Miwa Yanagizawa é atriz, diretora de teatro, fundadora do AREAS Coletivo.
Ministra a oficina “Estudo para o ator: a escuta”, um eixo de pesquisa do Areas Coletivo, que, em 2020, estendeu sua atuação para o espaço virtual como “A Escuta: distâncias e aproximações”. Participou, como atriz, de novelas e séries como “Spectros”, na Netflix e estreará na 5ª temporada de “Sessão de Terapia”, no GNT e Globoplay. No cinema fez longas e curtas metragens como “O Filme da Minha Vida”, direção Selton Mello e “Omoidê”, de Dannon Lacerda, dentre outros.
A convite do site HT, ela escreveu uma análise sobre a representatividade da mulher na sociedade brasileira a partir da vitória da chinesa Chloé Zhao, vencedora do Oscar de Melhor Direção por “Nomadland” se tornou a segunda mulher a vencer na categoria e a primeira diretora de uma minoria racial a levar uma estatueta.
“Semanas atrás, na hora que anunciaram o Oscar para Chloé Zhao, sorri, subiu um calorzinho, sentimento de ah! que bom! Eu adorei o filme. Em 93 cerimônias, Chloé foi a 2ª mulher a ganhar este prêmio na categoria de melhor direção. Não sei explicar, mas, quando me dei conta disso, parei. Apoiei meu queixo na mão esquerda, cotovelos na mesa, puxei o ar e expirei forte, sonoramente, misto de lamento e clareza: que saco! ainda falta muito.
Por curiosidade, e também porque, no ano passado, ganhei um prêmio pela direção de um espetáculo, fui verificar qual era o tamanho da distância por aqui. Dei com o seguinte placar: em 32 anos de existência de um prêmio, no Rio de Janeiro, na categoria melhor direção, 6 foram para mulheres e 26 para homens. Em São Paulo, 7 diretoras foram contempladas ao que diretores, foram 25.
Diariamente, fotos de jornais, do Congresso Brasileiro, por exemplo, constatam, estas mesmas desproporções. Revelam anos, séculos de um apagamento meticulosamente planejado das mulheres que se converte, ainda hoje, 2021, em desrespeito, violência e morte. Sob esse tipo de bestialidade o Brasil ocupa o 5º lugar no ranking mundial do feminicídio, por exemplo. É preciso muita resistência para contrapor esse horror. Penso, todo dia, em que medida posso colaborar com essa luta.
As investidas vêm de todos os lados, vivemos em um sistema patriarcal, capitalista e seus malefícios estão infiltrados nos poros da sociedade. Portanto, acredito que verificar em cada gesto, pequenino que seja, a capacidade de reforçar ou desarticular preconceitos, intolerâncias, prepotências, subserviências, descaso possa ser um caminho. Estamos repletos disso e, segundo um amigo, é algo que precisamos encarar. E a partir daí nos empenhar em abrir espaço para criar outros modos de existência. Quem sabe baseando nossas relações em uma ética do diálogo, da horizontalidade, da liberdade e, assim, diminuir o impacto da iniquidade. Dá trabalho? Dá trabalho. Mas, a mim, isso me anima bastante”.
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