Mariana Xavier está em comédia que levanta bandeira da saúde mental e fala sobre haters e sonho de papeis dramáticos


Protagonista na TV com o humorístico do Multishow ‘Tem Que Suar‘, a atriz está nos palcos com o monólogo ‘Antes do ano que vem’, espetáculo que usa o humor para abordar temas sobre o bem-estar mental. Nesta entrevista, Mariana divide: “Mudei de bairro, tive o fim de um relacionamento, encarei um projeto com uma protagonista em um formato que não estava acostumada, (o sitcom ‘Tem que suar’, no Multishow), então pinta o medo de não dar conta ou de não gostar. Minha rotina ficou muito alterada, o emocional descompensou alguns cuidados com minha saúde física, coisa que sempre foi importante pra mim. Por outro lado, também foi um período muito rico de vivências, de experimentar uma liberdade que nunca havia sentido, com o meu tempo, dinheiro, corpo, sexualidade”. Ela analisa o ótimo relacionamento com os fãs nas redes sociais e frisa que “haters só aparecem quando a mensagem é levada pela mídia ‘caça cliques’ de forma equivocada”

*Por Brunna Condini

Definitivamente 2023 foi o ano de potencializar capacidades para Mariana Xavier. Ela que vem se consolidando como comunicadora na internet, experimentou o protagonismo na TV com o humorístico do Multishow ‘Tem Que Suare seguiu turnê com seu solo ‘Antes do ano que vem‘ pelo Brasil. A liberdade de escolha e a mensagem continuam sendo fundamentais na carreira da atriz de 43 anos, com as dores e delícias da exposição decorrente disso. “O que recebo de carinho e de retorno sobre o quanto contribuo para melhorar a vida das pessoas, supera e muito, qualquer tipo de hate que possa rolar. Aliás, tenho poucos haters, eles só costumam aparecer quando a mensagem que levo ‘fura a bolha’ de uma comunidade bacana que já vem me acompanhando e pensando junto os temas que proponho. Na verdade, também aparecem quando a mensagem é levada pela mídia ‘caça cliques’ de forma equivocada”, analisa. “A ideia é sempre contribuir para o coletivo, partindo das minhas experiências, reflexões”.

Mudei de bairro, tive o fim de um relacionamento, encarei um projeto com uma protagonista em um formato que não estava acostumada, (o sitcom ‘Tem que suar’, no Multishow), então pinta o medo de não dar conta ou de não gostar. Minha rotina ficou muito alterada, o emocional descompensou alguns cuidados com minha saúde física, coisa que sempre foi importante pra mim. Por outro lado, também foi um período muito rico de vivências, de experimentar uma liberdade que nunca havia sentido, com o meu tempo, dinheiro, corpo, sexualidade. Então o saldo de 2023 foi positivo de aprendizados, mas também foi um ano desafiador – Mariana Xavier

Por isso mesmo, Mariana escolheu começar o ano no palco com ‘Antes do ano que vem‘, que reestreou no Rio de Janeiro nesta quinta-feira (4), no Teatro Adolpho Bloch, na Glória. “Minha melhor contribuição neste começo de 2024 é esta peça”, diz, sobre o espetáculo escrito por Gustavo Pinheiro e dirigido por Lázaro Ramos e Ana Paula Bouzas, em cartaz no Teatro Adolpho Bloch, na Glória, até 25 de fevereiro. A comédia fala sobre nossas dores emocionais e a capacidade de nos reinventarmos, de forma leve e esperançosa, ótima pedida para um ciclo que está começando. Neste bate-papo, Mariana chama à atenção para a necessidade de gerenciar as grandes expectativas que criamos na virada de um ano para o outro. “Nem todo ano a gente começa cheio de energia, já não comecei e tudo bem. Esse 2024 iniciei empolgada. Mas pra quem não começou, vale aquela máxima que toda mãe sempre diz: ‘você não é todo mundo. Não precisa fazer ou sentir o que esperam de você’. A virada do ano é sobre calendário, uma forma de marcar o tempo, não é algo conectado com o nosso coração. Você não está sozinho, muita gente sente o mesmo. Na peça também falamos disso, de como nos reconhecemos nas nossas questões, na nossa solidão, desamparo, mesmo em realidades muito diferentes”, compartilha.

“Tem muita coisa que eu falo na peça que serve para mim também, como por exemplo: “Quando o mar está mexido, mergulhamos lá no fundo, perto da areia, aí a onda passa por cima e a gente nem vê. Daqui a pouco o mar está bom novamente e você vai poder partir com tudo pra cima das ondas”. Esse texto me emociona porque 2023 para mim foi isso: um mar revolto, que quando eu achava que podia colocar a cabeça para fora da onda, vinha outra. Quase um ‘eletrocardiograma’, de tantos altos e baixos (risos). Foi um ano de muitas transformações, recomeços, mudanças, que mesmo quando são positivas, são desafiadoras, te desorganizam. Movi muitos pilares da minha vida de uma vez só, e quando você faz isso, a estrutura balança”. E reflete mais sobre o período:

Mariana Xavier reestreia peça, fala de saúde mental e faz reflexões para o ano novo (Aralume Fotografia)

Mariana Xavier reestreia peça, fala de saúde mental e faz reflexões para o ano novo (Aralume Fotografia)

Sobre o ciclo que se inicia, ela faz uma reflexão própria. “Muita gente me pergunta qual é o meu grande sonho, mas nunca fui uma pessoa de muitas metas. Acho que antes do carpe diem virar moda, eu já era essa pessoa do ‘faz o melhor que você puder hoje’, o que acha que é certo. O resto, o fluxo do universo vai te levar para onde você deve ir. Então, talvez hoje eu tenha a sensação de que cheguei num lugar incrível, muito além de onde achei que poderia chegar, porque não projetei nada tão longínquo assim. Eu só queria viver com dignidade da minha profissão. Sempre peguei cada oportunidade e tratei como a grande oportunidade da minha vida. Isso mostra o que realmente importa. Tenho sonhos, mas não fico esperando que aconteçam para eu ser feliz. A peça é muito sobre isso: ser feliz hoje, com as pequenas coisas do dia a dia, os pequenos milagres da vida, os pequenos momentos de felicidade que não queremos que acabe”.

Mas quais são os sonhos hoje? “Fazer papeis diferentes, mais dramáticos, quem sabe uma personagem de época, um musical. E, antes disso, levar a peça para todo o Brasil. De 2020 para cá, entre a estreia e as pausas, fiz 20 cidades, 14 estados. Faltam 13 para completar o mapa. Esse espetáculo me dá muita felicidade de fazer. Vimos nesta virada de ano tantas notícias de pessoas que tiraram suas vidas, então é algo que ainda é necessário pensar sobre. A comédia tem esse poder de trazer para a roda reflexões sérias de forma mais fácil. Por isso quero rodar muito com esse solo ainda”. E conclui:

De pessoal, não diria sonho, mas sou ‘passarinha de gaiola’. Estou curtindo a minha solteirice, liberdade, mas ainda sou a pessoa para ter um amor legal, um relacionamento bom. Só não tenho  o sonho de casar e tal – Mariana Xavier

"Cheguei num lugar incrível, muito além de onde eu achei que poderia chegar, porque não projetei nada tão longínquo assim. Eu só queria viver com dignidade da minha profissão" (Foto: Ale Ruaro)

“Cheguei num lugar incrível, muito além de onde eu achei que poderia chegar, porque não projetei nada tão longínquo assim” (Foto: Ale Ruaro)

Começando 2024 nos palcos, como ela gosta,  a atriz entende a necessidade geral para fazer planos em um ciclo novo, mas alerta sobre a dosagem com as expectativas no combo, que podem virar meio caminho andado para as frustrações. “É curioso porque vivemos um momento em que nos estimulam a não criarmos expectativas, só que não existe viver neste mundo sem algum nível delas. Precisamos evitar é o excesso de expectativas, mas algum nível é necessário ter. Isso faz a gente desejar ser melhor, nos move. Mas é aquilo: tudo é remédio e tudo é veneno, depende da dosagem”, observa Mariana.

“A peça nasceu de uma notícia que o Gustavo leu mencionando que as noites de ano novo eram críticas no que diz respeito à procura por serviços de amparo emocional, psicológico. A virada do ano leva a gente pra esse balanço existencial, para essa reflexão, projeção do que desejamos, e muitas vezes isso acontece de uma forma muito fantasiosa. Como se tudo fosse acontecer em um passe de mágica porque o ano mudou. Acaba sendo, em uma medida, até ‘confortável’  botar na conta do calendário as mudanças que nós é que precisamos fazer.  Nesta época do ano tem muita gente na energia da renovação, do que deixou para trás, mas também tem gente na energia da frustração, do que não conseguiu realizar. E muitas vezes temos que encarar que a não realização de algumas coisas vem na falha das metas que nos colocamos. Da expectativa de felicidade em metas muito grandiosas e difíceis de alcançar, esquecendo que para chegar nesse lugar precisamos dar o primeiro próximo passo. Fazer o básico, bem feito, que já está bom. Acho que um caminho para não nos frustrarmos tanto é fazermos metas reais, possíveis, que dependam mais de nós. Repensar esse começo de ciclos com mais simplicidade e nos acolhendo. Todo dia pode ser uma virada, um feliz ano novo”.

"Estou curtindo a minha solteirice, liberdade, mas ainda sou a pessoa para ter um amor legal, um relacionamento bom" (Foto: Ale Ruaro)

“Estou curtindo a minha solteirice, mas ainda sou a pessoa para ter um amor legal, um relacionamento bom” (Foto: Ale Ruaro)