“Não conseguimos mensurar a coragem dela”, afirmou Soraya Ravenle sobre Isaura Garcia

Isaura Garcia foi uma das artistas mais importantes da era do rádio, tendo construído uma carreira de sucesso recheada de obras lendárias. Ela chegou a gravar mais de cinquenta discos, participou de filmes e cantou muitas canções icônicas.   No entanto, a sua história de vida passou longe do glamour que se espera de uma atriz e cantora tão reconhecida. “A Isaurinha lidou com um pai violento a infância toda, saiu de casa com 14 anos para cantar, se sustentou, casou com um homem mais velho, separou, casou com outro mais jovem… Enfim, foi uma artista em uma época na qual isto era mal visto para uma moça de família. Não tenho noção do que é isso, porque as pessoas empurram o filho para ser famoso. Não conseguimos mensurar a coragem dela”, afirmou a atriz Soraya Ravenle. A notoriedade das obras junto de sua dura história serviram de base para o espetáculo Isaura Garcia, O Musical, que está em cartaz no teatro Oi Casagrande. Dirigida e produzida pelo neto dela, Rick Garcia,em parceria com Klebber Toledo, a peça coloca uma lupa sob os momentos mais importantes de sua vida, desde as dores até as felicidades. Com Kiara Sasso, Soraya Ravenle e Rosamaria Murtinho, a montagem mostra as intimidades desta mulher que é exemplo de força e empoderamento feminino.

Na noite desta terça-feira, o musical exibiu uma sessão especial para convidados que contou com famosos e artistas (Foto: AGNEWS)

Apesar de ser vista como um ícone feminino, Isaura Garcia nunca teve a pretensão de se tornar um exemplo para ninguém. Na verdade, sempre fez questão de dizer o que pensava e ser quem era. “O que mais me encanta na Isaurinha, talvez, seja o transbordamento dela como interprete. Ela não era nada comportada, por exemplo. Era uma pessoa que falava muito palavrão no dia a dia e quando subia no palco isto não mudava. Ela se rasgava em cena. As entrevistas dela são surreais, comentava sobre quase tudo”, afirmou Soraya. Exatamente por não ter papas na língua que Isaurinha se mostrava uma pessoa tão à frente de seu tempo. “A história dela é muito atual. É uma mulher independente que queria ter a sua liberdade sexual sem se importar com a opinião dos outros. Ela gostava das pessoas independente da cor da pele e orientação sexual”, comentou Kiara Sasso.

Lázaro Menezes ao lado de Klebber Toledo e as atrizes Rosamaria Murtinho e Kiara Sasso   (Foto: AGNEWS)

O espetáculo é claramente uma biografia da vida desta irreverente atriz, mas isso não significa que outras pessoas também não possam se ver na figura guerreira de Isaura Garcia. “Acredito que toda mulher vai se sentir representada neste espetáculo, porque foi um exemplo que, apesar de todo o seu talento, foi maltratada, julgada e agredida. Mesmo com tudo isso ela conseguiu vencer na vida. É uma precursora, com certeza, deste movimento feminista que está tão em voga atualmente”, informou Klebber Toledo, diretor e produtor da peça. Uma das músicas mais famosas da artista se chamava ‘Mensagem’ e, curiosamente, ainda consegue conversar com as pautas da atualidade. “Era feminista sem propriamente levantar bandeiras, pois, na verdade, era a própria bandeira”, sugeriu Soraya.

Kiara Sasso, Rosamaria Murtinho e Soraya Ravenle, na foto, interpretam a protagonista em fases diferentes da vida (Foto: AGNEWS)

Neste espetáculo, Kiara Sasso é a responsável por retratar o início da vida de Isaura. “O nosso país tem uma diversidade musical muito grande e vários artistas muito talentosos, mas que muitas vezes são esquecidos. Dessa forma, acho bacana manter a chama acesa”, afirmou. Dessa forma, ela ilustra toda batalha da atriz por ser reconhecida no meio artístico em uma época na qual arte era sinônimo de prostituição e o sofrimento da personagem por lidar com os maus-tratos do pai. “É uma grande responsabilidade fazê-la, porque é uma pessoa que existiu e tem muita gente que a conheceu vindo assistir, ou seja, a expectativa é muito alta de reconhecê-la no palco. Está sendo uma delícia”, contou. Esta montagem é a primeira na qual faz uma personagem biográfica e ainda teve que lidar com a dificuldade de dividi-la com mais duas outras atrizes. No entanto, ela se limitou a prestar atenção aos ensaios das companheira de elenco.

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Assim como Kiara, Soraya Ravenle também interpreta a protagonista, mas narra a fase adulta da mesma. Isaura, na verdade, é mais uma icônica personagem biográfica vivida por Soraya, já que a mesma viveu Dolores Duran e Carmen Miranda nos palcos. Apesar de estar apaixonada pela personalidade forte e irreverente de Isaura, a atriz não conhecia muito de sua obra, anteriormente. Atualmente, a artista é uma das pessoas do elenco mais empenhadas em aprender mais sobre a vida desta cantora. “O meu estudo continua até hoje, na verdade. Quando saio do teatro já coloco o disco da Isaurinha e fico ouvindo, mergulhei mesmo na obra dela”, comentou. Na busca de ir mais a fundo nesta pesquisa, ela chegou a ir até a casa do compositor Hermínio Bello De Carvalho, que conheceu Isaura. “Ele me contou detalhes como o fato dela chorar todos os dias depois de acordar. Ela tinha uma tristeza profunda, porque passou por coisas muito fortes”, lamentou.

Para fechar com chave de ouro o espetáculo, Rosamaria Murtinho é a última grande estrela da noite. Ela é a responsável por fazer Isaura mais velha e, por isso, acaba encerrando o espetáculo. No entanto, esta não é a primeira vez que interpreta esta personalidade. Em versões antigas do musical, ela já havia interpretado outras fases da vida da cantora e por isso tem uma ótima visão geral da apresentação. “Acompanho a peça da coxia e tenho vontade de entrar no palco para fazer também os outros papéis da Isaurinha. Usei um pouco os elementos que eu já tinha pesquisado nas outras duas peças que fiz. Mas, dessa vez, vi muitos filmes e entrevistas dela que não tinha assistido antes. É bacana poder fazê-la mais velha, porque era uma pessoa engraçada, apesar do sofrimento. Está sendo gostoso dividir com estas grandes atrizes”, comentou.

Rosamaria Murtinho já havia interpretado esta personagem antes (Foto: AGNEWS)

Para que o espetáculo fizesse jus à grande artista que Isaurinha era, existe uma grande produção atrás da coxia. No total, a peça conta com nove bailarinos, 19 atores, 11 músicos e mais 17 pessoas na equipe que trabalham diariamente para tornar tudo isso possível. Foram mais de 140 peças de roupa, por exemplo, confeccionadas para esta montagem. “Ficamos quatro anos tentando conseguir patrocinadores, porque captação é muito difícil atualmente já que muitas empresas estão condicionadas a ajudar produtores mais antigos”, lamentou Klebber Toledo, produtor e diretor da peça ao lado do amigo – e neto de Isaurinha-,Rick Garcia.

O espetáculo fica até o dia 14 de outubro nos palcos (Foto: Divulgação)

O tempo e desgaste da produção para montar este musical refletem a dificuldade de se fazer teatro atualmente. O que significa que a dificuldade que Isaura Garcia sentia, naquela época, em ser respeitada por produzir cultura ainda pode ser vista atualmente. “A classe artística sempre estará à margem da sociedade. Mesmo que Fernanda Montenegro queira fazer um espetáculo, ela terá que bater na porta do banco para pedir dinheiro. Tem muita gente que ainda acha que somos prostitutas, por exemplo”, lamentou Kiara.  Mesmo com todos os empecilhos, Isaura Garia, O Musical se tornou uma realidade e vai continuar em cartaz até o dia 14 de outubro, empregando mais de 56 pessoas.

SERVIÇO – ISAURA GARCIA – O MUSICAL 

Local: Teatro OiCasagrande – Av. Afrânio de Melo Franco, 290 – a – Leblon, Rio de Janeiro – RJ
Temporada:de 26 de julho a 14 de outubro
Dias e horários:quinta-feira, às 20h; sexta-feira, às 20h; sábado, às 17h30 e às 21h; domingo, às 18h
Preços:de R$ 50 (inteira) a R$ 150 (inteira)
Vendas:bilheteria do teatro e pelo site TUDUS (https://www.tudus.com.br/evento/oi-casa-grande-isaura-garcia–o-musical)
Classificação Etária:12 anos