Miá Mello retorna com solo sobre maternidade, abre coração sobre tabus com o tema e quer novo filme com Porchat


A atriz fala sobre a peça ‘Mãe fora da caixa’, inspirada no bestseller homônimo de Thaís Vilarinho, que, com muito humor e sinceridade, aborda os desafios e dilemas da maternidade contemporânea. Miá também acabou de filmar o longa homônimo com Dalton Mello e imersa no assunto faz aqui reflexões e provocações de forma direta e franca. No elenco da segunda temporada de ‘Tudo Igual… SQN’, série já no catálogo da Disney+, e em ‘Luz’, produção da Netflix prevista para o início de 2024, Miá diz ainda, que sente saudade da sequência de filmes da franquia ‘Meu passado me condena’, que estrelou ao lado de Fábio Porchat. Com dois filmes da franquia lançados, a atriz sente que ficaram ‘devendo’ o terceiro. “Toda vez que eu e o Fabio nos encontramos nos perguntamos quando sai. E essa também é uma pergunta unânime do nosso público. Temos muita vontade e acredito que vamos fazer. E digo mais, vai ser a realização de um sonho meu de mostrar esse casal 10 anos depois, como na trilogia ‘Antes do amanhecer’ (ela menciona os filmes sobre uma história de amor retratados ao longo do tempo em ‘Antes do Amanhecer’ (1995); ‘Antes do Pôr do Sol’ (2004) e ‘Antes da Meia- Noite’ (2013), do diretor Richard Linklater). E obviamente no próximo longa vamos explorar essa coisa deles terem filhos ou não, esse casal caótico tanto tempo depois. Um casal que as pessoas adoram. Quem sabe ano que vem sai?”

*Por Brunna Condini

De volta ao palcos com seu solo ‘Mãe fora da caixa’, Miá Mello confessa que também sente saudade de outro projeto, dos filmes da sequência de ‘Meu passado me condena’, que estrelou ao lado de Fábio Porchat. Na história os dois faziam uma dupla muito diferente, que se casava pouco tempo depois de se conhecer e passava por muitas situações desafiadoras e até cômicas. Com dois filmes da franquia lançados, a atriz sente que ficaram ‘devendo’ o terceiro. “Toda vez que eu e o Fabio nos encontramos nos perguntamos quando sai. E essa também é uma pergunta unânime do nosso público. Temos muita vontade e acredito que vamos fazer. E digo mais: vai ser a realização de um sonho meu de mostrar esse casal 10 anos depois, como na clássica trilogia ‘Antes do amanhecer’ (os filmes ‘Antes do Amanhecer‘ (1995); ‘Antes do Pôr do Sol‘ (2004) e ‘Antes da Meia- Noite‘ (2013), do diretor Richard Linklater). E obviamente no próximo vamos explorar essa coisa deles terem filhos ou não, esse casal caótico tanto tempo depois. Um casal que as pessoas adoram. Quem sabe ano que vem sai?”, torce. “Esse projeto aconteceu em uma ordem meio diferente mesmo, fizemos a série, o longa, a peça e o segundo longa. Agora falta o terceiro filme, né?”, acrescenta, falando da produção que em sua última sequência foi sucesso de bilheteria – com mais de dois milhões de espectadores.

A atriz gosta de se dedicar aos projetos e ver o amadurecimento deles. Tanto, que acabou de filmar a versão de ‘Mãe fora da caixa‘ para o cinema. O longa, com direção de Manuh Fontes, mostra as transformações na vida do casal protagonista, vivido por Miá e Danton Mello, com a chegada da filha. “Para fazer o filme fiquei um tempo longe de casa aqui no Rio, mas os filhos (Nina, de 14 anos, e Antônio, 6), e o marido (Lucas Melo) vinham sempre me visitar nos finais de semana. Para conseguir me dedicar ao trabalho, que meus filhos sabem que também é algo muito importante para minha realização, é fundamental a parceria que tenho com meu marido. Sei que em muitos lugares o trabalho de uma mãe é invisível”, diz Miá, que estará em cena com ‘Mãe fora da caixa‘ em solos cariocas para três apresentações especiais nos dias 21 e 22 de outubro (duas sessões), no Teatro do Fashion Mall. Depois disso o solo viaja o Brasil novamente.

Miá Mello retorna com solo sobre maternidade, filma longa homônimo e faz reflexões sobre tabus ainda existentes envolvendo o tema (Foto: Thay Bonin)

Miá Mello retorna com solo sobre maternidade, filma longa homônimo e faz reflexões sobre tabus ainda existentes envolvendo o tema (Foto: Thay Bonin)

Tanto na telona quanto no teatro, a intenção da artista é promover reflexões sobre a chegada dos filhos na vida principalmente da mulher, que é quem segura o maior ‘rojão’ na empreitada: a maternidade, esse caminho sem volta, extraordinário, contraditório e uma aventura vida afora sem manual. Miá destaca os tabus que ainda cercam o tema, mesmo se falando muito mais hoje sobre um maternar desromantizado. “Acho que um dos maiores tabus é a ambivalência das emoções. Falamos da maternidade real, mas desses sentimentos, ainda falamos pouco. Uma mãe que diz em algum momento que está com raiva, que está com dor, triste ou que não queria estar fazendo determinada coisa, ainda é julgada e tem receio de se expressar, de colocar suas sensações. Se falamos algo assim, imediatamente queremos nos justificar, dizer o quanto a maternidade é maravilhosa. O que também é, claro. Mas são muitos lados dessa experiência tão intensa”, constata.

“Acho que um dos maiores tabus é a ambivalência das emoções" (Foto: Thay Bonin)

“Acho que um dos maiores tabus é a ambivalência das emoções” (Foto: Thay Bonin)

A maternidade não tem regras, manual, certo e errado, é a possibilidade de você ser, sentir tudo. Se está super confortável no papel de mãe, maravilhoso. E se você está cansada, exausta, algo te tirou do eixo, tudo bem também. É importante poder sentir as coisas boas e as ruins também. Mas esse lugar, de assumir os sentimentos não tão bacanas, o outro lado, ainda é difícil de acessar, é polêmico, é uma ambivalência difícil de expor, o que é muito natural – Miá Mello

Durante a entrevista, por diversas vezes, Miá desenvolvia um pensamento e interrompia: “Vou falar algo, mas depois sei que posso me arrepender”. Tudo dentro do ‘pacote’ de ‘padrões de qualidade’ impostos à maternidade – do tipo inalcançáveis -, que perseguem as mulheres ao longo dos tempos. “Qualquer coisa que menciono sobre a maternidade que não seja positiva, já quero me explicar na sequência, destacando algo muito bom, é impressionante. Até porque meus filhos são mesmo o máximo. Só que é natural sentir esse mix de sensações. Mas falo e fico pensando se devia ter falado, até porque a chamada das matérias sempre vira a parte mais negativa, que chama mais a atenção (risos)”, desabafa, muito franca.

"Qualquer coisa que falo sobre a maternidade que não seja positiva, já quero me justificar na sequência, destacando algo muito bom" (Foto: Thay Bonin)

“Qualquer coisa que falo sobre a maternidade que não seja positiva, já quero me justificar na sequência, destacando algo muito bom” (Foto: Thay Bonin)

A irreversível experiência da maternidade

O monólogo é inspirado no livro homônimo de Thaís Vilarinho, com texto de Cláudia Gomes e idealização do ator Pablo Sanábio, pai de Manuela, 6. Na peça, uma mãe vivida por Miá revisita sua experiência como mãe enquanto espera o resultado do teste de gravidez do segundo filho. “Maternidade também é aprender a perder o controle. Quando montei esse espetáculo pela primeira vez, meu filho mais novo tinha quase 3 anos. Eu estava vivendo um turbilhão de vivências, emoções, então fazer essa peça também foi estar em um lugar de auto-acolhimento. Ao entender que tocava tantas mulheres, tantas mães, tantas famílias, vi que eu também era tocada. Ver que não estamos sozinhas, tem um lugar de alívio muito grande na maternidade. Isso para mim foi salvador”, recorda.

Miá Mello com o marido Lucas Melo e os filhos Nina e Antonio (Foto: Reprodução/ Instagram)

Miá Mello com o marido Lucas Melo e os filhos Nina e Antonio (Foto: Reprodução/ Instagram)

A maternidade vem cercada de muitos julgamentos e falta de empatia. O trabalho da mãe é invisível para muitos…e cada uma vai tentar educar seu filho da maneira que ele precisa, vai se esforçar para isso, porque cada filho tem uma necessidade. Podemos nos cercar de informações, mas é muito o instinto e um movimento solitário – Miá Mello

Sobre as diferenças de uma maternidade para outra, Miá compartilha. “Aprendi que cada filho funciona de um jeito. Isso me fez refletir muito sobre o que é educar. Eles são indivíduos com vontades próprias e me sinto privilegiada de ter tido esses dois tipos de experiências. Gosto desse lugar de evolução, maternar me faz me mover, querer melhorar para educá-los. Quando fui mãe da Nina, há 14 anos, me enraizei. A sensação é que quando engravidei, me finquei no chão e nada poderia me abalar ali. Me senti uma força da natureza, foi revolucionário e eu estava preparada para isso”, conta.

“Com o Antonio, foi diferente, mesmo sendo uma gravidez planejada, com um casamento também harmônico. Achei que por ser menino, seria parecido com o meu marido, uma calmaria em pessoa. Totalmente diferente de mim, que causei na juventude (risos). Antonio nasceu fisicamente igual ao pai, mas confrontada por uma outra necessidade, o jeito único dele, tive que reaprender a educar ali. E foi bem desafiador, até frustrante, me ‘quebrei’. Fiquei um tempo tentando juntar os ‘cacos’, aprendendo a lidar com um outro aprendizado na maternidade, porque cada filho demanda uma coisa. Estava no Rio de Janeiro na época, sem família por perto, amigos de infância, não sabia para onde ir e como recolher esses ‘cacos’. Mas recolhi. Fui acolhida por um grupo de mães na cidade, fiz parte de uma creche parental com essas mulheres incríveis que me deixaram entrar no grupo. Ali foi o começo de um resgate de quem eu era novamente. Depois veio a peça. E quando me ‘montei’ novamente, me senti tão maior, mais forte, que nem sei explicar. Sinto que a maternidade do Antonio veio para me transformar, como um furacão maravilhoso”.

Sessão bebê bem-vindo

Outra coisa que Miá celebra na montagem do solo, é a sessão intitulada ‘bebê bem vindo’, que desta vez vai acontecer no dia 22 de outubro, domingo, às 11h. “Tem toda uma atmosfera, é uma meia-luz, uma música mais baixa, tem fraldário na plateia. É especial para mães, pais, famílias e seus bebês. É uma iniciativa importante, porque inclui. É uma peça adulta que os pais poderão ver com seus pequenos, que ainda dependem tanto deles. Sou mãe, já passei por isso. Essa sessão vem da lembrança do Cine Materna, um projeto que já existe há muitos anos. Quando tive minha mais velha fui assistir a um filme em uma sessão dessas e me senti muito incluída. Então, fiquei querendo fazer isso para outras mães e pais”, conclui.

A atriz quer se envolver cada vez mais em projetos que amadureçam junto com ela (Foto: Thay Bonin)

A atriz quer se envolver cada vez mais em projetos que amadureçam junto com ela (Foto: Thay Bonin)

E acrescenta, bem-humorada: “Posso dizer que essa sessão é um caos (risos). A primeira vez que fiz achei não faria mais, porque quase dá vontade de você descer do palco e perguntar se os pais querem ajuda com as crianças, é movimentado. A sensação que eu tive é que os pais não tinham visto nada. Mas as meninas da produção conversaram com vários no final, e inacreditavelmente, tinham visto tudo, com comentários muito impactantes, vários vídeos emocionados. É uma das sessões que mais lotam. É mágica e altamente surpreendente, nunca sabemos o que vai acontecer. Aí que constatei que é uma fase em que os pais são multitarefas mesmo. Você é capaz de estar agachada no chão procurando uma fralda e ficar atenta ao que está sendo dito na peça. É um momento que ninguém convida essa família para nada, sabe? E nós abrimos a porta do teatro e dizemos: “Vem! Vem dar risada, se emocionar. Se seu filho chorar no meio, não tem importância. Pode levantar que ninguém vai olhar te julgando”. É uma sessão que me dá felicidade em fazer. E quero cada vez mais fazer projetos que dialoguem com essas minhas buscas, meu amadurecimento como pessoa e artista”.