Maitê Proença volta ao teatro, fala das frustações escondidas e revela que vai se lançar na literatura infantil


“Ao contar histórias dos meus fracassos retumbantes, as pessoas se encorajam para olhar os seus próprios, e se livrar deles”, diz a atriz sobre o solo “O Pior de Mim”. Nesta entrevista, Maitê, que teve seu contrato encerrado com a Globo em 2016, aborda a relação com a emissora, mas prefere não comentar o processo que corre na Justiça. Nas telas, ela poderá ser vista na terceira temporada da série ‘Bom Dia, Verônica’, da Netflix, e tem o projeto de escrever para o público infantil e não descarta se aventurar na escrita de roteiros. E ainda dispara sobre sua atividade mais constante nas redes sociais: “Os haters são um efeito colateral, mas aparecem pouco e não ligo muito para eles, pobres coitados com atrofia emocional e intelectual”

*Por Brunna Condini

Desde que teve seu contrato encerrado com a TV Globo, em 2016, Maitê Proença vem se dedicando cada vez mais ao teatro, um espaço livre criativo, que combina bem com a mulher que chega aos 65 anos falando abertamente sobre a própria vida, experiências e o mundo ao redor, sem meias palavras e gastando seu tempo com o que lhe interessa. O íntimo e pessoal se misturam a reflexões humanas e artísticas em seus últimos trabalhos, como no solo ‘O Pior de Mim‘, que retorna aos palcos. Maitê continua a se desafiar e se aventurar, tanto que após firmar seu nome na literatura adulta, pretende experimentar a infantil. “Vou escrever as histórias para crianças que conto para a minha neta”, anuncia a atriz, que é avó de Manuela, de 3 anos, filha de Maria, 32 anos. Tendo como prazeres do ofício artístico atuar e escrever, Maitê também não descarta investir em uma versão sua roteirista. “Estudei roteiro na NYU (New York University) por quatro meses, em um curso intensivo com um professor magistral. Entendi a mecânica, porque fui obrigada a produzir um roteiro lá, e tirei nota máxima… palmas pra mim (risos). Acabei não praticando depois, mas quem sabe?”.

Nas telas, a atriz poderá ser vista em 2024, na terceira temporada da série ‘Bom Dia, Verônica‘, da Netflix. Afastada da TV, ela não fala sobre a divulgação de um processo contra a Globo, em que estaria pedindo o reconhecimento dos direitos trabalhistas e do vínculo empregatício, e apenas declara: “Fiquei 37 anos na emissora, tenho as melhores memórias. E, claro, outras, não tão boas”.

Enquanto o mundo enxergava uma estrela fulgurante, bem sucedida, um sex symbol, por dentro o que acontecia eram barreiras emocionais que eu nem conseguia enxergar – Maitê Proença

Maitê Proença fala de nova temporada do seu solo, e de satisfação e frustrações ao longo da vida (Foto: Felipe O'Neill)

Maitê Proença fala de nova temporada do seu solo, e de satisfação e frustrações ao longo da vida (Foto: Felipe O’Neill)

Eternizada na dramaturgia em papeis marcantes como a protagonista de ‘Dona Beija‘ (1986), na extinta Manchete; a professora Clotilde da novela ‘O Salvador da Pátria‘ (1989), e uma das Helenas de Manoel Carlos em ‘Felicidade’ (1991), ao falar sobre a TV, desconversa ao ser questionada se sente saudades do veículo: “Acabo de rodar a terceira temporada de ‘Bom Dia, Verônica‘, que terá Rodrigo Santoro, Reynaldo Gianecchini de novo, Tainá (Müller, protagonista da série), claro, e o elenco mais fixo. Foi maravilhoso. Também devo rodar uma outra série que ainda está em negociação”.

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"Enquanto o mundo enxergava uma estrela fulgurante, bem sucedida, um sex symbol, por dentro o que acontecia eram barreiras emocionais que eu nem conseguia enxergar" (Divulgação)

“Enquanto o mundo enxergava uma estrela fulgurante, bem sucedida, um sex symbol, por dentro o que acontecia eram barreiras emocionais que eu nem conseguia enxergar” (Divulgação)

São 65 anos de vida e 44 de carreira, se fosse destacar o que deu muito certo e o que deu muito errado, o que seria? “O que deu muito certo foi que a atriz, por precisar sentir, me levou aos meus interiores trancados e foi escancarando tudo, abrindo, me libertando.  A atriz me salvou de mim mesma. O que deu errado, são as diversas histórias que eu conto na peça”.

Os haters são um efeito colateral da internet, mas aparecem pouco e não ligo muito pra eles, pobres coitados com atrofia emocional e intelectual – Maitê Proença

O pior de cada um 

Maitê quer te convidar para falar de você, a partir dela. É essa a proposta central da atriz em ‘O Pior de Mim‘. “Quero falar dos segredos profundos que todos temos e escondemos nos dando ares de arrogância, e erguendo muros de diversos tipos. Queremos nos aproximar do outro, queremos ser gostados, e erguemos muros onde deveríamos estar construindo pontes. Ao contar histórias dos meus fracassos retumbantes, as pessoas se encorajam para olhar os seus próprios, e se livrar deles. Se ela faz, eu posso também”.

Vou escrever as histórias para crianças que conto para a minha neta – Maitê Proença

Maitê em cena no solo 'O Pior de Mim' (Divulgação)

Maitê em cena no solo ‘O Pior de Mim’ (Divulgação)

Maitê em cena no solo 'O Pior de Mim' (Divulgação)

Maitê em cena no solo ‘O Pior de Mim’ (Divulgação)

Pretendendo provocar cada um que for lhe assistir sobre o que fez da própria vida com o ‘enredo’ que recebeu ao longo dela, Maitê fala de si: “Eu, por exemplo, fiz o que pude. E demorei muito. Enquanto o mundo enxergava uma estrela fulgurante, bem sucedida, uma sex symbol, por dentro o que acontecia eram barreiras emocionais que eu nem conseguia enxergar”.

O que mudou do espetáculo de agora em relação às outras temporadas? “A peça nasceu durante a pandemia e foi encenada online. Agora eu interajo como o público que está dentro do teatro. E o teatro fica vivo nessa interação que faz a peça mudar a cada noite. A montagem agora tem um vídeo projetado em uma cortina enorme ao fundo do palco, tem o videomaker que está filmando em tempo real. É um conceito todo novo que enche os olhos”, divulga.

Quero falar dos segredos profundos que todos temos e escondemos nos dando ares de arrogância, e erguendo muros de diversos tipos – Maitê Proença

"O que deu muito certo foi que a atriz, por precisar sentir, me levou aos meus interiores trancados e foi escancarando tudo, abrindo, me libertando" (Divulgação)

“O que deu muito certo foi que a atriz, por precisar sentir, me levou aos meus interiores trancados e foi escancarando tudo, abrindo, me libertando” (Divulgação)

Os registros, reflexões e confidências da artista também estão eternizados na versão literária do texto da peça, que tem concepção gráfica de Ronaldo Fraga e é tipo vira-vira, com duas frentes: uma para a reedição de ‘Uma Vida Inventada‘ – romance com elementos autobiográficos que ela publicou em 2008 e que acompanha duas meninas em uma jornada de descobertas – e outra para ‘O Pior de Mim‘. “Em ‘Uma Vida Inventada’ a história de duas mulheres se cruzam.  Se uma delas for a Maitê, e isso quem decide é o leitor, então ‘O Pior de Mim’ conta o futuro daquela pessoa”.

On na Internet

Com um olhar instigante para o mundo, Maitê tem estado ativa nas publicações em seu Instagram, e diz que é menos por vaidade do que por compartilhar curiosidades e conhecimento, e comenta essa relação nas redes. “Falo menos de mim do que de tudo o mais que me interessa. Faço uma curadoria bem criteriosa de vídeos divertidos ou com conceitos inteligentes e criativos. Tenho também o quadro de mulheres de fibra em que já falei de 400 mulheres admiráveis”. E como no pacote de tudo existem as dores e delícias, ela observa sobre os haters: “São um efeito colateral, mas aparecem pouco e não ligo muito para eles, pobres coitados com atrofia emocional e intelectual”.

"A atriz me salvou de mim mesma" (Foto: Felipe O'Neill)

“A atriz me salvou de mim mesma” (Foto: Felipe O’Neill)