No 1º Prêmio Reverência de Teatro Musical, a consolidação do gênero no país e a vitória arrasadora de “Elis, a Musical”. Nós fomos lá!


Cerimônia de entrega apresentada por Heloísa Périssé ocupou o rooftop do Hotel Fasano na noite desta segunda-feira (24), reunindo a nata dos palcos brasileiros e colocando em evidência o talento e profissionalismo de uma indústria, que consegue sobreviver e se reinventar mesmo em um momento de economia instável

Quem passou pelo Arpoador na noite desta segunda-feira (24) não pôde deixar de reparar em dois holofotes que cortavam o céu nublado do Rio. Eles destacavam a realização do 1º Prêmio Reverência de Teatro Musical, que contemplou os principais títulos do gênero apresentado no Brasil em 2014, tomando o rooftop do Hotel Fasano com os nomes mais importantes dos palcos nacionais aglomerados em uma noite histórica e especial para as artes e a cultura. Com apresentação impecável e hilária de Heloísa Périssé, o evento reuniu ali a nata das produções brasileiras, elegendo os destaques do eixo Rio-SP em 14 categorias.

Tudo começou há cerca de sete anos, quando a produtora e diretora Antonia Prado estava à frente de uma peça musical e se deu conta do mercado emergente que o Brasil proporcionava ao meio. Ela, então, passou por um período de pesquisa em Nova York, onde assistiu a dois prêmios Tony (o Oscar do teatro musical dos Estados Unidos), até que voltou ao país e criou o Reverência, em parceria com a produtora AktuellMix, de Rodrigo Rivellino. “Eu percebi que não tínhamos ninguém olhando especificamente para esse nicho, que é um gênero muito especial dentro do teatro e precisava ser elevado. O brasileiro é um povo musical, e muitas pessoas vivem disso – é um ótimo gerador de empregos. Desde então, nós viemos aperfeiçoando a ideia de um prêmio, convidando as pessoas, até chegar ao resultado final”, explica a realizadora da premiação, que já tem no próprio currículo peças como A noviça rebelde” e Gypsy, o musical”.

Antonia Prado, Heloísa Périssé e Rodrigo Rivellino (Foto: Cristina Granato | Divulgação)

Antonia Prado, Heloísa Périssé e Rodrigo Rivellino (Foto: Cristina Granato | Divulgação)

O prêmio, como Antonia frisou durante a cerimônia de abertura, contempla os melhores do teatro musical, de acordo com um júri especializado, que participa através de voto secreto. Na bancada, nomes como Ana Botafogo (bailarina), Luiz Carlos Miele (ator), Mirna Rubin (atriz e cantor), Paulo Afonso de Lima (diretor), Macksen Luiz e Rafael Teixeira (jornalistas), Tânia Brandão (pesquisadora) e Janice Botelho (coreógrafa), avaliando os espetáculos cariocas. Já os paulistas são analisados por Cida Moreira (cantora), Ubiratan Brasil, Sergio Martins e Miguel Arcanjo Prado (jornalistas), Claudia Hamra (produtora), Claudio Erlichman (pesquisador), Neyde Veneziano (diretora) e Kika Sampaio (coreógrafa).

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Realmente, bastava olhar para a quantidade de profissionais reunidos no hotel para se dar conta do tamanho e abrangência que o teatro musical desenvolveu no Brasil, principalmente no eixo Rio-SP, o que Antonia gosta de chamar “a retomada dos musicais”. Desde a realização das trajetórias de ícones do showbiz nacional como Elis Regina, Tim Maia, Cazuza, Rita Lee, Chacrinha e Wilson Simonal às adaptações de grandes espetáculos da Broadway, como “Chaplin, O Musical”, “Sim! Eu Aceito!”, além das produções originais, que começam a ganhar mais espaço ainda no mercado. Heloísa Périssé, momentos antes de subir ao palco que foi armado sobre a piscina do Fasano e rodeado por velas, comentou com o site HT: “Eu acho que o mais interessante sobre o teatro musical daqui é que o brasileiro não precisa de patrocínio – ele vai lá e faz, as produções sobrevivem além disso. Mas esse prêmio já é muito importante para dar um incentivo, mostrar que o meio está sendo apreciado no país”.

Heloísa Périssé e Totia Meireles se abraçam durante o 1º Prêmio Reverência de Teatro Musical (Foto: Cristina Granato | Divulgação)

Heloísa Périssé e Totia Meireles se abraçam durante o 1º Prêmio Reverência de Teatro Musical (Foto: Cristina Granato | Divulgação)

Concorrendo na categoria de Melhor Diretor por “Elis, a musical”, Dennis Carvalho também ressaltou a importância do prêmio para fomentar a produção do teatro musical no país, e faz um importante adendo: “Eu espero que, com o Reverência, surjam mais espetáculos originais no Brasil, ao invés de adaptações. Eu não tenho nada contra trazer um musical da Broadway, mas temos capacidade de desenvolver nosso próprio produto”, apontou o diretor. Laila Garin, que foi a estrela de Dennis na peça e levou para casa o troféu de Melhor Atriz da noite, comentou com HT sobre as especificações dos musicais: “Há demandas muitos específicas desse gênero, então, eu que merecia mesmo essa premiação. Eu, por exemplo, posso falar da minha parte, e o ator que se dispõe a fazer um musical, além de interpretar, tem de ser bailarino, dançarino e cantor”, disse. HT, claro, perguntou ainda para Laila sobre como foi a experiência de viver nos palcos uma das cantoras mais icônicas do país: “Eu me sinto muito honrada com o reconhecimento que esse papel tem me dado, porque a Elis era uma mulher muito verdadeira, então eu precisei achar o tom certo da minha própria verdade e incluir isso nela. Porque você não pode cantar com as vísceras de outra pessoa, precisa achar o meio do caminho”, explica a atriz, que desde os 13 anos faz aula de canto e, em outubro, volta aos palcos com o musical Beijo no Asfalto” e, no domingo, estreia a série Santo Forte” no AXN.

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O toque especial de Tony Awards que Antonia Prado adicionou à premiação foi perceptível de forma mais clara através dos dois números musicais que deixaram os convidados de queixo caído, presenciando aquela velha premissa de que “quem sabe, faz ao vivo”. Primeiro, Malu Rodrigues e Thiago Machado fizeram um medley de grandes trilhas de musicais escritas ou adaptadas por Miguel Falabella e Cláudio Botelho, indo de “A noviça rebelde” e A bela e a fera” a “Tim Maia”. Momentos após subir ao palco, a atriz comentou com HT sobre um dos principais problemas de se trabalhar com musical no Brasil: “É muita picaretagem! Há muita gente que entra nesse meio só para conseguir o dinheiro do patrocínio e não investe nada no musical. Por isso que eu sou caxias e defendo mesmo o Cláudio [Botelho]. Além de ser o melhor diretor de musical do país, você consegue ver que cada centavo que ele e Charles Moeller ganham vai para a produção”, desabafa Malu, que, ao lado do diretor, trabalhou em Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos”, indicado em seis categorias.

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O segundo número musical da noite ficou a cargo de Totia Meireles, que se prepara para desembarcar no Rio com o musical “Nine”, após uma temporada de sucesso em São Paulo. No palco, a atriz deu um verdadeiro show de performance em uma paródia debochada e bem humorada de All That Jazz”, em versão batizada “Vem beber”, composta por Rafael Prado, Thiago Marinho e Lucas Drummond, e que chamava os perdedores para o consolo do bar. Antes de subir ao palco, Totia conversou com HT e apontou para o preconceito que o gênero muitas vezes sofre no país: “Ele é visto como um produto melhor dentro da própria indústria e, nas outras premiações, sempre esteve junto com todos os outros tipos de teatro, o que diminui bastante a chance de um ator ou um diretor vencerem”, aponta, completando, entre risos, que tem se divertido no quadro “Superchef”, do Mais você”. “Olha, eu sabia o básico da cozinha, mas tem sido uma brincadeira muito legal”.

Rodrigo Rivellino, Heloísa Périssé, Totia Meireles, Antonia Prado e Miguel Pires Gonçalves

Rodrigo Rivellino, Heloísa Périssé, Totia Meireles, Antonia Prado e Miguel Pires Gonçalves

Após o prêmio, o terraço do Fasano seguiu em clima de festa e celebração entre os convidados. O Prêmio Reverência já pode se orgulhar de ser o pioneiro do gênero no país, abrindo portas e fomentando a cultura em um momento tão precário para a economia nacional, mas tão importante para a manutenção de talentos no showbiz. Aqui, HT deixa a própria reverência ao evento.

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Confira abaixo a lista de vencedores do 1º Prêmio Reverência de Teatro Musical:

MELHOR ATOR:

Elenco de “Samba Futebol Clube” (“Samba Futebol Clube”)

MELHOR ATRIZ:

Laila Garin (“Elis, a Musical”)

MELHOR ATOR COADJUVANTE:

Danilo Timm (“Elis, a Musical”)

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE:

Lilian Valeska (“Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos”)

MELHOR FIGURINO:

Fause Haten (“A madrinha embriagada”)

MELHOR SOM:

Délia Fischer (direção musical de “Elis, a Musical”)

MELHOR CENÁRIO:

Rogério Falcão (“Os saltimbancos trapalhões”)

MELHOR ILUMINAÇÃO:

Luiz Paulo Nenen (“O grande circo místico”)

MELHOR DIREÇÃO:

Gustavo Gasparani (“Samba futebol clube”)

MELHOR COREOGRAFIA:

Alonso Barros e Charles Moëller (“Os saltimbancos trapalhões”)

MELHOR AUTOR

Chico Buarque (“Ópera do malandro”)

CATEGORIA ESPECIAL

Projeto educacional SESI – SP em Teatro Musical (“A madrinha embriagada”/ “Homem de la mancha”)

MELHOR ESPETÁCULO (VOTO POPULAR):

“Os saltimbancos trapalhões, o musical”

MELHOR ESPETÁCULO:

Aventura Entretenimento (“Elis, a Musical”)