* Por Carlos Lima Costa
Aos 40 anos de idade e 25 de trajetória artística, Juliana Knust encara o desafio de interpretar Marilyn Monroe (1926-1962) no espetáculo Parabéns Sr. Presidente, In Concert, no Teatro dos Grandes Atores, no Rio, mostrando o encontro da estrela do cinema com a diva do canto lírico Maria Callas (1923-1977) interpretada por Claudia Ohana. “A peça desconstrói o mito e apresenta Marilyn na sua forma mais humana. A gente coloca essas duas divas como mulheres da vida real, com conflitos, dramas femininos que a gente vive ainda hoje. Ela era forte para os outros, quando precisava se mostrar assim. Nos bastidores, na vida mesmo, era bem carente, insegura, infeliz, frágil, bem vulnerável”, pontua Juliana.
E a atriz reflete sobre quais características mais lhe aproximam da blondie girl hollywoodiana. “Aos poucos, fui me encontrando nela. As pessoas que trabalham com arte costumam ter uma fragilidade. Eu sempre fui muito insegura com o que eu faço. Já sofri muito por achar que devia ter feito algo melhor, sabe, uma autocobrança de estar sempre impecável, com trabalho perfeito. Sou um pouco insegura, frágil, tenho altos e baixos nas minhas emoções, mas eu me cuido. Busco estar fazendo sempre a minha terapia. É o que me dá um equilíbrio. Então, já melhorei muito”, assegura.
E prossegue opinando sobre a questão da sensualidade. “Muita gente fala que sou sensual. Não me vejo muito assim. Sou tão tranquila com relação a isso. Talvez a minha sensualidade seja ser natural, sem forçar nada. A Marilyn também era sensual da maneira dela. Sempre tinha a preocupação de estar bem produzida, mas sem todos aqueles aparatos, ela era sensual da mesma forma”, opina Juliana.
Depois de 59 anos da data em que se passa a história da peça, vivemos uma época de empoderamento das mulheres que têm voz ativa. Mesmo assim, ao traçar uma paralelo entre esses dois momentos, Juliana acha que as mulheres ainda são frágeis no campo afetivo. “Não tenho a menor dúvida disso. A gente vive um momento em que as pessoas, muitas vezes, levantam bandeiras nas redes sociais, se mostram feministas, existe uma autoafirmação, mas na vida real, fora dos stories do Instagram, é tudo bem diferente. Não agem da forma como estão se colocando”, aponta.
E acrescenta apontando outra questão relevante dos dias atuais. “Depois de tudo que vivemos nessa pandemia, muitos sairão transformados. Foram muitos perrengues, pessoas morrendo sem assistência médica, uma confusão política. Vivemos uma época difícil demais com esses extremos. Se você se posiciona de alguma forma, outra pessoa já leva para o lado da política. Não dá nem para conversar. As pessoas estão tão inflamadas que desejam mal do outro por conta de um posicionamento. Vejo uma enxurrada de gente que vem te ameaçar, xingar e te colocar para baixo. É uma energia que eu realmente não quero para mim”, ressalta ela, que começou a carreira apresentando o programa Escola Legal, ao lado de Regina Casé.
“Parece que foi ontem, mas, ao mesmo tempo, já vivi tantos momentos. Penso no quanto sofri com a eterna instabilidade dessa profissão e no quanto já fui feliz com as minhas escolhas, com os trabalhos que realizei. Sou grata por conseguir estar sobrevivendo da minha arte, do que eu amo fazer, nesse Brasil difícil pra caramba. Tive os meus fracassos, mas foram muitas as vitórias e celebrar no palco interpretando Marilyn é realmente um presente que caiu do céu. Tive medo na hora de aceitar, mas decidi mergulhar fundo. Quero só mesmo me desafiar, me divertir, aprender com Marilyn e com as vivências dela”, pontua.
Julia estava morrendo de saudade do palco e espera de alguma forma conseguir tocar as pessoas que forem assistir o trabalho dela e de Claudia Ohana, que interpreta Maria Callas. “A peça tem muitas mensagens bacanas, por exemplo, tem uma hora que a Marilyn fala assim: ‘Pra mudar o grande mundo a gente precisa começar pelo nosso pequeno mundo ajudando quem está próximo. Isso resume muito o que a gente está vivendo hoje. Vamos estender a mão para a pessoa que está ao nosso lado”, frisa.
A peça se passa na comemoração do 45º aniversário de John Kennedy (1917-1963), então presidente dos Estados Unidos, que manteve caso extraconjugal com Marilyn. Na ocasião, a estrela cantou para ele Happy Birthday, uma cena que se tornou emblemática. “Está sendo um desafio e um momento de descobertas, porque pela primeira vez vou cantar em cena, então, me preparei com aula de canto e fono. Quando recebi o convite, fiquei um pouco apavorada, porque não canto”, lembra a atriz sobre a peça que conta com 13 músicas interpretadas por ela e por Claudia, sozinhas ou em dueto. “As canções vão costurando o espetáculo, mas a peça está longe de ser um musical”, explica. E completa: “Deixo um agradecimento de gratidão ao Fernando Duarte, produtor e autor do espetáculo, e ao (Fernando) Philbert, excelente diretor de ator de cena que me coloca em um lugar de potência, de acreditar mesmo que a gente é capaz de fazer esse espetáculo ficar lindo.”
Nesse momento de retomada parcial da cena teatral brasileira, a peça marca o retorno de Juliana ao trabalho desde o início da pandemia. “É uma mistura de sentimentos estar voltando agora, porque foi tanto tempo que ficamos sem poder atuar, sem expectativa de como aconteceria esse retorno. Essas questões vieram na minha cabeça e na de todos que trabalham com arte. Agora, a gente começa a ver uma luz no fim do túnel, um fio de esperança”, explica.
Juliana viveu uma mistura de sentimentos durante o isolamento social. “Essa pandemia me trouxe uma enxurrada de novas emoções. Foi preciso ter muita calma e paciência para administrar tudo que foi tão intenso”, atesta. E frisa, por exemplo, que em 2019, ao gravar a novela Jezabel, na Record, se manteve muito tempo longe de casa. “Normalmente, trabalho muito. Então, ao mesmo tempo que tinha consciência de que precisava aproveitar esse momento da pandemia para estar mais com os meus filhos (Arthur e Matheus), fortalecer os laços com eles, a ansiedade e o medo que eu tinha do que estava acontecendo no mundo, sem saber o que vinha pela frente, abaixava a minha energia. Foi um momento em que fiquei chorona, estressada, triste”, recorda.
Quando o isolamento social começou, Juliana ficou um tempo sem contar com a pessoa que lhe ajuda desde o nascimento do filho mais velho, que está com 11 anos. “E me cobrava muito de dar conta de tudo dentro de casa. Assim, eu não cozinho, o meu marido cozinhava. Mas, por exemplo, queria fazer a melhor faxina, ser a melhor professora para os meninos. Entrei em uma autocobrança de que precisava dar conta de tudo, sabe, da casa estar sempre arrumada, perfeita, limpa, as roupas cheirosas e os meninos na aula (um estava no quarto ano e o outro alfabetizando), então, foi enlouquecedor. De repente pensei: ‘Estou querendo provar para quem que eu consigo dar conta de tudo?’ Não preciso provar nada para ninguém, nem deixar a casa sempre incrível e impecável”, comenta.
Em determinado momento, Juliana voltou para a terapia. Queria entender melhor o momento que todos estavam vivendo. “Comecei a meditar e fazer ioga online para não enlouquecer. Pensei que a única coisa de que precisava ser naquele momento era a melhor mãe que eu pudesse para as crianças para que não sentissem tanto. Se nós adultos estávamos sentindo, imagina as crianças que não podiam sair de casa, encontrar os amigos, ir para a escola. Agora, os dois já voltaram, mas o mais novo, pela segunda vez nesse mês está em casa por dez dias, porque um amiguinho testou positivo para a Covid-19”, conta.
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