A grande maioria das pessoas nunca está feliz com sua realidade e, por isso, sempre traçam uma meta de vida, sendo ela possível ou não. Em determinados momentos, são obrigadas a escolher entre alguns caminhos socialmente aceitáveis ou outros criticados. Na peça ‘A Estrela Sobe’, que cumpriu temporada de um mês no Rio, a atriz Andressa Bonatto viveu uma jovem humilde que sonha em ser uma artista na rádio e não mede esforços para conseguir o que almeja. Vivendo na década de 40, a personagem Leniza Mayer, no entanto, não tem muito talento e usa outros recursos realizar seu sonho, abrindo mão de amores verdadeiros e aceitando outros menos sinceros. “A minha personagem é um espelho do nosso jeitinho brasileiro que busca sempre levar vantagem em tudo o que faz para conseguir os seus objetivos. Naquela época, o sucesso era ser uma cantora de rádio o que, hoje em dia, mudou para uma estrela da TV. O texto foi escrito nos anos 40, mas é muito atual, retrata temas atuais”, afirma Andressa.
Devido a este temperamento complicado, o elenco precisou tomar cuidado para não questionar as atitudes de Leniza Mayer. “Tivemos que tomar cuidado para não julgar esta mulher, porque ela passa de mão em mão para conseguir subir. Fiquei impressionada, não entendia como conseguia se vender daquela forma. Mas, sobretudo, é uma personagem humana que tem seus desejos, anseios, desequilíbrios e insegurança”, conta a atriz que contracena ao lado de Leandro Caris, Ivone Hoffmann, Douglas Amaral, Antonio Alves, Daniel Dalcin, Gedivan Albuquerque e Bel Machado.
O espetáculo foi baseado em um dos clássicos da Academia Brasileira de Letras, do autor Marques Rebelo. O texto foi produzido exclusivamente para esta peça pelo dramaturgo Marcus Alvisi, a pedido de Andressa. “Conheci o livro através de um professor e resolvi adaptá-lo para o teatro. Chamei o Alvisi para fazer a adaptação e quando ele começou a fazer, disse que se soubesse que seria tão difícil, não teria aceitado, porque é difícil adaptar uma literatura para o teatro. É muita responsabilidade fazer uma personagem como ela que veio de um livro clássico. Rebelo integrou a ABL e essa foi a sua principal obra, muita gente que entende de literatura conhece muito e exige muito da gente”, lembra a atriz. Para que o roteiro tivesse mais cara de teatro, o escritor precisou incluir alguns monólogos.
Andressa teve apenas um mês e meio para se preparar para esta peça, o que acabou se tornando um grande desafio por se referir a uma personagem tão importante na literatura brasileira. “Ela começa a peça com 18 anos e, ao longo da narrativa, vai se tornando uma pessoa mais bem resolvida e madura. Precisei trabalhar muito o lado corporal para trazer, no início, um corpo mais leve e uma voz mais fina que vão se modificando. É uma personagem muito complexa e, por isso, precisei trabalha-la cena por cena, de forma separada. Não tinha como definir quem ela era. Foi a personagem mais difícil que já fiz na vida, teve um momento que tive medo de não conseguir passar a dureza dela”, admite. Simultaneamente, a atriz precisou se atentar à época em que esta mulher se localizava, já que a linguagem, o corpo, a maneira de agir e falar mudam com o passar do tempo.
A densidade da personagem é algo que Andressa procura destacar a todo o momento. A atriz busca cativar o público com as diversas camadas da mesma que, no final, servem de exemplo. “Quero passar para o público que ninguém deve julgar as pessoas, cada um sabe o que está passando e como se sente sobre isso. Cada um tem à sua maneira de achar seu espaço e alcançar seus objetivos”, simplifica a atriz.
A dureza não se restringe a personagem. Faze-la existir em cena foi um grande desafio por si só. “Foi muito difícil levantar verba, estamos em um momento não muito propício. A nossa arte está um pouco esquecida. Montei o projeto, investi nele e enviei para o SESC Copacabana, que acabou comprando as apresentações”, comenta a atriz que tem planos de continuar com a peça em uma segunda temporada. Ainda este ano, Andressa tem planos de continuar com sua produção do ano passado, a peça ‘Arsênico & Alfazema’. Além disso, quer lançar outra que também é de época. Os três espetáculos que idealizou são dos anos 40 e fazem parte da proposta pessoal da mesma de fazer uma trilogia desta década. “Sempre tive muita proximidade com estes anos, são datas históricas e lindas. Ao mesmo tempo, quero sair um pouco da moda que está no Rio de Janeiro, atualmente, de peças mais contemporâneas, um estilo que não curto muito”, explicou.
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