Ana Beatriz Nogueira tem quase três décadas labutando como atriz. No currículo, novelas como “Anjo Mau”, “Celebridade”, “Ciranda de Pedra”, “Caminho das Índias” e por aí vai – somando, ainda, prêmios vários: Festival de Berlim, de Nantes e de Brasília são alguns deles. O que a faz, portanto, ter o que aqui chamaremos de voz de celebridade, aquela que, com apenas uma palavrinha, consegue contagiar uma massa inteira – que, às vezes, não sabe da missa, a metade. Em tempos de polarização política, nomes como Chico Buarque, Glória Pires, Caetano Veloso e companhia ilimitada vieram à público defender seus ideias políticos. O que faz Ana Beatriz feliz. “Que todos aqueles que são formadores de opinião como os atores conhecidos do público, se posicionem e façam parte desse movimento a favor do país”, disse em entrevista ao HT.
Enquanto Brasília pega fogo – para tristeza de muitos, no sentido conotativo -, a atriz embarca para a Ilha de Vitória dando continuidade a turnê da peça “Tudo que eu queria te dizer” nos dias 16 e 17 deste mês no Teatro Universitário. Nesse monólogo, inspirado no livro homônimo de Martha Medeiros (lançado em 2008, a obra vendeu mais de 100 mil exemplares), Ana Beatriz encarna cinco mulheres lendo cartas remetidas por elas próprias. Em comum? Todas têm apenas a vontade de expor seus sentimentos, em situações distintas, que divertem e emocionam. O projeto, segundo Ana, é um “desafio”, já que “não contracenar é algo solitário”. Para a deixar em boa companhia, portanto, compartilhamos suas palavras com vocês, leitores. Para já.
HT: A peça tem duas particularidades: é um monólogo e estruturada em cartas. O que esses dois aspectos dificultam ou facilitam na hora de passar mensagem? E na sua performance enquanto atriz?
ABN: Um monólogo é sempre um desafio para o ator. Não contracenar é algo solitário. Preciso estar mais concentrada do que normalmente. E o gênero “cartas” é um estilo novo para mim, mas como são cinco personagens diferentes, em cada carta mudo os trejeitos e a fala. Se torna um grande exercício, então.
HT: As cartas escritas pela Martha, e que são lidas por você, são chamadas por ela de “essas loucuras domesticadas que às vezes se rebelam”. Que loucuras são essas?
ABN: São todos os nosso questionamentos. Envolvem amor, paixão, traição, desejos reprimidos, sentimentos diversos que por vezes temos dificuldade em levarmos à tona.
HT: E quais são suas loucuras domesticadas que às vezes se rebelam?
ABN: Sou super normal, me irrito no trânsito, me chateio ao ver o noticiário com tanta corrupção. As minhas loucuras são comuns!
HT: Já que você se chateia “ao ver o noticiário com tanta corrupção”, no Brasil, artistas têm um poder de persuasão muito grande. Recentemente, estamos vendo muitos se posicionarem sobre política publicamente. Qual seu lado?
ABN: Fico feliz e acho importante que todos aqueles que são formadores de opinião como os atores conhecidos do público, se posicionem e façam parte desse movimento a favor do país. Eu acho particularmente que a questão é muito complexa. Para mim, vai ter golpe ou não vai ter, é uma forma superficial e primária de exigir um posicionamento das pessoas, enquanto que não se debate a complexidade e as variáveis de um mesmo fato. O que eu quero realmente é que todos os corruptos caiam, não importando o partido, se é situação ou oposição.
HT: Você acha justo personalidades com peso forte influenciarem uma grande gama com suas opiniões ou é necessário ter a ciência do alcance de voz antes de tomar algum partido?
ABN: Acho justo sim. É o que uma democracia se propõe. Todos têm direito de expressar sua opinião. É claro que bom senso e informação são ferramentas importantes para que as pessoas se posicionem de maneira sensata e coerente.
HT: Ana, já são mais de 30 anos de carreira – muitos deles enquanto atriz de televisão, na grande mídia. Qual o balanço que você faz, tendo em vista que a realidade da maioria dos atores do país não é a mesma que a sua?
ABN: Tenho muita sorte de ter estado com grandes artistas e parceiros que permitiram que eu mostrasse um bom trabalho. Não se faz nada sozinho. A minha realidade é a mesma de tantos atores: levanto cedo, estudo muito, trabalho muitas horas por dia e tenho os mesmos medos e anseios a cada projeto.
HT: A próxima novela da Glória Perez – que você, aliás, está reservada – só vai estrear em abril de 2017. Você fica “presa” até lá. Não é um hiato ruim?
ABN: De jeito nenhum (ri)! É muito importante esse tempo. Descansamos a mente, podendo fazer outros projetos e ao mesmo tempo a imagem do personagem anterior vai ficando pra trás na memória do expectador.
HT: O que já sabe sobre sua personagem? Chegou a conversar alguma coisa com a Glória?
ABN: A Glória sempre me presenteia com personagens riquíssimos. Tenho certeza que dessa vez não será diferente. Porém até agora não tenho maiores informações, ainda é muito cedo. Apenas sei que estou reservada.
Serviço
“Tudo que eu queria te dizer”, de Martha Medeiros, com Ana Beatriz Nogueira
Direção: Victor Garcia Peralta
Onde: Teatro Universitário (UFES) – Avenida Fernando Ferrari, Vitória, ES
Quando: dias 16 (21h) e 17 de Abril (18h)
Informações: (27)3335-2953/ 3029-2765/ wbproducoes.com
Vendas: ingresso.com
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