Com uma trajetória vitoriosa de 30 anos de televisão, Leticia Sabatella, no momento, se destaca como a Imperatriz Teresa Cristina (1822-1889), na novela Nos Tempos do Imperador e como Latiffa, na reprise de O clone. Muito além do seu papel de atriz, ela nunca se manteve presa às benesses da fama e, sem meias palavras, sempre foi mulher de posições e convicções firmes no campo da política. Agora, em novembro, aos 50 anos de idade, ela retorna aos palcos com o drama musical Piaf e Brecht, a Vida em Vermelho, no qual ela canta clássicos da ‘chanson française’ e, como ela mesma diz, os personagens provocam uma polarização em cena. Isso, é claro, remete ao atual momento político no Brasil, e também a uma das passagens mais difíceis de sua vida quando, há cinco anos, foi hostilizada e xingada, em Curitiba, quando se viu no meio de um protesto pró-impeachment de Dilma Rousseff. “Que a arte, então, seja a melhor arma contra a barbárie, seja através da música ou de um texto poético”, pontuou durante entrevista ao programa Conversa Com Bial.
E reforçou: “Estou falando de algo que é a transformação de uma realidade hedionda, de pouca lucidez, da barbárie para uma situação onde existe sensibilidade, consciência, luz, sabedoria. Vejo que o caminho da sensibilização da música tem sido a melhor linguagem. Por ter sido atacada na rua, por ter visto o nível de violência que foi bem doloroso de receber, vejo que não conseguimos perpetuar esse nível de violência dessa maneira, mas combater, sim, através da prática da sensibilização da arte e do afeto”, analisou.
A peça que Letícia protagoniza esteve em cartaz antes da pandemia. Inspirada pela ambiance dos esfumaçados cabarés dos anos 20 do século passado, a montagem acompanha um encontro fictício entre a cantora francesa Édith Piaf (1915-1963) e o dramaturgo e compositor alemão Bertolt Brecht (1898-1956). “Eles foram contemporâneos, viveram entre duas guerras mundiais. Poderiam ter se encontrado, mas isso não aconteceu”, nos disse à época a atriz. “Na peça, nós brincamos com a polaridade entre os dois. Piaf poderia ter sido uma personagem de Brecht. Os dois têm em comum o fato de terem dado voz aos oprimidos”. Letícia ressalta que as questões sociais de que tratam as canções de Piaf e as obras de Brecht são atemporais. Talvez por isso, boa parte do público seja formado por pessoas jovens.
Em cena, dois atores, Edith e Bertoldo querem defender seus personagens favoritos da vida e que gostariam de representar, porque só vai dar tempo de montar um espetáculo sobre um deles. E o público vai ter que decidir. “Os dois estão guerreando e ao mesmo tempo vem um momento de amor, reflexão humanidade. Então, tem cenas muito emocionantes. Piaf e Brecht também foram rechaçados, exilados, julgados, apedrejados, mas lembrados até hoje, porque como a arte, os artistas dão voz aos oprimidos e eles fizeram isso. A Piaf com sua passionalidade e com o humor, e Brecht com sua crítica e pensando na sociedade, com a polarização a quem vai e a quem combate e o que devemos combater de fato ao se falar de um estado democrático de direito”, refletiu a atriz.
A peça, na qual Sabatella canta alguns clássicos de Piaf, como Non, Je Ne Regrette Rien, surgiu alguns anos depois de ela estrear o show Caravana Tonteria, ao lado de Fernando Alves Pinto. O projeto rendeu ainda um CD homônimo com canções de Chico Buarque, Caetano Veloso e dela própria, como Cabia Me, Jazzin 3 e Tonteria.
A música acompanha Letícia desde sempre. Mineira de nascimento, ela foi morar em Curitiba com a família, aos 4 anos, e lá, por exemplo, cantou no Coral Sinfônico do Paraná e no grupo Tuba Intimista. A música, aliás, também é um elemento presente na novela Nos Tempos do Imperador, onde Letícia mostrou talento no canto lírico no papel da Imperatriz Teresa Cristina. “Cantar me trouxe curas emocionais e físicas. O canto me ajudou, inclusive, no tratamento contra o hipotireoidismo”, revelou.
Além da atual trama das 18h, Letícia está nas tardes da Globo, na reprise, depois de 20 anos, de O Clone, interpretando Latiffa, uma de suas personagens mais emblemáticas. “Foi uma novela marcante internacionalmente. Quando vou na Rússia, na China, vejo como ela é popular, universal”, recordou.
Artigos relacionados