Narjara Turetta celebra 50 anos de carreira, atuará no teatro, após três décadas de hiato, e posa para foto sensual


A atriz está no elenco da peça “A Casa da Sogra”, que estreia dia 6, no Teatro dos Grandes Atores. Em entrevista exclusiva, ela comenta que, aos 54 anos, tem se sentido bem ao mostrar toda sua sensualidade em algumas fotos compartilhadas nas redes sociais. “Muitas mulheres se identificam com você um pouquinho mais cheinha, com uma celulite, porque eu não ponho filtro, nada disso. Os homens também gostam de um corpo real”, frisa

Narjara Turetta celebra 50 anos de carreira, atuará no teatro, após três décadas de hiato, e posa para foto sensual
"No direct, recebo muitas cantadas, a maioria de jovens. Eu agradeço, mas digo: ‘Não vai rolar, gosto de homens mais velhos’", diverte-se Narjara (Foto: Dani Destri Fotógrafa/@danidestrifotografa)

“No Direct, do Instagram, recebo muitas cantadas, a maioria de jovens. Eu agradeço, mas digo: ‘Não vai rolar, gosto de homens mais velhos’”, diverte-se Narjara (Foto: Dani Destri Fotógrafa)

* Por Carlos Lima Costa

A atriz Narjara Turetta celebra 50 anos de trajetória artística fazendo o que mais gosta: atuar. Após quase três décadas sem participar de uma montagem teatral – a última foi Romance de Dois Soldados, em 1993 -, ela retorna aos palcos na comédia A Casa da Sogra. “A carreira valeu a pena e continua valendo. Não gosto dos 15 minutos de fama. Sou reconhecida pelo meu trabalho. Isso não tem preço. Tive desempenhos que ficaram no imaginário das pessoas, que, independente de ser a Elisa (Malu Mulher), a Mariana (Direito de Amar), a Bel (Amor Com Amor Se Paga) ou a Inezita (Páginas da Vida), eu sou a Narjara Turetta”, afirma.

Aos 54 anos, a atriz tem se sentido bem ao mostrar toda sua sensualidade em algumas fotos compartilhadas nas redes sociais. “A maturidade me colocou nesse lugar. Quando completei 50 anos, um amigo fotógrafo sugeriu que eu fizesse umas fotos mostrando uma Narjara que ninguém nunca tinha visto”, conta. Se sentiu tão à vontade que, agora, repetiu a dose. “É a fase de segurança com o próprio corpo, com seus defeitos, estrias e celulites. E tem que se gostar. Minha mãe sempre dizia: ‘Se a gente não se gostar, ninguém gosta da gente’. Foi assim que fiquei menos recatada e do lar”, diverte-se.

Ela ressalta que ao começar a postar em sua rede social fotos de maiô, por exemplo, quando voltou a ganhar uns quilinhos, aconteceu um incrível engajamento. “Muitas mulheres se identificam com você um pouquinho mais cheinha, com uma celulite, porque eu não ponho filtro, nada disso. Os homens também gostam de um corpo real. Fiz outro ensaio há pouco tempo e farei outros”, assegura.

“A maturidade me colocou nesse lugar de mostrar uma Narjara que ninguém nunca tinha visto. Me senti à vontade. Não foi nada vulgar e o pessoal gostou”, explica (Foto: Reprodução Instagram)

As fotos mais sensuais renderam várias cantadas. “No Direct, então, foram muitas, mas a maioria era de jovens. Morro de rir, os jovens se amarram. Eu agradeço, mas digo: ‘Não vai rolar, gosto de homens mais velhos’. Prefiro homem da minha idade. Homem maduro é mais complicado, mas quem sabe. Ainda sonho que a minha metade deve estar lá em Londres, onde eu quero terminar a minha vida olhando para o Tâmisa (rio mais importante da Inglaterra). Quem sabe eu não caso com um inglês?”, diz, rindo.

Minha mãe me dizia sempre: ‘Se a gente não se gostar, ninguém gosta da gente’ (Foto: Reprodução Instagram)

Em seu retorno à cena teatral, ela, que vai completar 55 anos em novembro, vive a empregada da personagem interpretada por Claudia Lira, em um texto que vai abordar temas sérios que permeiam a sociedade brasileira: como o machismo. “Faço a Georgete, que tem um tico tico no fubá com o porteiro, mas está de caso com outro. É uma mulher bem resolvida nessa questão do machismo. Nós, mulheres, somos fortes ou pelo menos fomos à luta, desbravamos as fronteiras e ficamos mais donas de si, mais confiantes, corajosas de não aceitar tantas provocações, como a posição de mulher objeto que existe desde que o mundo é mundo”, observa.

“Gosto de cavalheirismo, de ser mimada, bem tratada, que puxem a cadeira, abram a porta", conta Narjara (Foto: Dani Destri Fotógrafa/@danidestrifotografa)

“Gosto de cavalheirismo, de ser mimada, bem tratada, que puxem a cadeira, abram a porta”, conta Narjara (Foto: Dani Destri Fotógrafa)

Narjara prossegue criticando o ditado de que “atrás de um grande homem existe sempre uma grande mulher”. Ela não concorda. “Isso é bem machista. Eminência parda. A mulher não está atrás, está ao lado. Tive a honra de ter participado do seriado de vanguarda Malu Mulher, que foi desbravador de caminhos na ficção, ajudou muitas mulheres a se colocar e havendo igualdade na relação homem mulher”, ressalta Narjara, cuja primeira novela, Papai Coração, foi em 1976, na extinta TV Tupi, e a mais recente foi Jezabel, em 2019, na Record.

Admira certos costumes da relação homem/mulher. “Gosto de cavalheirismo, de ser mimada, bem tratada, que puxem a cadeira, abram a porta. E do respeito. Do homem não achar que pode falar mais alto, não enfiar a mão. Isso não se faz com ninguém. As mulheres estão sabendo o seu lugar. Mas temos muito ainda que acertar. Os homens têm muito ainda que mudar a cabeça. E, infelizmente, os preconceitos estão aí. Preconceito em relação à mulher, LGBT, de raça, isso é inconcebível”, observa.

“Minha mãe me ensinou: ‘Nunca deixe um homem bater em você, se ele der o primeiro tapa, vai se acostumar. Graças a Deus, jamais sofri isso", afirma a atriz (Foto: Dani Destri Fotógrafa/@danidestrifotografa)

“Minha mãe me ensinou: ‘Nunca deixe um homem bater em você, se ele der o primeiro tapa, vai se acostumar. Graças a Deus, jamais sofri isso”, afirma a atriz (Foto: Dani Destri Fotógrafa)

Narjara nunca viveu, por exemplo, uma relação agressiva. “Minha mãezinha (Maria Antônia, que morreu há três anos) me ensinou : ‘Nunca deixe o homem bater em você, se ele der o primeiro tapa, vai se acostumar. No meu caso, com os homens que me relacionei, eu sempre fui forte. E, então, não teve espaço para esse tipo de situação”, explica. Quando mais jovem, Narjara chegou a ser fotografada com alguns namoradinhos. “Nunca morei com ninguém. Tive romances, mas sempre fui discreta na vida pessoal”, frisa ela, que, além de não casar, não viveu a experiência da maternidade.

Mas assegura que não ficou um vazio por não ter construído uma família. “Eu quis ter filho. Achava que aos 35 anos ia estar casada com filhos. Hoje, vejo que se não tive, foi porque não deu certo de ter um homem para ser o pai, beleza. Não me sinto menos mulher por isso. Vivi realmente mais para a minha mãe. No final, ela até me chamava de mãe, eu não gostava, mas foi realmente um pouco minha filha. Tenho amigas que têm filhos criados e eles não estão nem aí. Cada um está vivendo a sua vida. É como se diz, cria-se filhos para o mundo. Me sinto feliz até de não ter tido um filho sem o pai, sem a presença paterna que eu considero importante. O meu (Eduardo), infelizmente se foi quando eu tinha 10 anos e foi muito presente até quando pôde”, comenta.

Solteira, Narjara passou a pandemia sozinha. “Foi punk, fiquei depressiva. Não enlouqueci muito por causa do meu gatinho, Simon, que é minha paixão. Engordei nesse período. Não me joguei muito na comida, mas depois dos 50 anos o metabolismo fica mais lento. E eu não gosto de fazer exercício. Então, ficava o dia inteiro sentada assistindo TV, sem fazer exercício e deprê, isso aumenta o peso. Agora, estou aqui na luta pra emagrecer”, conta ela, que atualmente está com três gatos.

Estava tudo planejado para ela ter retornado aos palcos, em março do ano passado, com a remontagem do espetáculo Greta Garbo, Quem Diria, Acabou no Irajá, que foi cancelada por conta da pandemia da covid-19. Na época, o trabalho como dubladora também foi interrompido. Em abril passado, ela  testou positivo para Covid-19. “Perdi olfato, paladar, o apetite, tive muita febre, dor de cabeça, e no final, tosse e uma falta de ar esquisita”, recorda ela, que atualmente dubla a personagem Pilar da novela Te Dou A Vida, exibida no SBT, e este ano, rodou o filme Desapega, ao lado de Gloria Pires.

“Só saía apenas para ir ao supermercado e a farmácia. Me impactou bastante. Fui me segurando com uma reserva que eu tinha, mas não foi fácil”. Com a ajuda de amigos, até montou, em seu apartamento, um mini estúdio de dublagem remota. Nesse período ministrou aulas online de interpretação para a CAL – Casa das Artes de Laranjeiras, onde já havia dado cursos livres. E em parceria com a Audaz Filmes, de Gloria Pires e Orlando Morais, montou curso de interpretação que está sendo vendido na plataforma Hotmart. E, no final do ano começou a gravar Maldivas, série da Netflix, que estreia em 2022, tendo ainda no elenco nomes como Bruna Marquezine.

Ao longo de seus 50 anos de trajetória na carreira artística, Narjara participou ainda de novelas como O Salvador da Pátria, Gente Fina, Salve Jorge e O Outro Lado do Paraíso. Mas a vida não foi marcada somente por glórias. No início do século, a atriz viveu um momento conturbado profissionalmente, quando inexplicavelmente os convites para atuar eram escassos. Isso fez com que ela trabalhasse vendendo coco, em Copacabana, bairro onde mora. Entre idas e vindas, foram mais ou menos 10 anos com essa rotina até 2010, quando a situação começou a melhorar. E quando retomou a profissão, incorporando também a dublagem, Narjara havia se transformado. “Me tornei uma pessoa mais forte, resiliente. Não foi fácil o perrengue. Ter minha mãe do lado me ajudou psicologicamente. Conheci um mundo um pouco mais cruel, precisei aprender a me virar, a ter jogo de cintura, saber quando dizer sim ou não, porque ali era muito necessário”, comenta.

Narjara relembra a fase que não conseguia trabalhar como atriz: “Me tornei uma pessoa mais forte, resiliente", observa ela (Foto: Dani Destri Fotógrafa/@danidestrifotografa)

Narjara relembra a fase que não conseguia trabalhar como atriz: “Me tornei uma pessoa mais forte, resiliente”, observa ela (Foto: Dani Destri Fotógrafa)