Uma aula de interpretação das melhores. Isso é o que Christiane Torloni, na pele de Maria Callas, faz no palco durante as quase duas horas de “Master Class”, de Terrence McNelly. A história se passa no início dos anos 70, período complicado da vida da soprano mais conhecida da história, quando a voz começa a falhar e ela é deixada pelo marido, o bilionário grego Aristóteles Onassis, que a troca por Jacqueline Kennedy. Na época, buscando consolo para tanta dor, Callas aceitou ministrar aulas magnas na Julliard School, em Nova York e os ensinamentos recheados de repreensão, encorajamento e lições que serviram de inspiração para o texto do dramaturgo americano Terrence McNelly.
Não é a primeira vez que o espetáculo, que já foi montado duas vezes na Broadway e tantas outras ao redor do mundo, chega ao Brasil. Em 1996, Marília Pêra (1943-2015) defendeu Callas com maestria e Torloni garantiu: chegou a ver a colega no palco. “Vi gravações das duas montagens da Broadway e a da Marília Pêra. São todos com leituras bem diferentes. Esse espetáculo tem a leitura mais diferenciada de todas que eu vi. Mas essa é a nona montagem e tem tudo a ver com a abstração dos elementos, de cenário, de poder estar em todo lugar. Talvez seja o cabo mais esticado que eu já tive que andar nessa carreira de quase 30 anos”, analisou a atriz, que, brilhantemente dirigida por José Possi Neto, sustenta longos períodos de monólogo no palco e, logo na estreia carioca, conquistou o público formado por nomes como Antônio Fagundes, Adriana Birolli, Ana Botafogo, Carlos Tufvesson e vários outros famosos.
“São vários passos. Eu fiz dois monólogos e isso ajuda a estar pronta para olhar para a plateia”, disse a atriz, que não fica sozinha no palco durante todo o espetáculo. Além dela, o maestro Fabio G. Oliveira e os atores Julianne Daud, Bianca Tadini, Leandro Lacava, Thiago Rodrigues, Thiago Soares e Jayana Gomes Paiva sobem ao palco para enriquecer a comédia-dramática.
Em comum com a greco-americana considerada diva maior da ópera mundial, Christiane tem a força e a disciplina. “Na verdade eu fui criada assim. Meus pais (Geraldo Matheus e Monah Delacy) sempre exigiram isso. O texto fala muito sobre coisas que fui criada para fazer, então tenho todo um entendimento e admiração por esse chamado ‘star system’, dessas mulheres, que eram as divinas. Sei que elas estão nesse lugar e prestar uma homenagem, através do meu trabalho, para Maria Callas, como para Marília agora, que também alcançou esse patamar, é maravilhoso”, disse ela, que, além do papel de Callas, dividiu com Marília a primeira peça profissional de sua carreira. “Imagina que o primeiro espetáculo profissional que fiz foi a primeira peça profissional que a Marília Pêra dirigiu? Está tudo em família, a família do teatro, que nos faz abrir nossa casa e nos dedicar aos colegas. É assim que é”, constatou.
Se, na pele de Maria Callas, Torloni dá uma aula no palco, a intérprete garante: é a aluna mais dedicada do curso. “Sou a primeira que tomo a aula há seis meses. Me sinto boa aluna, nunca chego atrasada. Sou a primeira a chegar e última a sair. Isso que a Callas diz. Cada vez é uma batalha que temos que vencer, porque ela quer a verdade e temos que dar nossa verdade no palco. Isso é o que chega no coração das pessoas”, analisou. Em cena, Torloni dá voz à outra frase da cantora lírica que leva para a vida: “O teatro é dominação, colaboração e recurso”. O que a Christiane entende disso? “A dominação é seduzir a plateia, conquistar. Não é do mal, é a sedução através da inteligência e principalmente da verdade. Como a gente se apaixona? É no momento que vemos e falamos ‘acho que foi de verdade, acreditei’. No teatro é igual”, entregou a atriz, revelando as características que mais a tocam. “Callas tem uma força, coragem, um despudor. É aguerrida, né”, disse.
Trechos famosos de obras de Bellini, Puccini e Verdi, três dos maiores compositores da história da música, são executados ao vivo pelo elenco no palco e são o charme extra da produção da Maestro Entretenimento. Após os três meses em São Paulo e mais um rodando pelo interior paulista, finalmente os cariocas poderão deliciar-se com a união das duas potências: Callas e Torloni, em “Master Class”. “Na verdade já estamos com a peça há quatro meses. Agora, no Rio, serão dois porque vem a novela (ela começará a gravar “Velho Chico”). Mas depois voltamos em 2017, se Deus quiser”, disse. Se depender dos deuses do teatro, voltam com louvor. E aplausos.
Serviço
Onde: Teatro Clara Nunes (Endereço: Rua Marquês de São Vicente, nº 52, 3º piso, Gávea, Rio de Janeiro, RJ – Shopping da Gávea)
Telefone do teatro: (21) 2274-9696
Bilheteria: Todos os dias, das 13h às 21h
Dias e horários: Sexta às 21h/ Sábado às 21h/ Domingo às 20h
Ingresso: R$ 80 (sexta) e R$ 90 (sábado e domingo).
Classificação etária: 12 anos
Duração: 90 m
Capacidade do teatro: 435 pessoas
Temporada: de 08 de janeiro a 06 de março de 2016 – a peça fará uma pausa no carnaval
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