*Por Brunna Condini
Desde que teve seu contrato encerrado com a TV Globo, em 2016, Maitê Proença vem se dedicando cada vez mais ao teatro, um espaço livre criativo, que combina bem com a mulher que chega aos 65 anos falando abertamente sobre a própria vida, experiências e o mundo ao redor, sem meias palavras e gastando seu tempo com o que lhe interessa. O íntimo e pessoal se misturam a reflexões humanas e artísticas em seus últimos trabalhos, como no solo ‘O Pior de Mim‘, que retorna aos palcos. Maitê continua a se desafiar e se aventurar, tanto que após firmar seu nome na literatura adulta, pretende experimentar a infantil. “Vou escrever as histórias para crianças que conto para a minha neta”, anuncia a atriz, que é avó de Manuela, de 3 anos, filha de Maria, 32 anos. Tendo como prazeres do ofício artístico atuar e escrever, Maitê também não descarta investir em uma versão sua roteirista. “Estudei roteiro na NYU (New York University) por quatro meses, em um curso intensivo com um professor magistral. Entendi a mecânica, porque fui obrigada a produzir um roteiro lá, e tirei nota máxima… palmas pra mim (risos). Acabei não praticando depois, mas quem sabe?”.
Nas telas, a atriz poderá ser vista em 2024, na terceira temporada da série ‘Bom Dia, Verônica‘, da Netflix. Afastada da TV, ela não fala sobre a divulgação de um processo contra a Globo, em que estaria pedindo o reconhecimento dos direitos trabalhistas e do vínculo empregatício, e apenas declara: “Fiquei 37 anos na emissora, tenho as melhores memórias. E, claro, outras, não tão boas”.
Enquanto o mundo enxergava uma estrela fulgurante, bem sucedida, um sex symbol, por dentro o que acontecia eram barreiras emocionais que eu nem conseguia enxergar – Maitê Proença
Eternizada na dramaturgia em papeis marcantes como a protagonista de ‘Dona Beija‘ (1986), na extinta Manchete; a professora Clotilde da novela ‘O Salvador da Pátria‘ (1989), e uma das Helenas de Manoel Carlos em ‘Felicidade’ (1991), ao falar sobre a TV, desconversa ao ser questionada se sente saudades do veículo: “Acabo de rodar a terceira temporada de ‘Bom Dia, Verônica‘, que terá Rodrigo Santoro, Reynaldo Gianecchini de novo, Tainá (Müller, protagonista da série), claro, e o elenco mais fixo. Foi maravilhoso. Também devo rodar uma outra série que ainda está em negociação”.
São 65 anos de vida e 44 de carreira, se fosse destacar o que deu muito certo e o que deu muito errado, o que seria? “O que deu muito certo foi que a atriz, por precisar sentir, me levou aos meus interiores trancados e foi escancarando tudo, abrindo, me libertando. A atriz me salvou de mim mesma. O que deu errado, são as diversas histórias que eu conto na peça”.
Os haters são um efeito colateral da internet, mas aparecem pouco e não ligo muito pra eles, pobres coitados com atrofia emocional e intelectual – Maitê Proença
O pior de cada um
Maitê quer te convidar para falar de você, a partir dela. É essa a proposta central da atriz em ‘O Pior de Mim‘. “Quero falar dos segredos profundos que todos temos e escondemos nos dando ares de arrogância, e erguendo muros de diversos tipos. Queremos nos aproximar do outro, queremos ser gostados, e erguemos muros onde deveríamos estar construindo pontes. Ao contar histórias dos meus fracassos retumbantes, as pessoas se encorajam para olhar os seus próprios, e se livrar deles. Se ela faz, eu posso também”.
Vou escrever as histórias para crianças que conto para a minha neta – Maitê Proença
Pretendendo provocar cada um que for lhe assistir sobre o que fez da própria vida com o ‘enredo’ que recebeu ao longo dela, Maitê fala de si: “Eu, por exemplo, fiz o que pude. E demorei muito. Enquanto o mundo enxergava uma estrela fulgurante, bem sucedida, uma sex symbol, por dentro o que acontecia eram barreiras emocionais que eu nem conseguia enxergar”.
O que mudou do espetáculo de agora em relação às outras temporadas? “A peça nasceu durante a pandemia e foi encenada online. Agora eu interajo como o público que está dentro do teatro. E o teatro fica vivo nessa interação que faz a peça mudar a cada noite. A montagem agora tem um vídeo projetado em uma cortina enorme ao fundo do palco, tem o videomaker que está filmando em tempo real. É um conceito todo novo que enche os olhos”, divulga.
Quero falar dos segredos profundos que todos temos e escondemos nos dando ares de arrogância, e erguendo muros de diversos tipos – Maitê Proença
Os registros, reflexões e confidências da artista também estão eternizados na versão literária do texto da peça, que tem concepção gráfica de Ronaldo Fraga e é tipo vira-vira, com duas frentes: uma para a reedição de ‘Uma Vida Inventada‘ – romance com elementos autobiográficos que ela publicou em 2008 e que acompanha duas meninas em uma jornada de descobertas – e outra para ‘O Pior de Mim‘. “Em ‘Uma Vida Inventada’ a história de duas mulheres se cruzam. Se uma delas for a Maitê, e isso quem decide é o leitor, então ‘O Pior de Mim’ conta o futuro daquela pessoa”.
On na Internet
Com um olhar instigante para o mundo, Maitê tem estado ativa nas publicações em seu Instagram, e diz que é menos por vaidade do que por compartilhar curiosidades e conhecimento, e comenta essa relação nas redes. “Falo menos de mim do que de tudo o mais que me interessa. Faço uma curadoria bem criteriosa de vídeos divertidos ou com conceitos inteligentes e criativos. Tenho também o quadro de mulheres de fibra em que já falei de 400 mulheres admiráveis”. E como no pacote de tudo existem as dores e delícias, ela observa sobre os haters: “São um efeito colateral, mas aparecem pouco e não ligo muito para eles, pobres coitados com atrofia emocional e intelectual”.
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