*Por Brunna Condini
Morando em São Paulo há um ano, Maria Maya já contabiliza por lá trabalhos – inclusive com a peça ‘Não Somos Amigas‘, que estreou sexta-feira – e um grande amor. “Vim para fazer uma websérie produzida pelo Instagram no Brasil, com alguns atores e influenciadores e acabei ficando por uma relação amorosa (risos). Não quero mais sair daqui, já virei cidadã paulistana. Pretendo começar uma nova trajetória por aqui. Sou apaixonada por São Paulo, embora ame meu Rio”, diz Maria, que está namorando a gerente comercial Amanda Labrego.
“Havia acabado de terminar uma relação, estava focando no trabalho e conheci a Amanda. Foi um encontro imprevisível, surpreendente. Nos conhecemos neste universo da internet e deu match. Estamos morando juntas e isso já é um casamento, né? É interessante, porque ela trabalha com uma plataforma de inteligência, blindagem de carros, um universo completamente diferente do meu. É uma troca boa. Somos curiosas, nos ajudamos e nos completamos”.
Desejo felicidade para todas as pessoas que estão se descobrindo em suas identidades de gênero, que desejam viver seus amores com liberdade. Isso não precisa de regras. Para amar só precisa de disposição – Maria Maya, atriz e diretora
Aos 41 anos, Maria abre o coração: “Escolhi não ter filhos, mas isso não quer dizer que não possa acontecer. Atualmente estou em uma relação estável com a Amanda e conversamos sobre isso. Então, se virar um propósito nosso, obviamente que estou aberta. Posso pensar até na adoção. Pode ser que estabeleça meu lado maternal de alguma forma”.
Como atriz, ela pode ser vista na reprise de ‘Caminho das Índias‘, no canal Viva, e, em breve em ‘Chocolate com Pimenta‘, que estreia no Vale a Pena Ver de Novo. “Também estou dando uma retomada no meu trabalho como atriz. Acabei de fechar uma participação em ‘O Som e a Sílaba‘, série do Miguel Falabella para Disney+, que começará a ser gravada em outubro, em São Paulo. Miguel é um padrinho na minha carreira, uma inspiração. Vai ser interessante voltar para a frente das câmeras. Acho que toda a minha experiência com a direção só vai corroborar no meu trabalho atuando. Isso me torna uma atriz mais consciente”.
Cheia de planos, ela revela ainda: “Vou dirigir um musical pela primeira vez também, que vai estrear em fevereiro de 2023. Chama-se ‘Bring it on‘. E estou com um projeto de espetáculo com o Reynaldo Gianecchini, Rosi Campos, o ‘Cadeia Alimentar‘. Está em processo de edital, captação. Estamos muitos órfãos das leis. Desejo que neste novo momento político que está para se abrir possamos reafirmar os propósitos que já foram estipulados em relação às leis de incentivo à Cultura. Fazer esse espetáculo agora é poder reafirmar meu espaço na cena paulistana de teatro. É um privilégio estar no palco depois de dois ano e meio de pandemia”.
NÃO SOMOS AMIGAS
Em sua sexta direção, Maria Maya traz para a cena uma releitura de ‘Não Somos Amigas‘, espetáculo já dirigido por ela em 2017, e que está em cartaz na SP Escola de Teatro – Unidade Roosevelt, em São Paulo, para falar de uma relação misteriosa de interdependência entre duas mulheres, fazendo uma reflexão sobre vida e morte, memória e afetos.
Sobre a atual encenação, com Luluh Pavarin e Izabela Pimentel em cena, ela detalha: “Valorizo as dramaturgias que colocam o espectador em um lugar ativo, que faz com ele caminhe junto com a história, e possa se questionar, tentar desvendar durante o espetáculo: elas são amigas, namoradas, irmãs, inimigas, atrizes? Propomos esse jogo. Gosto de conversar com o público quando acaba a peça, para entender como foi a experiência”. Em um apartamento na periferia de uma cidade da América Latina, duas mulheres de diferentes gerações travam um duelo sobre a realidade de sua história em comum enquanto um documento precisa ser assinado. Afinal, quem são elas e o que realmente está acontecendo? Apenas uma certeza: não são amigas.
Trabalho no amor, sou do afeto. Digo que a direção é 40% talento e 60% psicologia – Maria Maya, atriz e diretora
UMA EQUIPE FEMININA
Quem explica É a diretora, Maria Maya: “Em cena, temos duas mulheres e não sabemos de fato quem são, mas percebemos que elas são unidas por um amor incondicional. Fora da cena, temos outras tantas mulheres com o mesmo objetivo, um amor incondicional pelo teatro. E partindo deste princípio, da necessidade do fazer teatral sob um olhar feminino, que formamos este coletivo de profissionais. Quando fui convidada para dirigir esse espetáculo, não tive dúvidas que esta seria uma combinação perfeita. Michelle Ferreira, uma autora inquieta, que fala do mundo de hoje, uma das maiores expoentes da cena contemporânea paulistana, e Luluh Pavarin, uma atriz virtuosa, capaz de aliar o drama e a comédia em uma única sentença. E foi assim que nos afinamos, através da sensibilidade e do humor, para construir juntas uma peça que pudesse afetar o público da mesma forma que nos afetou como artistas.
A MONTAGEM, POR MARIA MAYA
“Como diretora, durante o processo de construção de um espetáculo, gosto sempre de buscar referências que corroborem o discurso desejado. Em ‘Não somos Amigas’ não teria como ser diferente. Mergulhei na obra de René Magritte, um pintor surrealista belga que influenciou a pintura de seu país no século XX, pois ele conseguia captar a essência da realidade e transformá-la em imagens absolutamente engenhosas e surpreendentes onde se questionava a própria realidade. Foi assim que construi a minha encenação, nessa mesma ótica conceitual proposta por Magritte. Estabelecendo não só na palavra, mas nos gestos, nas imagens e nas intervenções sonoras uma relação estranha e ambígua entre o real e o imaginário. Tirando o espectador do seu lugar passivo, e o fazendo refletir sobre quem são essas mulheres que se revezam entre o ódio e amor o tempo todo ,e o que as motiva a estarem naquele apartamento. Sem dúvida, é um dos trabalhos de que mais me orgulho ter dirigido.”
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