João Vicente de Castro diz que atual momento político é ótimo para o Porta dos Fundos: “Engraçado se não fosse trágico”


Para o ator, o governo “desastroso” de Dilma Roussef e o fato dela ser “uma má administradora” não legitima o processo de impeachment

Ator, humorista, sincero, um dos fundadores do “Porta dos Fundos” e politizado. João Vicente de Castro, em entrevista exclusiva ao HT, comentou sobre o posicionamento dos vídeos do canal, sua opinião política sobre o atual panorama brasileiro, masculinidade e igualdade de gênero e desmentiu boatos. Vem saber mais!

“Eu acho que é muito engraçado tudo isso que a gente está vivendo, se não fosse trágico" - disse João Vicente sobre a situação política brasileira (Foto: Reprodução)

“Eu acho que é muito engraçado tudo isso que a gente está vivendo, se não fosse trágico”, disse João Vicente sobre a situação política brasileira (Foto: Reprodução)

Goste ou não, o Porta dos Fundos é um sucesso e revolucionou a forma de fazer humor no Brasil. Os esquetes, tradicionalmente, abordam assuntos polêmicos de forma bem-humorada. Mas recentemente, em função dos ânimos aflorados na nossa sociedade, o canal ficou ainda mais movimentado – e acessado. Já teve vídeo contra a oposição a Dilma Roussef, contra as ações da presidente e agora, ironizando o boicote ao perfil do YouTube por conta de do vídeo Delação Premiada, na qual os integrantes faziam chacota dos métodos de arrecadar informações da Operação Lava-Jato. João Vicente de Castro, um dos atores e fundadores do PDF, reconhece que esse atual momento está sendo um prato cheio para a criatividade do canal. “Eu acho que é muito engraçado tudo isso que a gente está vivendo, se não fosse trágico. A graça é bater nos opressores e nos bandidos e o fato de não escolhermos apenas um lado, já que somos um grupo grande e cada um tem uma cabeça e um pensamento político diferente. Então, a gente brincar com essas possibilidades é um jeito de fazer graça”. Segundo ele, a abordagem e a escolha dos assuntos são feitas junto com uma análise “do que é engraçado e legal”. “A partir desse diagnóstico, vemos se é coerente com o nosso pensamento ético, e não político. Eu nunca vou ser homofóbico, racista e machista, mesmo que aquilo pareça engraçado. Existem certos lugares que a gente não gosta de caminhar. Se é engraçado e não está agredindo nada que nós acreditamos, eu acho que vale”. – explicou o ator.

Vídeos engraçados seriam só para entreter, certo? Errado! João Vicente acredita que “o humor bom cria debates, faz com que as pessoas pensem em pontos de vistas que elas jamais tinham pensado”. “Eu acho que têm algumas pessoas que assistem só como entretenimento, sem dúvida. Mas é importante que o humor faça pensar e traga algo de novo. Porque se for só piada, eu acho bobo”. Agradar a todos não é uma tarefa fácil, ainda mais quando há um posicionamento político. Sobre as críticas que recebe, João Vicente de Castro as separa em dois tipos: “a do pessoal que reclama da internet” e “as de pessoas que ele nem conhece mas que são ditas de forma sincera”. Em relação às primeiras, João diz que “não passam de pequenos chiuauas latindo por trás de portões bem espessos”. Mas, sobre críticas “com fundamento”, ele “as ouve, pega o que concorda e considera coerente e volta para a vida com essa informação”. Porém garante: “Magoado nunca. Eu volto mais forte”.

 “A gente não pode pedir o impeachment de uma pessoa que não tenha sido condenada ou acusada de nada ainda" (Foto: Reprodução)

“A gente não pode pedir o impeachment de uma pessoa que não tenha sido condenada ou acusada de nada ainda” (Foto: Reprodução)

Cercado por tantos posicionamentos político-partidários, João Vicente não foge da raia e expõe seu ponto de vista. Para ele, apesar de considerar o governo Dilma “desastroso em vários aspectos”, não há motivo para a saída da presidente. “A gente não pode pedir o impeachment de uma pessoa que não tenha sido condenada ou acusada de nada ainda, a não ser de incompetência e de ser uma má administradora. Mas você não pode tirar ela porque não está gostando do governo. O que eu acho é que, se for para defender nossa democracia, pode parecer que não, mas o impeachment agora seria uma facada. Isso acarretaria em uma série de coisas desagradáveis para todos nós, inclusive para as pessoas que estão a favor da saída”, analisou.

João, que concorda com o termo “golpe” para essa situação, disse que não gosta de falar de assuntos que não sejam sobre a carreira profissional. Mas, nesse momento que estamos, ele acredita que “os artistas deveriam se posicionar”. “Eu acho importante que a gente use nossa voz ampliada para passar conhecimento, ideias e tentar que as pessoas entendam que não é um momento de polarização. Deveria ser um momento de união para a sociedade, e ver que todo mundo quer um objetivo final positivo”, disse.

O ator acha que os outros artistas deveriam se posicionar sobre o atual momento (Foto: Reprodução)

O ator acha que os outros artistas deveriam se posicionar sobre o atual momento (Foto: Reprodução)

O ator e humorista, que é filho da estilista Gilda Midani, que a gente contou aqui sobre o lançamento de uma coleção masculina repleta de conceito e singularidade, disse que “tudo o que aprendeu de estética foi com a mãe” e que acha uma bobagem defender a masculinidade hoje em dia. “Eu acredito que a gente tem que fazer uma mudança cultural. Precisamos mudar o nosso vocabulário. Eu defendo a liberdade, as pessoas serem o que são. Eu não preciso ser gay ou trans para defender esses pontos. Somos seres humanos independente de  gêneros. O ideal é que a gente chegue a uma igualdade entre homens e mulheres. Nós estamos caminhando, mas ainda estamos bem longes. Todos viemos de uma cultura machista. Eu, particularmente, não. Sou totalmente feminista”, afirmou.

João Vicente de Castro é filho da estilista Gilda Midani (Foto: Reprodução)

João Vicente de Castro é filho da estilista Gilda Midani (Foto: Reprodução)

Recentemente, João foi anunciado como o vilão da novela das sete “Sonha Comigo” (Rede Globo). Mas, para o HT, disse que não é nada disso. Afirmou que houve uma conversa, mas que não tem nada certo ainda. “Eu nunca falei isso. Foi publicado em vários jornais, mas não significa que eu vou fazer o papel”, comentou. Ele, que participa toda semana do programa “Papo de Segunda” (GNT), disse que gosta de novelas e considera o vilão como “o filé da dramaturgia” e não descarta a ideia de um dia interpretar o personagem. João Vicente negou que tenha qualquer preconceito com a TV aberta e reconheceu que está cada vez com mais qualidade. “Eu acho que, agora com essa demanda de melhorias e com tantos canais, a TV aberta entrou em um processo muito bom de se fortificar e produzir programas cada vez melhores”, disse ele que adora a novela “Velho Chico” e é fã de “Tá no Ar – a TV na TV”.

Com tanto trabalho rolando, João Vicente de Castro ainda tem mais projetos. Disse que está com outras propostas para a televisão e com um filme para o final do ano. Além disso, ele quer rodar o país com a nova peça do Porta dos Fundos, Portátil, e levá-la para Portugal. Ah, e ainda tem a estreia do filme “Contato Vitalício”, em junho, com os companheiros de canal. Ufa!