*Por Brunna Condini
Depois de dois meses e meio de sucesso em Portugal, Eliane Giardini está de volta ao Brasil com o espetáculo ‘Intimidade Indecente‘. Em cena, ao lado de Marcos Caruso, a história gira em torno de um casal que se separa aos 60 anos, mas segue se reencontrando pela vida, e ainda reconhecendo a cumplicidade que têm. A atriz, que foi casada com Paulo Betti por mais de 20 anos e é muito amiga, comenta sobre os desafios de manter uma relação longa, um dos temas centrais da montagem do texto de Leilah Assumpção. “Todas as relações são difíceis. O dia a dia é muito desafiador. E acho que uma das alternativas para isso passa por uma questão econômica. Se você tem condições de viver em casas separadas, por exemplo, acho uma grande solução para todos os casais, é perfeito (risos). Porque na rotina, nós somos muito pouco trabalhados emocionalmente. Acabamos despejando as angústias e frustrações em cima do parceiro, jogando nele histórias que não pertencem a ele”, diz Eliane.
Ela também revela que não está se relacionando amorosamente com ninguém no momento: “É difícil, porque nesta fase ficamos muito donas de si, da nossa rotina. Minha vida é muito plena, cheia de afeto, minha família é muito presente. Adoro o que faço, e trabalho bastante, me sinto muito realizada afetivamente. Mas se aparecer uma pessoa boa, estou muito aberta para isso”.
E completa, observando sobre relacionamentos: “É muito mais fácil você seguir com uma relação saudável, não tóxica, se o casal vive cada um no seu lugar, tendo o direito às suas escolhas, o que é complicado em uma relação, onde sempre tem que existir consenso. Acho isso tudo muito cansativo. E acredito também que é uma questão de fase da vida. Nesse momento já de maturidade, sou mais dona do meu pedaço. Consigo ser muito amiga do meu ex-marido, mas sem essa convivência excessiva. Na peça, isso se traduz lindamente, porque essas duas pessoas se separaram e começam a ter uma grande relação, independente destas questões emocionais que são sempre muito mal digeridas, resolvidas”.
A atriz estava escalada para a novela ‘Olho por Olho’, de João Emanuel Carneiro, que deve entrar no ar na grade da TV Globo após ‘Pantanal’. Na trama ela viveria um casal com Tony Ramos, e esclarece porque deixou o elenco do folhetim. “Estava na primeira escalação, mas, meses depois, a produção foi toda escalada novamente obedecendo outros critérios. Acho que tinha um problema real de escalação, uma vez que eu e o Tony estamos na faixa dos 60, 70 anos, e seríamos pais de personagens de vinte e poucos. Acho que foi por aí, e colocaram atores mais jovens nos papéis”, explica. Cláudia Abreu e Fabio Assunção foram nomes divulgados para viverem os personagens que seriam respectivamente de Eliane e Tony.
“Eu não considero essa uma questão de etarismo, sinceramente falando. Acho que havia uma questão de disparidade nas idades. Eu e o Tony seríamos pais do Caio Castro, e, nesta fase, poderíamos ser os avós dele”, completa.
E aproveita para opinar sobre o tema etarismo nas produções artísticas. “O que sinto é que a minha geração está avançando, e trazendo desafios para a dramaturgia. A mulher de 70 anos hoje não é a mesma de 20 anos atrás. E a dramaturgia já coloca essa mulher com sua vida afetiva, como dona do próprio nariz, com vontade, com liberdade para ir e vir. Tudo é muito novo e está aos poucos sendo inserido com coerência necessária”, analisa, acrescentando: “Não é o etarismo que está me afastando de bons trabalhos, até porque tenho tido ótimos, mas sinto que as produções estão tendo esse desafio de incluir essa nova mulher: que tem vida para ser vivida, curiosidades, desejos…”.
Quase 70
Eliane vai completar 70 anos em outubro e avalia sua trajetória de amadurecimento até aqui. “Acho que é uma boa avaliação. A vida toda sempre procurei muita ajuda, fiz muita análise, sou curiosa. Acho que cada fase da nossa vida têm pontos a serem resolvidos. Passei por mil questões, por um casamento, por uma separação. Vivo hoje um momento muito bom de relacionamento com o meu ex-marido, com as minhas filhas. Aliás, com elas sempre tive um relacionamento muito fácil, um trânsito muito simples. Mas como as outras pessoas, vou vivendo o que a vida apresenta, com desafios, alegrias. Digamos que hoje tenho um pouco mais de sabedoria e, com o avançar da idade, consigo relativizar mais os dramas. É uma visão mais ampla sob o panorama todo e tento ser mais leve”.
Envelhecer a assusta de alguma forma? “Assusta quando você fala sobre isso e ainda é jovem. Nada acontece de uma hora para outra. Acontece em um ritmo necessário para que você absorva. Claro que eu percebo processos de envelhecimento no meu corpo, na minha forma de ser. Sempre fui muito caseira, reclusa, e estou ficando mais. Se pudesse mudar esse traço meu de personalidade, até mudaria”.
Personagem inesquecível
A atriz pode ser vista atualmente na reprise de ‘O Clone’, no Vale a Pena Ver de Novo, nas tardes da Globo, como a inesquecível Nazira. “É uma personagem xodó. Nazira me trouxe a possibilidade da comédia, que até então eu não tinha feito. Me diverti muito fazendo, e acho que as pessoas sentiram isso, e se divertiram também”, diz. “Novela é algo muito misterioso, porque quando atinge todas as potencialidades é ‘nota 10’ em tudo, vira esse ‘arrasa quarteirão’ que foi ‘O Clone’, ‘Avenida Brasil’, mas não tem fórmula”.
Parceria
Eliane e Marcos Caruso já formaram uma dupla de sucesso antes, quando deram vida ao casal Leleco e Muricy, da novela ‘Avenida Brasil’. “Somos amigos de longa data. Primeiro, somos paulistas. Assistíamos as peças um do outro. Depois, quando vim para o Rio, começamos a fazer algumas parcerias na televisão. A novela ‘Avenida Brasil’ não foi a única. Fizemos também um casal em ‘Tempos Modernos‘, e alguns outros trabalhos em TV. Teatro, é a primeira vez”, conta.
“E começou de uma forma intensa. Estreamos em Portugal. Os dois longe de suas casas, em um hotel. Então a intensidade da nossa relação foi a um patamar gigantesco. Fomos vizinhos durante dois meses, partilhando os mesmos passeios, almoços, ensaios, os papos pós-peça. Foi uma convivência que nunca tivemos tanto nem como amigos”.
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