*Por Brunna Condini
Espetáculo de sucesso da década de 1990 protagonizado por Marieta Severo e Andréa Beltrão, ‘A Dona de História‘ volta aos palcos após 27 anos com Juliana Martins e Maitê Padilha nos papeis principais. O texto de João Falcão — que ganhou também uma bem-sucedida versão para o cinema pelas mãos de Daniel Filho —, propõe um improvável encontro de duas mulheres em épocas distintas da vida, na juventude e na maturidade, para uma espécie de acerto de contas. Embora a montagem anterior tenha marcado época, as atrizes não veem motivos para comparações. “Não tenho medo, porque acho que não vale comparar. Neste caso, uma comparação seria quase uma competição. E já entendemos que mulheres não competem, não é? Além disso, competir com a Marieta seria algo desleal… acabei de integrar o elenco de ‘Eu te amo‘, em que interpretava a mesma personagem que foi de Sonia Braga. Antes, fiz no teatro ‘Cenas de um casamento‘, no papel que foi da Liv Ullmann no cinema, então estou PHD em pegar personagens para fazer que foram feitas por atrizes fodonas e mulheres sensacionais (risos)”, diz Juliana. A seguir, conversamos com Juliana Martins e Maitê Padilha sobre escolhas, autonomia, as mudanças no mercado e o viver da profissão hoje.
Com 50 anos e 40 de carreira, Juliana faz o exercício de uma versão própria, de ‘dona da sua história”, e voltar no tempo para falar de escolhas do passado. “Costumamos olhar com muito carinho para nossa versão mais nova, eu olho com orgulho pra essa Juliana. Mas mudaria uma coisinha ou outra. Talvez eu devesse ter me formado antes, por exemplo. A CAL (Casa das Artes de Laranjeiras) foi minha terceira faculdade – ela se formou em Artes Cênicas aos 48 anos, na mesma turma de Maitê – antes cursei Letras e Comunicação, mas não concluí. A peça é sobre olharmos para nossa história de vida, e na minha, trabalhei desde cedo. Era difícil trabalhar tanto e estudar, mas poderia ter feito. Outro ponto, que se eu pudesse, talvez mudasse, é que teria comprado um apartamento quando havia possibilidade, mas não fui madura o suficiente na época. Na verdade, só mudaria coisas pontuais e funcionais. E como o forte na vida, são as escolhas que vem do coração, nisso sou muito feliz. Na escolha da minha profissão, dos meus amores, da minha filha (Luisa)”.
A peça fala sobre o tempo e as nossas escolhas. Somos o que somos, pelo que fomos – Juliana Martins
Aos 23 anos, mesma idade de Luisa, filha de Juliana, Maitê frisa que o espetáculo evidencia a importância de honrar as escolhas em sua trajetória. “Comecei a trabalhar ainda na infância, como a Jú. Então, fui uma adolescente extremamente responsável. Era muito estressada, preocupada, com o trabalho, com as notas na escola, e deixei de fazer muita coisa por conta disso. Acho que eu podia ter relaxado, aproveitado um pouco mais. Se eu pudesse falar com a Maitê lá de trás, diria pra ela relaxar e confiar mais no fluxo. Ao mesmo tempo, acho que as coisas acontecem como devem ser. Talvez se eu não fosse tão focada, não teria conquistado as coisas que consegui tão cedo na carreira. Sou feliz com isso”, avalia Maitê, que ficou conhecida por protagonizar a série teen, ‘Gaby Estrella’ para o canal Gloob entre 2013 e 2015.
Quase mudei o registo de atriz com a maturidade, o que é positivo. A maturidade trouxe uma calma, uma sapiência, que se estendeu à minha atriz. Amadurecer é um barato. Está tudo melhor. Estou satisfeita com o meu corpo, com a minha aparência. Estou me organizando para isso. Me cuido com exercício, alimentação, com alegria, prazer, com uma vida gostosa – Juliana Martins
Independência artística
Desde sua estreia na TV em 1985, como a esperta Suely, filha do professor Fábio Coutinho (Nuno Leal Maia), na novela ‘A Gata Comeu‘ de Ivani Ribeiro, Juliana vem construindo uma carreira no audiovisual e no teatro. Nos últimos anos, a atriz também vem produzindo espetáculos que têm trilhado sua autonomia profissional. “Não sei se isso combate o etarismo que existe na profissão, por exemplo, mas sem dúvida, me dá uma independência artística e financeira. Claro que até certo ponto, porque produzir no Brasil também não é fácil, ainda mais sem patrocínio, mas isso me dá a oportunidade de escolher bons personagens. Esse combo, me faz ser ainda mais dona da minha história”. E pontua: “Também adoro ser convidada para trabalhos, ser só atriz é divino, mas ter o poder escolher é ótimo”.
Juliana completa sobre suas escolhas como produtora. “Parece que escolhi bons personagens femininos, mas na verdade escolhi de acordo com a minha vida. Comecei produzindo teatro infantil, porque estava com uma filha pequena. Depois, precisei romper com essa coisa da maternidade 24 horas por dia, e fui produzir ‘Eu te amo’ do Arnaldo Jabor, fazendo a Sonia Braga. Mais adiante, comecei o meu processo de separação, aí escolhi ‘Cenas de um Casamento’. Separada, fiz um monólogo falando sobre sexo (‘O Prazer é Todo Nosso’). Agora, aos 50 anos, escolho uma peça que fala sobre o tempo. As minhas escolhas são totalmente ligadas às fases da minha vida”.
Jovem buscadora
No elenco de filmes de sucesso para o público adolescente como ‘Tudo por um popstar 1 e 2’, e no aguardado longa que representa o Brasil no Oscar 2025, ‘Ainda estou aqui’, de Walter Salles, Maitê fala como uma jovem atriz buscadora de conhecimento e de bons projetos. “Meu trabalho é parte de quem eu sou, e cuidar dessa relação é fundamental para mim. Parei de fazer Cinema e fui cursar Artes Cênicas porque senti necessidade de estudar, dessa troca”.
Viver esse momento, em que muitas vezes é contratado quem tem mais seguidores ou aparece mais, é muito caótico, desesperador e frustrante para o ator. Você se sente impotente. Então, até como forma de trabalhar essa frustração, comecei a pensar em coisas que me alimentassem. Foi assim que surgiu o projeto de ‘A Dona da História’ com a Jú, com a direção do Heitor Martinez. Tenho aprendido muito nessa relação. Estar nesse espetáculo é resultado desse meu movimento e busca por esse conhecimento teatral – Maitê Padilha
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