*Por Brunna Condini
Há alguns anos escrevendo sobre amor, relacionamentos e conflitos humanos pela perspectiva feminina, Mônica Martelli anuncia que já trabalha em um filme com o olhar voltado para as mulheres em uma fase mais madura ao lado de Ingrid Guimarães. “Estamos na sala de roteiro desse projeto e vamos filmar esse ano. É sobre duas amigas, mulheres de 50 anos, ressignificando a vida. Elas revisitam o que fizeram até agora e projetam o que desejam para seus futuros, agora com mais experiência. Escrevem uma nova história”. É um ‘Thelma e Louise’ à brasileira? “Exato! Vai ser inspirador”, promete. E fala de outro projeto afetivo para 2024:
Vou filmar ‘Minha vida em Marte 2’, com a direção da Susana Garcia, minha irmã. Eu não ia levar adiante por conta da partida do Paulo Gustavo (1978-2021), mas decidimos fazer – Mônica Martelli
Produzindo mais do que nunca, Mônica começa o ano mais uma vez nos palcos, bem ao estilo que já é uma assinatura sua: entretendo e fazendo refletir. A atriz e autora retorna aos solos cariocas com o monólogo ‘Minha Vida em Marte’. “Voltar para cá com meu espetáculo me traz muita alegria! Tudo na minha vida aconteceu no Rio de Janeiro. Foi aqui que eu me constitui enquanto cidadã. já que vim morar nesta cidade aos 10 anos (ela é de Macaé). Foi aqui que tive a minha filha, o meu reconhecimento profissional, que estrei minha primeira peça. O Rio me acolheu e me ensinou a ser a mulher que sou hoje, com o meu jogo de cintura, com o meu bom humor”, diz, acrescentando: “Estou morando em São Paulo há cinco anos, mas o Rio me conforta, me leva para um lugar gostoso de pertencimento”.
Sobre os temas que a atraem e motivam como artista hoje, ela expõe: “Quero falar de envelhecimento, observo as pessoas que admiro envelhecendo, gente que tem projeto de vida. O que te faz levantar todo dia e encarar a vida? Tem que ter propósito, projeto. Mesmo que seja fazer um jardim na sua casa, algo que te envolva”. Aos 55 anos, Mônica avalia um dos principais ganhos da maturidade, que também deseja compartilhar em seus próximos trabalhos: “Já sei muito do que não quero, apesar de lidar à uma vida com a dificuldade de dizer ‘não’. Hoje lido melhor com isso. Já falei ‘não’ para trabalhos importantes nos últimos anos, entendendo que aquele lugar não seria mais bom para mim. Saber o que não queremos e o que desejamos daqui pra frente, vem muito do autoconhecimento, de olhar para dentro”.
Os ciclos
Outro tema tabu para mulheres é a menopausa e suas representações subliminares na sociedade, coisa que a atriz quer desmistificar em uma nova peça, por exemplo. “Estou na menopausa há cinco anos e ainda tenho dificuldade de lidar. No início não fiz reposição hormonal porque minha mãe é ex-paciente de câncer de mama. Só que depois não suportei e fui atrás de ajuda. Pensei que não era possível que no mundo de hoje não tivesse nada para que eu pudesse passar minimamente pela menopausa sem tantos danos. É uma crueldade ter que passar assim, sentindo no ‘sangue’ todos os sintomas”.
Com a menopausa sentia muita irritação, tristeza, angústia. É como o Dráuzio Varella escreveu sobre o tema: se fosse um homem atravessando essa fase já teriam descoberto tudo o que não faz mal a ele para resolver. Agora estou fazendo reposição hormonal, mas que precisa ser sempre ajustada. Aliás, como tudo na vida, né? Nada está 100%, tudo sempre precisa ser revisto. Temos a ilusão que encontramos soluções para nossos problemas, mas sempre teremos questões. Isso é viver – Mônica Martelli
E constata: “O envelhecimento é mesmo um assunto que hoje me interessa muito. Se envelhecer é o nosso destino, por que não queremos falar sobre isso? Porque tudo relacionado a ele tem cara de fim de produtividade, de vida? Envelhecer é algo execrado pela nossa sociedade, que enaltece a juventude. Por isso, dentro de uma sociedade capitalista, em que a produção é tudo, a menopausa é como você parasse de ser produtiva, ter serventia. Mas ela é mais um ciclo da vida. Se pararmos pra pensar, o tempo da menopausa e da velhice, hoje com a longevidade, é a fase que dura mais. Então temos que cuidar muito desse período. Não tem fim de ‘carreira’, você nasce para muitas coisas. Eu, por exemplo, aos 50, mudei de cidade, de namorado, renovei trabalhos, comecei novos caminhos. Tem gente com essa idade que muda de emprego, profissão. Repensa sua vida com coragem”.
Mãe de Julia, de 14 anos, Mônica avalia os ciclos distantes e significativos que atravessam simultaneamente:
Minha filha está entrando na adolescência que também é uma explosão. Está nesta fase e eu na menopausa, então nos bicamos muitas vezes. E olho pra ela, que ainda não tem ferramentas o suficiente para lidar com isso, e vejo a diferença pra mim, que faço terapia há 30 anos. Tenho obrigação de ter mais maturidade neste momento. Mas claro que, às vezes, perco essa maturidade, tá? (risos). Berro, grito, sou humana – Mônica Martelli
É dividindo que ela multiplica
Ela reforça que o novo ciclo pode ser transformador de muitas formas. “Nosso corpo muda, a gente muda. É preciso entender que a única certeza da vida é a impermanência. Precisamos nos reconhecer nessa nova fase, reconhecer nossos desejos, tentar ouvir nossa intuição, olhar para dentro e nos darmos uma chance de novos caminhos. Vai, mesmo com medo, porque ele não abandona a gente ao longo da vida mesmo”.
Se em suas obras anteriores, ‘Os Homens São de Marte… E é pra Lá que eu Vou!’ e ‘Minha Vida em Marte’, que partiram de suas experiências, Mônica primeiro falava sobre o encontro do amor, e depois de como esse amor se dava em meio à rotina, às crises e transformações, ela reconhece que hoje quer continuar abordando esse lado humano do relacionar-se com o outro e o mundo, mas sob outra ótica.
“Vivo um relacionamento há cinco anos (com o empresário Fernando Alterio). Hoje tento desconstruir o que me venderam que seria o amor romântico. Porque esse tipo de amor que é imposto em nossa cultura nos faz acreditar que a outra pessoa vai preencher todas as nossas demandas e isso é falso. Quando você faz algo fora dessa ideia, todo mundo estranha. Mas é assim que faço hoje”, divide.
Na minha atual relação tento desconstruir tudo que me venderam antes. Então, não moramos juntos, não quero casar. Encontro o meu namorado sexta e sábado, estou sempre arrumada, adoramos namorar. Não tenho crise de libido. A questão sexual tem que ser abordada. O que mais ouço de mulheres é que não têm mais tesão, mas não gostariam de se separar dos maridos. Nisso não caio porque namoro. Assim espero (risos). Um dos pilares que sustenta a minha relação hoje é a saudade, apesar de saber que ele mora a dois quarteirões da minha casa. No passado, com cinco anos de casamento eu já não tinha mais tesão no marido. Por isso tento viver hoje um outro formato de relação. Não tem o que é certo ou errado, tem o que funciona naquele seu momento de vida, isso acho importante falar. O que é bom para você hoje? Quem é você hoje? É bom se questionar – Mônica Martelli
E finaliza: “Ano que vem podemos conversar e eu te dizer que vou casar (risos). A gente pode mudar de opinião. Por isso é tão importante entender o que você quer no momento. Hoje sou uma mulher que busca sua individualidade. Somos influenciados a amar de forma equivocada. Para mim, a rotina de um casamento massacra muito o romance, a paixão. Tenho muita dificuldade de lidar com isso. Outra coisa, tenho uma filha adolescente, então minha casa é um espaço muito meu e dela. Não consigo imaginar hoje um homem morando lá. Mas é aquilo, pode ser que mude. Pode ser que minha filha vá morar fora, sozinha, e eu queira alguém morando comigo. Por isso é tão importante não viver no automático, se escutar”.
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