“Sem cultura a gente morre de tanta realidade”. A frase é do personagem de Claudio Lins no espetáculo “Rio mais Brasil, o nosso musical”, em cartaz no teatro do Oi Casa Grande. Mas, também, poderia ser do próprio ator, de outros artistas e todos aqueles que acreditam que a cultura e a educação podem mudar uma sociedade. E é sobre isso que o musical idealizado por Gustavo Nunes quer falar no palco. Inspirado no livro “O Povo Brasileiro”, de Darcy Ribeiro e adaptado por Renata Mizrahi, “Rio mais Brasil, o nosso musical” conta sobre um projeto de filme da cultura tupiniquim que sofre com o corte de verba até não poder mais ser executado. Na função de Martin, o produtor da película, Claudio Lins tem a missão de conduzir a história que é alimentada com muita música, instrumentos e um elenco estelar, com Cris Vianna, Danilo Mesquita e mais 17 atores.
Em “Rio mais Brasil, o nosso musical”, a ideia é mostrar a pluralidade da nossa cultura nacional através da escolha do elenco para o filme fictício, que é contado no palco. Com a obra de Darcy Ribeiro como referência e inspiração, o personagem de Claudio Lins quer traduzir em sua obra para o cinema um Brasil jamais visto anteriormente. “O nosso povo está inserido no contexto do espetáculo através das cenas musicais e do que seriam as gravações do filme. Então, na ficção, ele acaba sendo a representação de um Brasil inteiro. Todas as regiões, cidades e sotaques aparecem no nosso espetáculo através da escolha dos atores desse longa”, explicou Claudio Lins.
Desta forma, o ator e cantor acredita que a essência do brasileiro seja representada pelo talento dos artistas de nosso país. “Sem querer, mas querendo também, a gente levanta a bandeira da nossa cultura e da arte brasileira como a grande salvação desta sociedade em crise. Pelo menos é nisso o que eu e a classe artística acreditamos. No entanto, não é nisso o que nossos governantes atrasados pensam, vide o que está acontecendo atualmente com a nossa cultura. Ao invés da arte ser realçada e utilizada como alívio às tensões, nós estamos acompanhando justamente o oposto disso”, analisou.
E é justamente o personagem de Claudio Lins em “Rio mais Brasil, o nosso musical” que tem a missão de contrapor a alegria da cultura brasileira com o cenário de desvalorização das produções. De acordo com o ator, este produtor de cinema da ficção está quase à beira de um ataque de nervos por causa de todos os obstáculos impostos à classe no Brasil. “Eu mostro através do Martin a burocracia absurda e a ignorância alheia dos poderosos que temos que passar nos bastidores. É uma luta o que esse produtor da ficção vive para transpor para o cinema um livro tão importante da cultura brasileira e escrito por alguém tão significativo como foi Darcy Ribeiro”, destacou Claudio Lins, que fala com autoridade no teatro sobre uma temática que conhece bem em sua carreira também. “Quando eu produzi o musical ‘O Beijo no Asfalto’, eu vivi tudo o que eu interpreto como Martin nesse espetáculo. É muito estressante a gente ter que lidar e depender de pessoas que trabalham com cultura, mas não entendem e nem valorizam a arte como nós que fazemos”, apontou.
Se por um lado a experiência dos atores ajuda no empoderamento do texto de Renata Mizrahi, a música também é uma super aliada da produção. No repertório, “Rio mais Brasil, o nosso musical” dá voz para os ritmos de todas as partes do país e traduz na trilha sonora, mais uma vez, a riqueza cultural do nosso povo. “A gente abre para todos os artistas brasileiras. Temos João Donato representando o Acre, Hermeto Pascoal e Djavan de Alagoas, Almir Sater do Centro-Oeste, Kleiton e Kledir do Sul, Boi-Bumbá e a festa de Parintins da região Norte e o funk e o passinho do Rio de Janeiro”, apontou alguns dos artistas contemplados no musical, que também tem Milton Nascimento, Caetano Veloso, Chico Buarque e Arlindo Cruz.
Por falar em um repertório que é a cara do Brasil, Claudio Lins contou que tem uma longa lista de músicas que expressam a nossa cultura. No topo, o ator e cantor destacou a tradicional “Aquarela Brasileira”, de Martinho da Vila, um clássico da nossa pluralidade. “Mas também tenho uma muito especial que não está no repertório do musical, infelizmente, mas que tem tudo a ver com essa história que contamos no palco. Se chama ‘Meu país’, do meu pai, Ivan Lins”, disse Claudio sobre a música que destaca as belezas tupiniquins e questiona “como ser feliz em outro lugar”.
Mais do que no DNA de Claudio Lins, a música sempre caminhou lado a lado com a atuação na carreira do artista. Em musicais como “Rio mais Brasil, o nosso musical”, ele tem a oportunidade de expressar suas múltiplas habilidades de um jeito único. E, mesmo especialista nas diferentes expressões artísticas, Claudio Lins contou que tem sempre o que aprender com trabalhos como esse. “Cada projeto é uma novidade diferente que a gente acrescenta à carreira. Neste, por exemplo, eu estou tendo a oportunidade de trabalhar com o Ulysses Cruz no teatro e estudar a obra de um gênio como Darcy Ribeiro. O livro que seguimos como inspiração eu tinha lido na época da faculdade, e está sendo maravilhoso revisitar essa obra”, destacou Claudio que, na parte musical, interpreta canções que não conhecia e outras que talvez não entrariam em seu repertório. “Nisso tudo, ainda estou tendo a oportunidade de tocar vários instrumentos como berimbau, surdo e caxixi. Fora que, por causa de um momento do espetáculo, aprendi percussão corporal e usando apenas a boca”, completou.
Com esta alegria apresentada no musical, Claudio Lins espera contagiar o público. Para ele, a cultura e a festa da nossa música brasileira são fatores fundamentais que precisam ser regatados, ainda mais em tempos de crise. “Tem uma frase do meu personagem no musical que traduz exatamente a importância desta valorização no cotidiano: ‘sem cultura a gente morre de tanta realidade’. É exatamente isso. A arte é a nossa válvula de escape, é a maneira que o ser humano tem de poder voar e se libertar. Ao contrário do que os governantes pensam, a cultura faz muito bem às pessoas e continua viva e latente, apesar de todas as dificuldades”, argumentou Claudio que vê na arte brasileira um ciclo involuntário de renovação. “Faz parte da história da nossa cultura a modernização e atualização. Não acho que isso precise ser provocado por nós. Somos super abertos ao que vem de fora e incorporamos várias expressões estrangeiras com o nosso jeitinho brasileiro. Estamos sempre nos adaptando ao que surge de novo ou ao panorama que nos cerca”, analisou.
Por isso, arte nunca falta na vida de Claudio Lins. Se já não bastasse a intensidade cultural de um espetáculo que explora justamente essa pluralidade brasileira, o ator e cantor ainda está no elenco de “PopStar”. Ao lado de outros 13 talentos, Claudio participa do reality musical da Globo, desenvolvido pela própria emissora, e concorre ao prêmio de R$ 250 mil. Apesar da disputa, ele destacou a união com os concorrentes e amigos nos bastidores do “PopStar”. “Temos até um grupo de Whatsapp”, brincou.
No palco da atração, após cada apresentação, Claudio Lins é avaliado por dez especialistas e pela plateia interativa do programa. Com carreira em teatro musical desde os seus 12 anos de idade, há mais de 30 anos, o cantor contou que ter seu trabalho julgado não é uma das melhores experiências, apesar de já estar acostumado. “No segundo programa eu recebi uma nota muito baixa do público. Não tem jeito, a gente acaba ficando com uma pulga atrás da orelha sem saber em qual momento não agradamos tanto. Porém, eu estou certo do que eu quero com esse programa, que é cantar e emocionar. Então, a questão das notas e das críticas é um incômodo, mas nada grave”, disse Claudio que, no programa, já chegou como favorito.
Ao lado de nomes como Mariana Rios e André Frateschi, o cantor era visto como possível campeão antes mesmo do começo das apresentações. Sobre isso, Claudio contou que foi um dos primeiros dentro da atração a levantar a bandeira da igualdade entre os candidatos. “Além da voz, temos uma série de fatores que contam para o sucesso de uma performance, como a escolha de repertório e a troca de energia com o público. Então, se a gente consegue tocar quem está nos avaliando, eu acho que as questões técnicas passam a ter menos importância”, analisou Claudio Lins que garante que seu sobrenome não é garantia de nada.
Filho de Ivan Lins e Lucinha Lins, o ator e cantor contou que a filiação é tratada como naturalidade por ele. “Eu sou Lins desde quando eu nasci e não tem como eu mudar isso. Então, eu trato de forma natural, como tem que ser. É curioso porque, com o programa, pessoas que me conhecem há anos e trabalham comigo passaram a descobrir que sou filho deles. Isso é muito bom. Significa que sou admirado na minha profissão mesmo por aqueles que não sabem quem são meus pais”, comentou.
E tem mais. Além de “Rio mais Brasil, o nosso musical” e “PopStar”, Claudio Lins ainda se dedica a outros projetos da carreira. Recentemente, ele compôs mais duas músicas para a trilha sonora de “Os Dias Eram Assim” e segue produzindo o espetáculo “O Beijo no Asfalto”, que agora está em busca de patrocínio para viajar para São Paulo. Fora isso tudo, Claudio ainda tem tempo para um importante trabalho: o musical sobre a vida de Ayrton Senna que deverá estrear em novembro deste ano. “O que eu posso adiantar é que será um espetáculo surpreendente, ousado e muito emocionante. É muito difícil explicar, mas nós conseguimos estabelecer uma linha dramatúrgica muito interessante que não caiu em um lugar comum. Não é só uma historinha sobre a vida de um ídolo”, contou Claudio Lins que participa do texto e das músicas do espetáculo.
Serviço: “Rio mais Brasil, o nosso musical”
Temporada: de 20 de julho a 10 de setembro
Local: Oi Casa Grande (Av. Afrânio de Melo Franco, 290 – a – Leblon, Rio de Janeiro)
Horários: Quinta a sábado: 21h, Domingos: 19h
Preços:
Plateia Vip e camarote – R$120,00
Setor 01 – R$100,00
Balcão 02 – R$80,00
Balcão 03 – R$50,00
Classificação etária: 12 anos
Duração: 105 minutos
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