*Por Jeff Lessa
Quando subir ao palco do Teatro PetroRio das Artes, no Shopping da Gávea, nessa quinta-feira (9), o artista multimídia Zéu Britto estará realizando um sonho acalentado há muito tempo: fazer um show com enredo – no caso, a história de Pierot, o famoso personagem da Commedia dell’Arte eternamente apaixonado por Colombina, que o troca por Arlequim. “É um pré-carnavalesco que segue a história desse palhaço triste que vaga em busca do amor. A história vai sendo contada por poemas que costuram as músicas, a maioria inédita. Os poemas são todos inéditos”, revela, entusiasmado, o artista. “Esse show tem diversos trabalhos novos meus, mas também tem homenagens a gente que admiro muito, como Caetano, Tom Zé e os Novos Baianos. Da nova geração, vou cantar algumas coisas do (cantor e compositor) Rubel, genial, e da Banda Mais Bonita da Cidade”.
Serão só quatro apresentações, sempre às quintas-feiras, até 30 de janeiro. Cada uma contará com um convidado especial. A primeira será a cantora e compositora Roberta Campos, conhecida pelo hit “De Janeiro a Janeiro”. Em seguida virão o músico e ator paulista Ícaro Silva e a atriz, escritora, cantora, compositora e instrumentista Letícia Novaes, mais conhecida como Letrux. A quarta atração ainda é uma incógnita. “Isso também tem a ver com o nome do show, ‘Sem Concerto’. Se chama assim porque é tudo feito na hora, não é como um concerto. Sou apenas eu e a (multi-instrumentista) Natália Carrera, não tem uma orquestra, uma banda. Estamos procurando um convidado, o show está em movimento e é bom que seja assim”, brinca Zéu.
Apesar desse caráter de “feito na hora”, Zéu frisa que não há espaço para improvisações no espetáculo: “É um show de direção. Não saio muito do roteiro, como em outras ocasiões, não improviso. É uma pérola, um espetáculo muito bem cuidado, feito com carinho”.
Com 20 anos de carreira, Zéu concilia trabalhos como ator, humorista e músico. No final de 2018, ele encerrou a carreira da bem-sucedida comédia musical “Delírios da Madrugada”, seu primeiro espetáculo solo (apelidado por ele, carinhosamente, de stand-up melody), que ficou dois anos em cartaz e lhe rendeu quatro indicações ao Prêmio do Humor de 2019. No espetáculo, Zéu usava um pijama para interpretar um personagem que não conseguia dormir. Entre uma canção e outra, contava histórias bem-humoradas sobre suas madrugadas na internet “investigando” chats e blogs de acontecimentos surreais. Segundo o comediante, o personagem é “parecido” com ele, pois também demora para dormir: “Não consigo dormir e deixar de ver algo que aconteceu. As histórias que conto em ‘Delírios…’ são crônicas, não piadas”.
Falando nisso, a relação do artista com a internet hoje é… cautelosa. “É muito bom, encontro amigos de todos os tempos, mas pode ser bem invasiva também. Quando começam a invadir demais é hora de dar um tempo e moderar”, adverte. Zéu se comunica mais pelo sistema de troca de mensagens do Instagram do que via Whats App. E acredita que o aplicativo vai superar o Zap como forma de comunicação entre amigos. A veia humorística internética, tão bem explorada em “Delírios da Madrugada”, ficou estremecida pelo clima pesado que paira sobre o país: “Tenho muita disposição para o humor, mas o momento está tão tumultuado, né? As pessoas estão fazendo uma graça muito banal e rasteira. Não dá”.
Outra situação que mantém o artista com um pé atrás com as redes sociais são os comentários políticos. “Ah, eu me emociono. (Por “me emociono” leia-se “me irrito profundamente a ponto de perder as estribeiras”.) Eu me emociono e não consigo ter humor. O sangue ferve, é melhor me manter afastado”, observa Zéu. “Sabe quem é o máximo, que se mantém impassível? (O ator) Tonico Pereira. Adoro como ele se comporta nas redes. A pessoa pode dizer o que for, pode defender os maiores absurdos que ele mantém a elegância. Dá bom dia, boa tarde etc”, diverte-se. Contamos para Zéu que o ator pernambucano Tuca Andrada não poupa quem entra em sua conta no Instagram para atacá-lo, fazendo questão de escorraçar (sim, essa é a palavra que descreve melhor) os “inimigos”. “É mesmo, é? Adoro Tuca! Ele é autêntico. E tem mesmo muita personalidade…”.
E é “personalidade” que o artista acredita ser necessário para encarar a batalha de quem faz cultura no país. “Tenho alma de sertanejo. Sou resistente e positivo, trabalho pesado sem problema. Sou do fazer. Uma nuvem escura está passando, mas acredito no sol. O que não pode é dar ousadia” (*), explica.
(* Dar ousadia é uma expressão do baianês usada em inúmeras situações. Aqui pode ser traduzida para o carioquês “dar mole” ou o genérico “deixar para lá”.)
Aos 42 anos, o artista baiano nascido em Jequié está feliz da vida. Ele voltou a morar no Jardim Botânico, bairro que ama (“Consigo andar a qualquer hora do dia ou da noite sem problemas”), depois de anos em São Paulo, está pertíssimo do lugar onde costuma ensaiar seus shows e espetáculos, o colégio Divina Providência, na Lopes Quintas, onde mora, e está na cidade que adora. Talvez lhe falte uma coisa: um bichinho. “Eu tinha um pug, acredita? Mas me separei e ele ficou com a outra parte, em Salvador. Morro de saudade, chego a chorar. Adoro bicho, sou doido por cachorro”, revela.
Quem sabe 2020 não realize este sonho também?
SERVIÇO
Sem Concerto
Teatro PetroRio das Artes. Shopping da Gávea: Rua Marquês de São Vicente 52, Loja 264, Gávea – 2540-6004
Quintas-feiras de janeiro, às 21h
R$ 70 e R$ 35 (meia-entrada)
60 minutos 12 anos
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