A maior tragédia da literatura virou comédia nas mãos da Múltipla Cia Teatral. Quem nunca precisou de um lençinho enquanto acompanhava, seja no cinema ou em peças, a triste trajetória do casal de apaixonados Romeu e Julieta? Desde que o romance foi lançado, ganhou muitos adeptos e fãs que não perdem a oportunidade de ver uma releitura nos cinemas, na literatura ou no teatro. Em Violeta.Eu.Elas.Julieta a história shakespeariana adquiriu pitadas de humor através de códigos que possuem referência de narrativa e comédia física. A equipe mistura bufão, palhaçaria, comédia dell’arte e outros para trazer esta visão diferenciada sobre a peça. “Em abril de 2015, pegamos o texto original, começamos a levantar verba e, ao mesmo tempo, buscar outras poéticas para nos ajudar a construir o roteiro. Criamos esta dramaturgia até abril deste ano e nela compreendendo a linguagem que queríamos trabalhar. Isso só foi possível porque vários artistas trabalharam ao mesmo tempo para chegar a este resultado. Inicialmente, não sabíamos se íamos nos aproximar do texto do Shakespeare ou se iríamos trazer Romeu e Julieta para a linguagem contemporânea, mas no final acabamos chegando em um híbrido destas duas coisas”, explicou Rodrigo Turazzi que foi o responsável por adaptar o roteiro, por dirigir a peça, fazer o cenário e ainda atuar.
Rodrigo conseguiu o melhor dos dois mundos, aproximar o texto com as reflexões atuais sem se distanciar de uma narrativa de época. Dessa forma, trouxe mensagens sobre o universo da mulher que se localiza no espetáculo em referências à estética de Julieta. “Não falamos explicitamente sobre a objetificação do corpo, mas hoje em dia temos muitos discursos que trazem a consciência da mulher e mostram que ela pode viver em qualquer lugar da sociedade. Isso acontece para que nós não tenhamos uma diferenciação por gênero. Antigamente isso era impensável. As situações que Julieta é colocada ao longo da peça estão, muitas vezes, presentes até hoje no discurso feminino. Mostra coisas que se luta até hoje para mostrar o lugar que a mulher tem e merece ter. A gente quer mostrar com a peça que é possível dialogar sobre este espaço através do amor, independente de orientações sexuais. Trazemos o debate sobre a igualdade”, explicou o diretor. Além disso, existem inserções sutis ao longo da narrativa que expões, de forma individual, como as atrizes enxergam a protagonista. “Para muitas mulheres ela é uma personagem ícone e muito significativa. Há um diálogo sobre quem é a Julieta e sobre o que ela vive na peça que ajudam a desmistificar esta história”, concluiu.
Ao todo são três atores, Carolina Alfradique, Duda Paiva e Rodrigo Turazzi, que se dividem entre mais de catorze personagens dentre eles a própria Julieta e o Romeu. “A cena final é feita por duas mulheres. A Julieta é feita pelas duas atrizes ao longo do espetáculo, elas vão intercalando. Em um momento da peça, o Romeu também é feito por elas, antes apenas eu estava fazendo”, contou Rodrigo. Apesar de haver uma troca constante entre os atores, o elenco não teve medo que esta rotatividade tirasse a importância cênica do casal principal, assim como sua força no palco. “A comedia física estabelece, de forma clara, quem são os principais, por isso não tivemos medo que Romeu e Julieta perdessem sua força cênica. Não temos adereços ou ilustração destes personagens para dizer quem é quem. Sabemos quem são a partir de elementos físicos que atribuímos a cada um, o que faz a peça ficar mais leve”, explicou.
A experiência dos atores é crucial na peça, pois é a desenvoltura deles na cena que dará sentido ao humor. A partir do momento em que o espetáculo se inicia, eles compartilham com o público os códigos físicos que permitiram o riso. Tais sinalizações irão mostrar qual a característica de cada personagem. “A nossa linguagem e códigos são estabelecidos no início do espetáculo, de forma clara, e são mantidos ao longo da peça”, informou. Através desta mudança de personagem é que sai o humor da peça.
No entanto, uma das maiores dificuldades do enredo é conseguir unir o humor com a tristeza da última cena, quando o casal morre. Era importante que a construção do roteiro trouxesse uma leveza que pudesse distanciar o suicídio. “O nosso enredo obedece a narrativa original, mas como são apenas três atores precisamos englobar todos aqueles personagens expostos no texto. Respeitamos a cena final, mas tentamos focar na poesia desta cena em vez da tragédia e melancolia. A comédia parece no ritmo deste jogo entre os atores e pela linguagem humorística. Não é para o humor ser o resultado final, mas queríamos que estivesse presente no processo para ajudar no jogo de personagens”, explicou Rodrigo.
Além de dono da Cia teatral responsável pela criação da peça, Rodrigo Turazzi é diretor, dramaturgo e ator. Em cerca de dez anos de carreira, esta foi a primeira vez que ele se aventurou no comando de um espetáculo. “A responsabilidade e o compromisso aumentaram muito por estar atuando e dirigindo, ao mesmo tempo, um espetáculo cuja Cia sou um dos sócios. Ao mesmo tempo, estamos em um momento em que está muito difícil levar as suas ações e iniciativas culturais adiante por isso, apesar dos desafios, está sendo extremamente recompensador poder apresentar meu trabalho de diferentes formas. A autonomia da nossa produção dita o rumo do nosso trabalho”, contou. Mas o diretor não exclui a importância de uma grande equipe ao seu lado desde a concepção até a montagem. “Estou em cena com as duas atrizes, então, dirigi de dentro. O desafio foi extremamente prazeroso porque pude trabalhar com grandes profissionais. As duas atrizes são pessoas que confio muito e a equipe técnica me acrescentou com um trabalho da melhor qualidade”, comemorou.
Aliado a estreia, ele está dirigindo seu primeiro projeto audiovisual, Aos 30, cujas gravações começaram em outubro e vão até novembro, no Rio de Janeiro. Apesar de precisar conciliar os palcos com o atrás das câmeras, o ator afirmou ser muito importante para a atuação que o profissional passeie por diversas áreas da montagem. “De alguma forma, aprendi a fazer tudo junto, porque não acredito no trabalho do ator que é somente ator e não sabe o que se passa ao seu redor. Ele precisa saber como funciona o meio do qual sobrevive. Acho isso importante, inclusive, para que eu saiba com o que estou lidando naquele momento”, explicou.
SERVIÇO
Violeta.Eu.Elas.Julieta.
Local: Teatro Municipal Café Pequeno
Endereço: Av. Ataulfo de Paiva 269, Leblon
Telefone: 21 2294-4480
Horário de funcionamento: terça à sexta, de 16h às 20h, sábado e domingo, de 14h às 20h.
Não possui estacionamento.
Horários: Sexta-feira a domingo, 20h
Temporada: Até dia 29 de outubro
Capacidade: 80 lugares
Preço: R$ 30,00, R$ 15,00 (meia entrada*) *Concedida, mediante apresentação de documentos comprobatórios, a estudantes, professores, idosos, pessoas com deficiência.
Duração: 60 minutos
Classificação: 12 anos
Gênero: Comédia dramática
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