Depois de dois meses de sucesso em cartaz em São Paulo, o musical “Meu Amigo Charlie Brown” chega ao Rio de Janeiro neste fim de semana. Em curta temporada somente até o dia 4 de dezembro, o espetáculo é uma adaptação fiel ao musical “Your Good Man Charlie Brown”, da Broadway. A peça, que está em cartaz no Teatro Bradesco, no Village Mall, aos sábados e domingos, tem Tiago Abravanel, Leandro Luna, Ester Ellias, Mateus Ribeiro, Sabrina Korgut, Guilherme Magon, Douglas Tholedo e Tecca Ferreira no elenco. Com direção de Alonso Barros e produção de Danny Olliveira, Priscila Squeff e Leandro Luna, que interpreta o Charlie Brown no musical, o espetáculo é a realização de um sonho de anos. “Eu já atuava em espetáculos musicais e tinha muita vontade de produzir eu mesmo um enredo que eu quisesse. A partir dessa vontade, eu comecei a pesquisar e ler muitos textos de espetáculos da Broadway e Off-Broadway, até o dia que eu ganhei o CD de ‘Your Good Man Charlie Brown’. Eu lembro que coloquei para ouvir no carro e fiquei apaixonado pelas músicas, que são de jazz e blues essencialmente. Quando eu fui procurar o texto para ver se era tão bom quanto às canções, eu já li a versão brasileira que tinha sido feita pela Mariana Elisabetsky e decidi que iria montar o espetáculo”, lembrou sobre o processo que ocorreu em 2010.
Na época, Leandro Luna estruturou o espetáculo e estreou em São Paulo, onde ficou em cartaz por dois meses. No entanto, apesar do sucesso de bilheteria, o espetáculo não conseguiu continuar se mantendo financeiramente. “O espetáculo ficou em cartaz por dois meses em São Paulo e foi um sucesso. Só que naquela época a gente tinha pouquíssimo patrocínio. Então, eu achei melhor guardar a peça e voltar quando eu conseguisse todos os recursos para realizar essa montagem. Quatro anos depois, eu soube pela internet que a FOX ia lançar o filme ‘Meu Amigo Charlie Brown’ em 2016. Então, eu tive dois anos para reescrever o projeto para conseguir me inscrever nas leis de incentivo. E deu super certo, estamos aqui hoje estreando no Rio de Janeiro”, comemorou o ator e produtor que, de fato, teve que “tirar o espetáculo do plástico bolha”.
Para por em prática pela segunda vez o projeto do musical “Meu Amigo Charlie Brown”, Luna contou que privilegiou o elenco original na hora de fazer a segunda montagem. Entre eles, estava Tiago Abravanel, que havia sido aprovado na época para o papel de Linus. No entanto, seis anos atrás, o ator não pôde integrar o elenco do espetáculo. “Na época, eu estava no musical ‘Hairspray’ em cartaz aqui no Rio de Janeiro. E, como seria ao mesmo tempo, eu não consegui fazer a primeira versão. Mas eu lembro que no dia que eu fui assistir em São Paulo eu fiquei falando para o Luna que queria muito fazer”, relembrou Tiago que, para essa segunda montagem, sugeriu que, por semelhanças de temperamento, fizesse o cãozinho Snoopy. “Eu liguei para o Leandro e, depois de duas horas de conversa pelo telefone, eu perguntei se ele não achava que eu tinha mais a ver com o Snoopy, e não com o Linus. No momento, ficou um silêncio na ligação e ele me respondeu falando que eu era o Snoopy da vida real”, contou Tiago Abravanel que interpreta o atrevido cãozinho no musical.
Dos aprovados na primeira montagem, apenas Tiago Abravanel compõe o elenco que está em cartaz no Rio de Janeiro. Os outros seis atores foram escolhidos através de audições e a convite do próprio Leandro Luna. Em comum, todos eles passaram por um mesmo processo de construção do personagem. Como destacou o ator e produtor do espetáculo Leandro Luna, o ponto principal deste processo de preparação é que cada um construísse sua própria identidade artística. “Apesar de a gente ter a referência do desenho, a intenção do elenco nunca foi copiar as tirinhas e nem o original. Para fazer uma interpretação que partisse do conteúdo para a forma, nós fizemos um trabalho de mesa bem intenso para que o público pudesse perceber a essência de cada personagem e ver o que cada um quer dizer”, contou.
Na prática, além do texto de Charles Schulz e das músicas do espetáculo, o elenco possui a expressão corporal e facial como elementos de interpretação. Na pele do cachorrinho Snoopy, Tiago Abravanel explicou que os atores propõem uma leitura dos quadrinhos originais no palco do teatro. “Inicialmente, a gente entendeu que o espetáculo era como se estivéssemos lendo as tirinhas de jornal. Ou seja, nós temos em cena uma linguagem corporal de 2D. É como se o público estivesse vendo os quadrinhos de frente. Outro fator é a própria identidade e caracterização dos personagens. A atitude física deles como crianças e minha como cachorro colaboram muito para que a gente não saia desses personagens”, contou Tiago que, assim como todos os atores de musical, precisa de técnicas para atuar no gênero teatral. “Eu acho que cada um tem o seu método para conseguir aguentar. Mas, em comum, todos nós precisamos de uma técnica para poder fazer tantas sessões cantando esse tipo de música. Em relação aos meus cuidados específicos, eu vou à fonoaudióloga uma vez por mês, tento sempre fazer aulas de canto para manter a musculatura, dormir bem e me exercitar regularmente”, revelou.
Já Sabrina Korgut, que em “Meu Amigo Charlie Brown” interpreta Lucy, destacou a necessidade de uma rotina para os artistas de musical. “Eu acho que é importante ressaltar que nós que trabalhamos com o espetáculo musical precisamos ter muita disciplina. É importantíssimo. Cada ator precisa ter seu condicionamento físico para aguentar a rotina de palco e, na hora da apresentação, ter energia e tônus, porque isso também é um diferencial. Então, eu acho que temos que ter cuidados diários para conseguir manter a voz e a disposição”, apontou Sabrina que foi completada pelo companheiro de cena Tiago Abravanel. “Nós somos atletas da arte. Para mim, o teatro musical é uma maratona no palco. E esse é um espetáculo muito físico em que nós interpretamos crianças, na verdade eu sou um cachorro, o que demanda ainda mais um trabalho de corpo”, ressaltou.
Embora “Meu Amigo Charlie Brown” tenha o universo lúdico dos desenhos em seus personagens, engana-se quem pensa que o espetáculo é infantil. Como destacou Leandro Luna e Tiago Abravanel, este é um musical para crianças, e não de crianças. “O texto em si é bem rebuscado e direcionado para os adultos. Lá nos Estados Unidos, eles têm a cultura do Charlie Brown e do Snoopy bem diferente da que temos aqui no Brasil. A geração que assiste ao desenho lá é a adulta. Então, para a realidade brasileira, a gente teve que fazer uma adaptação. Mas, em São Paulo, o espetáculo foi um sucesso tanto na sessão das 20h como na que fizemos no meio da tarde. Ou seja, a gente viu que os pais querem mostrar para as crianças de hoje os personagens que fizeram parte da infância deles”, constatou o ator e produtor.
Com tantas crianças na plateia, Tiago Abravanel comentou da experiência de trabalhar com os pequenos. Depois de dois meses de espetáculo em cartaz em São Paulo, o ator contou que as impressões das crianças são verdadeiras e espontâneas. “As pérolas que saem da boca de uma criança, tanto em cena como na vida, são maravilhosas. O que a gente ouve deles é a opinião livre do filtro que o adulto tem. Então, poder receber da plateia esse feedback cru do que a gente faz em cena, às vezes até de forma imediata, é muito gostoso”, afirmou Tiago que, na temporada paulista, foi chamado de gordo por um espectador mirim entre uma cena e outra.
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