*Por Jeff Lessa
Letícia Sabatella é conhecida do público há muitos anos por seus trabalhos como atriz. E também por suas posições políticas firmes, que incomodam muita gente por aí. Seja na TV, no cinema ou no teatro, Letícia é uma voz que o brasileiro se acostumou a ouvir e a admirar. Mas ela traz consigo um discurso que poucos conhecem e que precede a atuação: Letícia é excelente cantora e compositora. E é esse modo de usar a palavra que vai mostrar no show “Caravana Tontería”, que apresenta nos dias 10 e 11 de maio (sexta e sábado) no Rival Petrobras, como parte das comemorações pelos 85 anos da casa.
Junto com a atriz está um time de instrumentistas formado por Fernando Alves Pinto (serrote, trompete, voz e violão), Paulo Braga (piano) e Zeli Silva (contrabaixo). Uma curiosidade: o título do show toma emprestado o nome de um tango composto por ela, “Tontería”: “Foi o único tango que compus até hoje”. A conceituada pianista Analia Goldberg, que costuma desconfiar do que lhe apresentam como tango, confirmou que a composição de Letícia era legítima.
– Ela apresentou como uma das sugestões para o casal campeão mundial de tango argentino e os jurados escolheram o meu – conta, orgulhosa, Letícia.
Performático, “Caravana Tontería” tem direção de Arrigo Barnabé. Ele faz uma participação na etapa carioca da turnê, que já dura quatro anos. A ideia surgiu quando Letícia foi convidada a participar da Virada Cultural de São Paulo. Ela já conhecia Braga e Zeli e estava fazendo a peça “Trágica 3” com Fernando Alves Pinto, com quem assinou a trilha sonora indicada ao Prêmio Shell. O convite para se apresentar na Virada foi o estopim que faltava para botar a “Caravana” na estrada.
– Eu já tinha um projeto de captação aprovado pela Lei Rouanet. Mas resolvi aproveitar o cachê da Virada para me jogar. Deu certo. Começamos a ser chamados para festival de música, apresentações em Belo Horizonte, Brasília, Araxá e Fortaleza, além de uma temporada de um mês no Teatro Itália (São Paulo) – conta. – Gravei em vídeo as apresentações e fomos corrigindo algumas coisas, acrescentando outras, lapidando. Isso deu um grande frescor ao show. E nós nos entendemos bem, estamos muito afinados.
Ouvir Letícia falar passa a impressão de um imenso prazer com a música. De onde vem essa faceta que o público ainda precisa descobrir?
– A ligação com a música e a composição é o meu lado artístico mais antigo. Vem de família. Tudo que minha avó fazia, fosse costurar ou cozinhar, fazia cantando. Minha mãe era ótima cantora. Eu cantei no Coral Sinfônico do Paraná, tive uma banda chamada Tuba Intimista e participei do coro cênico O Abominável Sebastião das Neves, de óperas no Teatro Guaíra. (O avô de Letícia foi um dos responsáveis pela construção do teatro, inaugurado em novembro de 1900 na capital paranaense)
Passando por seu momento mais autoral, Letícia é responsável por oito canções apresentadas em “Caravana Tontería”, que também traz composições de Chico Buarque, Cole Porter, Kurt Weill, Duke Ellington e Carlos Gardel. Mas houve um período em que a música foi apenas esporádica em sua vida.
– Estava fazendo um trabalho após o outro na TV, até para me aprimorar como atriz. A minissérie “Hoje é Dia de Maria” (TV Globo, 2006, dirigida por Luiz Fernando Carvalho) foi crucial nesse processo – afirma. – Tive hipotireoidismo e consultei uma terapeuta corporal em BH, que me disse que havia muita criatividade reprimida. O remédio foi retomar o trabalho de voz. Aos poucos, minha voz foi voltando a ser encorpada. O hipotireoidismo sumiu. Houve um momento, também, em que o rádio do carro quebrou. Isso me fez ouvir a música interna. Compor é escutar, percebi que era um caminho. E cantar é medicina.
A experiência com a “Caravana” gerou a peça musical “Piaf e Brecht”, com acompanhamento de piano, contrabaixo e bateria. Os personagens-título são dois palhaços que tentam contar as histórias da cantora francesa Édith Piaf e do poeta e dramaturgo alemão Bertolt Brecht.
– Os dois são mesquinhos e se detonam o tempo todo. Piaf acusa Brecht de ser cético, enquanto ele a chama de melodramática. É muito divertida. E é popular, puro entretenimento, cabaré. Embora tenham sido contemporâneos, não há registro de encontros entre eles – observa. – O fato é que ambos traduziram em música a voz dos oprimidos. Piaf podia ter sido um personagem de Brecht.
A peça estreia no Rio no Teatro Adolfo Bloch, mas ainda não tem data marcada. Quanto a “Caravana Tontería”, as expectativas são as melhores:
– Vim para o Rio confiante. Temos atraído muito público quando viajamos, tem gente voltando da porta. Sei que tenho algo legal, que agrada pessoas de todas as idades, e quero que as pessoas vejam – conclui Letícia.
SERVIÇO
“Caravana Tontería”
Teatro Rival Petrobrás: Rua Álvaro Alvim 33, Cinelândia – 2240-4469
10 e 11 de maio às 19h30
Plateia A: R$ 80 e R$ 40 (meia). Plateia B: R$ 70 e R$ 35
Duração: 90 minutos
Classificação etária: Livre
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