Um jornalista britânico tem causado a maior polêmica entre os atletas da vila olímpica no Rio. Isso porque, desde o início dos jogos na Cidade Maravilhosa, Nico Hines, correspondente do “The Daily Beast”, criou uma conta falsa em diversos aplicativos de paquera como Grindr e Hornet, ambos voltados para o público LGBT, para “tirar do armário” aqueles que estavam em busca de novas aventuras. O jornalista, que é heterossexual, mapeou diversos competidores para criar uma espécie de armadilha, onde chegou até a marcar encontros em que nunca apareceu. O assunto tem repercutido dentro e fora do mundo esportivo e reacende a discussão dos direitos de liberdade da imprensa.
O artigo, chamado “Consegui três encontros no Grindr em uma hora na Vila Olímpica”, detalha a facilidade com que o repórter conseguiu marcar os encontros, além de expor a intimidade de atletas que, em sua maioria, têm pouco mais de 18 anos e tiveram sua orientação sexual revelada antes mesmo até de terem se assumido para seus familiares. No texto, ele afirmou que não tinha a intenção de abordar exclusivamente a condição dos atletas, no entanto, o clima pejorativo da matéria assusta quem lê: “Um viveiro de atletas em festa, pegação, e sexo, sexo, sexo”, dizia o texto, que já foi retirado do ar.
A repercussão negativa foi tamanha, que o artigo foi rapidamente excluído e, em seguida, Nico se retratou publicamente com as delegações. Mas era tarde. Seu trabalho já estaria circulando entre os atletas da vila e teve respostas nas redes sociais. No Twitter, o nadador Amini Fonua, de Tonga, assumidadente gay, país totalmente intolerante com o público LGBT, não perdoou a ação do jornalista britânico e não poupou farpas ao jornal. Senta, porque vem textão.
“Um jornalista de merda, hétero, entrou no Grindr na vila olímpica, viu que tinham muitos atletas gays, pegou as informações de cada um e publicou num site. Alguns desses atletas não estavam fora do armário (sair do armário no meio esportivo é algo BEM complicado), outros vinham de países onde ser gay é ilegal (eles podem ser presos, impossibilitados de jogar pra sempre, sofrerem atentados, até ser mortos), e, como o nadador da foto aqui, alguns tem cerca de 18 anos e deveriam ter o direito de escolher quando e onde sair do armário (cada pessoa deve decidir a hora de falar para suas famílias e amigos). Agora imagina esses atletas, que treinaram nos últimos 4 anos, além da cobrança de participar de uma olimpíada, tendo que competir no meio dessa montanha russa de emoções. Um jornalista escroto desses não merece ser chamado de jornalista. Gostaria que a vida dele se ferrasse com isso, que ele recebesse mil processos, mas eu tenho certeza absoluta que nada vai acontecer com ele, muito antes pelo contrário, só vai ficar mais famoso”, desabafou.
As an out gay athlete from a country that is still very homophobic, @thedailybeast ought to be ashamed #deplorable https://t.co/qzS9rDFJwx
— Amini Fonua (@AminiFonua) 11 de agosto de 2016
Em resposta aos acontecimentos, a página da reportagem no site do “The Daily Best” foi substituída por uma nota dos editores. Na publicação, eles avisaram que estão removendo o relato de Hines. “Nossos valores incluem lutar contra o bullying e a intolerância, e principalmente ser uma voz orgulhosamente apoiada da comunidade LGBT. Nós estávamos errados. Nós vamos melhorar”, se retratou o noticiário.
Em outros posts, Amini descascou o profissional de comunicação. “Algumas dessas pessoas que você tirou do armário são meus AMIGOS. Com família e vidas que serão afetadas para sempre”, disparou Amini. “Nenhum heterossexual saberá alcançar a dor de revelar a sua verdade. Não tenho nem palavras, só consigo chorar”, escreveu. “Vergonha deste lixo desumano que achou que seria divertido colocar em risco a vida dos atletas desta vila”, completou. Já em seu Instagram, o nadador fez um post polêmico, exibindo seu bumbum. “Ei, Nico Hines e Daily Beast – se vocês estavam procurando no Grindr por fogo no rabo (e não vejo outro motivo para vocês estarem lá), vocês têm o meu aqui em toda sua glória. Agora, beijem-na e vão se f**er”, escreveu ele, que publicamente se declarou homossexual.
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