*Por Brunna Condini
Construindo um caminho cada vez mais autoral, Luisa Arraes fala dos projetos em que está envolvida no teatro, no cinema e na música, entendendo que essas facetas não são distintas, e sim, “vertentes da sua artista”. A artista lança primeiro single na terça-feira (dia 12), no Clube Manouche, no Jardim Botânico, no Rio, sendo parte integrante da banda Comes & Bebes, composta também por Arthur Braganti, Thiago Rebello e Gabriel Guerra. Celebra ainda a temporada de um texto seu para o teatro, o infantil ‘Suelen Nara Ian‘, .irigido por Débora Lamm. Segue criando como via de expressão e de autonomia. “Além disso, estreia no Festival do Rio o meu primeiro filme, o curta-metragem ‘Dependências’, que escrevi e dirigi. Coloquei na minha cabeça que enquanto não precisasse sustentar alguém, iria viver com o mínimo que pudesse para ter a experimentação da artista que eu queria ser. E tem sido assim. Também por ter nascido em uma família que trabalha com arte, sempre vi o quanto era importante ter o seu próprio produto, que é ter sua vida nas mãos e não ficar só à mercê dos convites. Por isso gosto de escrever, escolher, criar, para experimentar, e para esperar os convites de maneira menos ansiosa. Nunca acreditei nessa coisa de que vai chegar uma grande personagem do nada, sabe? Se chegar, vai ser incrível, mas isso é uma vez ou outra. Por isso, teatro é fundamental. É onde aumento o meu repertório”, reflete a atriz, que esteve na segunda temporada da série ‘Cine Holliúdy’, na Globo.
Luisa estreou na carreira de atriz há 22 anos em ‘O Auto da Compadecida‘, filme dirigido pelo pai, Guel Arraes, e que tem sua mãe, a atriz Virginia Cavendish, no elenco. De lá para cá, continuou fazendo cinema, mais de teatro, e também televisão. Sua última novela foi ‘Segundo Sol‘, em 2018. Para ela, o ofício de atriz é muito mais do fazer, operário, do que do deslumbramento que o envolve: “Acho que essa história de glamour atrapalha muito a vida de artista. Principalmente quando se é jovem. Se você entra nessa, deixa de trabalhar muitas vezes, fica ludibriado por isso, deixa de ir para a marcenaria. Porque o trabalho é sobre isso”.
Se tem uma coisa certa sobre essa vida são os altos e baixos. Então aprender a lidar com as frustrações é parte da profissão – Luisa Arraes
Ilusões? Só as dos sonhos e criações. Fora isso, no dia a dia ela procura ter os ‘pés no chão’, como se diz por aí, para referir-se a alguém que busca viver a vida como ela é, sem as fantasias de um ‘universo paralelo’ para existir, que o mundo artístico pode criar. Tanto, que vez por outra, pega transporte público como o metrô para se locomover, conservando a liberdade de ir e vir como qualquer outra pessoa. “As pessoas me reconhecem, mas estou acostumada com isso. Quando você está fazendo uma novela das oito, por exemplo, vira uma loucura. Mas acabou novela, passaram uns meses, já e outra coisa. É um acesso mais pontual, não daquela que está ali como celebridade, mas da atriz que as pessoas curtem o trabalho, acompanham. Aí é uma curadoria maior com o público. Gosto muito desta relação”, garante.
A múltipla artista acrescenta: “Inclusive, desta troca com o público tenho memórias inesquecíveis. Quando fiz ‘Grande Serão: Veredas’, trabalho mais importante que estive no teatro, um dia estava andando em Copacabana e uma senhora me parou. Ela contou que tinha visto o espetáculo, me abraçou aos prantos e disse que eu já tinha cumprido minha missão na Terra. Eu disse: “Calma, pelo amor de Deus, minha senhora, estou só começando (risos)”. Mas choramos juntas, no meio do trânsito. Entendo o que ela sentiu. É um texto que toma muito da gente. E é uma peça que mudou a minha vida”, relembra Luisa, que esteve no elenco da montagem de Bia Lessa de 2017 a 2020, e aguarda o lançamento do filme, também inspirado no livro de Guimarães Rosa, para o cinema e para o Globoplay, reinventado por Guel Arraes e Jorge Furtado.
Antes e depois do ‘Grande Sertão’
“Esse texto, ‘Grande Sertão: Veredas’, mudou minha vida de muitas formas. Primeiro com o livro, que li a primeira vez aos 18 anos. Foi uma imersão, a vida virou ler esse livro. Depois, foi a peça que fiz com a Bia Lessa. Eu já fazia teatro, mas este espetáculo me deu uma disciplina muito maior pelas horas dedicadas a ele. Foi muito intenso. Me transformou como artista. Além disso, casei e estou aí ate hoje por conta deste encontro no teatro. Meu pai também se encantou e topou esse grande desafio de fazer uma obra como essa no cinema. Ou seja, não sou mais a mesma depois desses projetos e experiências”, analisa Luisa, que é casada com o ator Caio Blat há seis anos, vivendo em casas vizinhas e separadas.
Caio já é pai de Antônio, de 20 anos, e Bento, de 13, e declarou recentemente em discurso durante uma homenagem recebida no 27° Cine PE – Festival do Audiovisual, em Pernambuco. “Sempre quis que a minha trajetória passasse por aqui também. Não foi à toa que me apaixonei por uma pernambucana e quero ter uma filha pernambucana”. Perguntamos então, à atriz de 30 anos, nascida no Rio de Janeiro, com pais pernambucanos, o que ela pensa do tema maternidade:
Por enquanto é um desejo só do Caio (risos). Ainda não desejo a maternidade. Vamos ver se com o tempo ele chega. Estou parindo vários ‘filhos’ agora, peça, filme, show, a criação ainda é meu foco principal – Luisa Arraes
Escolhas
Luisa está com saudades da TV, e deixa escapar: “Adoro fazer novela, tem grandes chances de eu fazer uma no ano que vem. Só posso dizer que já estou sendo sondada, mas ainda não sabemos (risos)”. Tem remakes incríveis vindo por aí, ‘Renascer’…“Sim! E ‘Vale Tudo’? Um sonho para qualquer ator ou atriz participar, sem dúvida”. Temos um spoiler aí no ar? Luisa apenas ri.
Acho que essa história de glamour atrapalha muito a vida de artista. Principalmente quando se é jovem. Se você entra nessa, deixa de trabalhar muitas vezes, fica ludibriado por isso, deixa de ir para a marcenaria – Luisa Arraes
Com personagens diversos e de universos bem distintos em seu currículo, ela comenta: “Essa escolha pela versatilidade é super pensada. Porque tem uma coisa que acontece com a vida de atriz que é muito louca. Com as mulheres especificamente. Quando você começa, vira a sensação e todo mundo quer te chamar para fazer uma coisa atrás da outra. Isso dura muitos anos com os homens, mas com as mulheres é sempre “a nova atriz de 20 anos”. Então, ou você sai fazendo uma coisa atrás da outra ou segura a onda, estuda e entende que a vida de atriz será para vida toda. Quero atuar até os 80 anos, então é um projeto a longo prazo”, avalia.
“Essa ‘segurada’, de não emendar um trabalho no outro e batalhar para fazer teatro, sem dúvida, abriu o meu leque de personagens. Devo minha versatilidade como atriz 100% ao teatro e às minhas escolhas. Busco essa diversidade. Acho que o maior patrimônio que tenho são as personagens que fiz. E continuo escrevendo. A escrita está sempre fazendo parte da minha vida de alguma forma. Acho que todo personagem que eu faço também é escrever, criar. Parece que é outra coisa, mas é a mesma. Como esse show de agora, que parece mais um compilado de tudo o que gosto de fazer. Atuando eu estou escrevendo, dirigindo e usando a minha voz, é a mesma coisa. São vertentes da artista”.
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