*por Vítor Antunes
Mudança de nome. Para uma marca é algo significativo. Para uma empresa, idem. E para um artista, com mais de 10 anos de carreira e já identificado com seu nome original? Um desafio. E assim tem sido para Angel Ferreira (fala-se como Rangel, sem o R), anteriormente conhecido como Igor Angelkorte. “Fui experimentando outros heterônimos e brincando de assinar de outras formas. Comecei a brincar com meu nome e a de novo pensar que tem alguma coisa que morreu em mim nos últimos anos, algum estado de ser. Como uma lagarta que passa pela crisálida e se torna uma borboleta e já não se chama mais lagarta. Fui me desidentificando com o nome, inclusive com Igor, que é algo muito demarcado no gênero masculino”.
Tem um risco [que não me reconheçam com o nome novo], mas eu não tomo decisões fundamentais na minha vida com base no retorno financeiro. O fundamental é realmente ter um um nome que me lembra que eu posso ser muitas coisas. A possibilidade de mudança pertence a todos nós e é assim que a gente pode mudar. Inclusive o nosso nome. Fico curioso de ver o que essa mudança pode trazer para minha carreira – Angel Ferreira
O ator prossegue dizendo que “o senso comum diria que eu não deveria mudaria de nome justamente por ser conhecido assim, e que eu teria prejuízo financeiro. Mas eu espero que essa mudança traga abundância e bons frutos”. Ele explica que a decisão não foi tomada de forma impulsiva, mas como parte de um processo mais profundo de autoconhecimento e renovação pessoal. Para ele, a mudança de nome simboliza um marco importante em sua trajetória, representando novos começos e um alinhamento mais claro com seus valores e objetivos. “É um salto de fé e um convite para abraçar o novo com confiança e coragem”, frisa.
Na última semana se tornou público que a peça de Angel não ia bem de espectadores e que apenas 12 pessoas foram conferir a montagem que está em cartaz no Teatro Ipanema, no Rio. Angel ressalta que depois da publicação do vídeo no qual se queixava da pouca presença popular, houve uma melhora. “Houve um aumento na presença de público, sim. Aquele vídeo foi um ponto de virada. Agora a gente está enchendo a casa. Uma semana depois de 12 pessoas na plateia, hoje temos 120. É isso que eu tenho procurado fazer para manter a minha paz de espírito, procurando enxergar como uma oportunidade de colocar em prática tudo aquilo que eu aprendo com a própria peça, com o personagem. Ele está em busca da paz. Eu também”.
A peça fica em cartaz até o dia 15 e seguirá sua temporada em 2025 na Chapada dos Veadeiros (GO), onde será apresentada na Casa Candeia de Cultura. Fundado por Angel, o espaço cultural visa disseminar a cultura em Cavalcante, município com um dos menores IDHs de Goiás e que abriga o maior território quilombola reconhecido do mundo, o Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga.
Apesar das dificuldades iniciais, Angel reflete sobre o impacto de sua arte no público e nos territórios que ela alcança. Ele acredita que a peça tem o potencial de inspirar transformações, não apenas culturais, mas também sociais e emocionais. O ator reforça que o objetivo maior do projeto sempre foi criar conexões e levar esperança às comunidades por onde passa.
Para Angel, a montagem possibilita “olhar para todas as pessoas sem uma superioridade moral, mas como irmãos e irmãs e numa compreensão pacífica de tudo isso. Foi – e tem sido – um exercício de manter o meu coração aberto. Eu tenho um caderninho de agradecimento que eu escrevo às vezes quando pego ele passo 15 minutos, só agradecendo para me lembrar acima de tudo que eu posso agradecer por estar aqui e agora. Eu não imaginava que a peça fosse ganhar uma dimensão ainda maior de divulgação por conta dessa perseguição a ela”.
A perseguição a qual o ator se refere é a de que ele foi alvo – tanto dela como das duras críticas e escárnios nas redes sociais ao qual comemoravam o “insucesso da montagem”. “Era como se a baixa de público, de alguma forma, fosse algo a ser celebrado em razão de eu não apoiar o ex-presidente Bolsonaro. Esses discursos de ódio direcionados à minha peça são infundados já que não há em seu texto nada sobre a política brasileira contemporânea”.
Preparado ao longo de cinco anos, o espetáculo é ambientado na Índia no período de vida do Buda histórico e é livremente inspirado no livro homônimo de Hermann Hesse, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, que narra, de forma ficcional, uma viagem que o próprio autor realizou em sua juventude, abarcando temas de valor existencial e mergulhos na ambiguidade entre os polos sagrado-profano, sucesso-fracasso, prazer-privação, solidão-pertencimento. ‘Quero seguir fazendo a peça até eu ficar bem velhinho com muito amor no meu coração’, diz Angel.
O ator destaca que, apesar dos ataques, encontra força na mensagem da peça e no apoio dos espectadores que têm comparecido às sessões. Ele acredita que o espetáculo, ao explorar questões universais como a busca pelo equilíbrio e pela paz interior, transcende as críticas e reafirma o poder da arte como ferramenta de transformação. Angel também reforça que a intenção da peça nunca foi política, mas sim uma reflexão sobre a jornada humana, inspirando o público a encontrar suas próprias respostas. Para ele, o importante é continuar levando sua mensagem de esperança e resiliência, independentemente das adversidades.
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