Marcello Gonçalves fala da sua segunda empreitada como diretor, meia-entrada e editais de cultura: “são excludentes e deixam gente boa de fora”


Marcello é o diretor de “Será que a gente influencia o Caetano?”, comédia de Mário Bortolotto que chega no Galpão das Artes do Espaço Tom Jobim a partir de 5 de agosto

“Será que a gente influencia o Caetano?”, comédia que chega ao Galpão das Artes do Espaço Tom Jobim a partir de 5 de agosto, foi escrita por Mário Bortolotto há 30 anos. E antes que você torça o nariz, deixando o espetáculo no final da sua lista de próximas idas ao teatro, a gente já avisa: ele realmente poderia estar ultrapassado, mas não é o caso. E quem explica o porquê é o diretor Marcello Gonçalves, o mesmo de “Nossa Vida não Vale um Chevrolet”. “A gente vê uma repetição com a década de 90, com os inúmeros casos de corrupção. Tem também o humor renascendo no país, os novos comediantes chegando. O texto fala sobre anseios, sobre como não podemos ficar parados em tempos de crise. E a gente não está passando por nada diferente disso”, disse.

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Marcello foi convidado pelos dois atores a entrar no projeto (Foto: Reprodução)

A peça, da Companhia Tartufaria de Atores, traça um irônico retrato de uma geração arrogante e acostumada à acomodação a partir dos jovens Beto Virgem (Andrey Lopes) e Mário (Fábio Guará). “O grande desejo do Beto é ser um grande compositor, um poeta, um grande escritor. Já o Mário quer ser um homem do showbiz. Os dois juntos decidem fazer uma letra de uma música, que, na verdade, são várias misturas interessantes para influenciar o Caetano Veloso. Mas eles são tão patéticos que óbvio que não conseguem”, contou Marcello. Por trás da graça, porém, é importante dizer que há uma missão de fazer os espectadores saírem diferentes do que entraram no teatro. “Eu pretendo que a peça passe que os jovens não devem ficar acomodados. Quais são suas escolhas? Eles fazem o que gostam? Você tem que fazer faculdade? Eu tenho que ser o melhor diretor? Você tem que ser o melhor jornalista?”, questionou.

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Ensaio de “Será que a gente influencia o Caetano?” (Foto: Divulgação)

No mesmo compasso que pergunta, Marcello Gonçalves já trata de responder. “Não temos necessariamente que ser. Mas essas são as questões colocadas. Um dos personagens, por exemplo, para conseguir entrar para a faculdade ficou oito anos tentando o cursinho. Foi reprovado em todas. Já o outro é mais ligeiro, já começou, já fez e já terminou”, contou. Com apenas dois meses de ensaio para o Festival de Curitiba, “Será que a gente influencia o Caetano?”, chegou ao diretor através de um convite dos dois atores, Andrey e Fábio. “Eles foram assistir a um ensaio de ‘Boderline’ e me convidaram para dirigir. Quando falaram que era Bortolotto, eu não pensei duas vezes. É um gênio contemporâneo”. A empatia com o projeto foi tão grande, que superou os problemas como a falta de patrocínio, por exemplo. “O texto também é atual por isso, porque ele fala de arte e das dificuldades”.

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Ensaio de “Será que a gente influencia o Caetano?” (Foto: Divulgação)

A produção de “Será que a gente influencia o Caetano?” já está tratando de levar Caê ao Galpão das Artes. E enquanto ele não retorna da turnê na Europa ao lado do amigo Gilberto Gil, uma massa já aclamou a peça no Sul do país. Recentemente apresentada no 24º Festival de Teatro de Curitiba, a produção se classificou entre as 5 melhores comédias da temporada. “A gente não tinha estrutura para participar da competição e competimos na categoria ‘Fringe’ [competição paralela à mostra principal]. A gente não tinha condições técnicas dentro da concepção artística para montar tudo lá, sendo que só ofereciam o teatro. Mas a gente ficou muito feliz porque estava com um bom produto na mão, um bom roteiro e bons comediantes”, avaliou o diretor.

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(Foto: Reprodução)

HT ainda aproveitou que estava com Marcello Gonçalves para usar seus mais de 20 anos de carreira como ator no teatro e na televisão, e sua investida como diretor em 2014 para debater alguns temas polêmicos ao meio teatral como, por exemplo, a Lei da Meia-Entrada. Há quem diga que há uma farra dos descontos e uma falta de critério, como a liberação para doadores de sangue. Ele discorda. “Cinema tem meia-entrada, então teatro deve ter. Mas deveria ser limitada, por exemplo, para as primeiras 50 pessoas que chegassem. Depois que acabar a cota tem que pagar o preço normal. Mas não deveríamos ser radicais, não”. Já para os editais culturais, por outro lado, ele já não mantém  a mesma linha. “As leis são boas e são ruins e têm os dois lados da moeda. Na maioria dos casos, elas privilegiam quem está no mercado atuante de alguma forma, seja na TV ou no cinema. Elas são democrática dentro da questão polícia do estado, mas ao mesmo tempo excludentes e deixam gente boa de fora”, opinou.

Problemáticas, à parte, “Será que a gente influencia o Caetano?” fica em cartaz quartas e quintas-feiras, às 21h, até o dia 24 de setembro. Ainda não se convenceu se dever ir ou não? Marcello dá o ultimato: “Saiba que vai se divertir muito. A vida está uma loucura, com tanto estresse. Você vai rir certamente”. Nada mal, né?

Serviço

Será que a gente influencia o Caetano?

Estreia: 5 de agosto de 2015

Temporada: De 5 de agosto até 24 de setembro

Datas: Quartas e Quintas-feiras

Horário: 21h

Local: Espaço Tom Jobim – Galpão das Artes

Endereço: Rua Jardim Botânico – 1008 – Jardim Botânico -Telefone – (21) 2274-7012

Duração: 70 min.

Classificação: 12 anos

Capacidade: 55 Lugares

Preço: R$ 40,00 (Inteira) – R$ 20,00 (Meia entrada)

Gênero: Comédia

Funcionamento da Bilheteria: De terça a domingo – Das 14h até o horário de início do espetáculo.

Vendas: www.ingresso.com.br