Trazer uma vida a este mundo implica em amor e muita coragem. Quando essa vida nasce com uma deficiência fazendo-a diferente dos outros exige daquela mãe ainda mais amor e ainda mais coragem. Esse é o caso de Olivia Byington e seu filho, João Byington, que veio ao mundo com a rara síndrome de Apert. Essa história de superação, força e de amor sem medidas está sendo contada em um monólogo com a emocionante interpretação de Louise Cardoso. O site HT conversou com a atriz com 42 anos de bagagem profissional e que recentemente escolheu voltar aos palcos depois de ler o livro que narra a trajetória real de mãe e filho, por indicação do amigo Flavio Marinho.
O espetáculo O que é que ele tem estreou uma nova temporada na última sexta-feira no Teatro Maison de France com o texto de Renata Mizrahi inspirado no livro homônimo da cantora Olivia Byington. Ao ser mãe de primeira viagem, aos 22 anos, Olivia trilhava uma bem-sucedida carreira entre shows, aulas de canto e de música, uma vida agitada como qualquer outra jovem da zona sul do Rio de Janeiro se dividindo entre praia e saídas com amigos. A gravidez apaixonada e feliz foi transformada em surpresa com o nascimento do pequeno João. Ele não era como os outros bebês, ele era diferente. Portador há 37 anos de uma síndrome que atinge 1 a cada 200 mil nascimentos, o primeiro filho de Olivia nasceu com os ossos das mãos e dos pés colados, além dos ossos do crânio fechados precocemente provocando pressão sobre o cérebro. Perguntada se Louise também reagiria como Olivia, a atriz afirmou não saber, pois não têm filhos, mas por ser uma pessoa otimista ela enfrentaria como encara os desafios que já passou pela vida só que com uma ressalva: “Eu não tive tantas dificuldades quanto a Olivia teve”.
A peça dirigida por Fernando Philbert começa com Louise no papel de Olivia contando sobre a chegada à portaria do prédio com a criança no colo. Todo enfaixado depois de 20 cirurgias, a mãe não queria que os porteiros vissem o recém-nascido que acabara de se mudar para lá. Esse talvez, seja o único momento da história encenada por Louise que a personagem sente vergonha da condição do filho. A partir daí a dramaturgia ganha um tom bem humorado pelas descobertas dessa relação e de um mundo que pode ter seus encantos mesmo sendo diferente. “Olivia passou por momentos dolorosos, mas levantou, sacudiu a poeira e deu uma rasteira na tragédia, optando pelo amor e pela leveza. Estamos contando uma história de amor. De um amor delicado e duro ao mesmo tempo: o amor pela diferença”, ressaltou Louise que imediatamente se identificou com a história dessa mãe quando leu a obra. “Eu me enxerguei interpretando a Olivia. Somos da mesma geração carioca e somos artistas. Me identifiquei com o coração e a emoção dela”, explicou.
O processo todo, que envolveu pedir a autorização da autora, comprar os direitos do livro e dar corpo à montagem, durou exatamente um ano. O que que ele tem estreou em novembro de 2018 em uma temporada de um mês no Teatro SESI Centro, agora segue em cartaz nos meses de janeiro e fevereiro na Maison, depois viaja para os palcos paulistas e de lá pretende rodar o país. Mesmo após 23 apresentações até agora, um leve nervosismo invade Louise Cardoso antes de entrar em cena. “Meu coração dispara. Nas outras peças também ficava nervosa, mas só na estréia. É o meu primeiro monólogo, por isso passo o texto todos os dias. Quando eu esqueço algo em outra peça coletiva, vai ter alguém para salvar. Esse não tem como”, afirmou a atriz, que disse, ainda, estar fazendo uma espécie de análise com esse papel: “Pedi um tempo para a minha analista, porque eu já estou fazendo em cima do palco. Ela faz psicologia junguiana e a peça é totalmente junguiana, fala em sincronicidade”.
A atriz também falou sobre a força do teatro, comparada às montagens televisivas e cinematográficas. Contar essa história fazendo o público se emocionar olhando no olho dessa mãe tem muita força, segundo Louise. “O diretor tirou a quarta parede, eu falo diretamente para a platéia. Uma vez quando disse o texto: ‘Ajuda, por favor, me ajuda’, um homem na primeira fileira estendeu o braço e ficou pronto para me ajudar. Eu fiquei com vontade de chorar, mas eu não podia chorar naquele momento”, relatou.
Para Louise, a diferença assusta, pois a sociedade está acostumada com a mesmice, como se fossemos ovelhas. “As pessoas gostam de fazer tudo igual, usando as roupas da moda, por exemplo. Então quando vêem algo que grita a diversidade, elas têm medo. O preconceito vem daí, do medo. Por que que esses ‘machões’ dão porrada no homossexual? Porque eles tem medo de ser um”, ressaltou. Olivia aceitou seu filho da forma mais bonita que o amor incondicional de uma mãe pode aceitar, talvez é de amor materno que a humanidade precisa.
Serviço
Teatro Maison de France – Av. Presidente Antônio Carlos, 58.
De 04 de janeiro a 24 de fevereiro de 2019
Quintas, às 17h30, sextas e sábados, às 19h30. Domingos, às 18h30.
Ingressos a R$ 60 e R$ 30 (meia)
Compras na Bilheteria do Teatro ou vendas online TUDUS
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