem mais acreditava em voltar a amar, eu convidei meu Fidélio, um jovem nobre, defensor da liberdade, para vir dividir minha casa comigo. Ele avisou que vinha, mas que não traria o amor na bagagem. É muito peso mesmo, pensei. Mas o tempo passou, ele comprou novas vestes e mostrou um amor novo. Não era um novo amor, mas uma contrapartida, um tijolo que, só faria sentido porque tenho aqui muito cimento. E eu sou ciumento. Construo castelos, derrubo os escombros da tragédia e crio o idílio, porque ainda posso escrever. Esse amor novo me trouxe esperança.

Mas o amor é uma droga, passa a exaltação e vem o buraco, a depressão, a necessidade de mais. E mais eu não tinha, mais eu não tenho para dar.

Vivo cá viciado no meu álcool, nas minhas letras, no tabaco. Nem posso sair, não me permito sair de mim, deixar meu amor de lado, ser quem eu nunca fui. Sou inábil, débil, sou, sem saber quem sou. Marco tudo, investigo, perdoo.

Sou grande, sou forte, mas sem saber quem sou. O frio gela a sola dos meus pés. Trago o aquecedor para perto, e você? Onde está? Onde esteve? Onde vai estar quando eu voltar?

Vou embora de mim, vou ver a minha gente, vou te deixar livre para não me esperar, mas vou olhar em volta para ver se te encontro, no seu olhar perdido, no seu olhar vidrado, no seu olhar maneiro, de compreensão, de cumplicidade, do amor de amanhã.

Vou deixar a casa vazia, vou deixar para você, mas te peço, não invade o espaço do meu amor. Me deixa dormir tranquilo. Sobe, desce, empina, mistura, descuida, mas me cuida, te cuida vai.

Deixa o meu espaço sereno, deixa o meu amor moreno, para mim.

“Eu poderia ficar como uma casa vazia…, mas quero as janelas abrir, para que o sol possa vir iluminar nosso amor”. Ah, minha gente! O amor é uma droga.

*Alexei Waichenberg, jornalista que não entendeu porque fala de amor e ouve Nana Caymmi a cantar Tom Jobim e chora, chora, chora…..