Parece que o jogo virou, não é mesmo? João Velho, que depois de uma publicação “normal” no seu perfil do Facebook, em que avisava aos amigos que estava sem trabalhar e aberto a propostas, agora tem projetos na tevê, teatro e cinema. Vamos aos poucos, porque o ator tem várias novidades. Ainda sobre o post, João disse que ficou assustado com a proporção alcançada. “A repercussão desse post foi tão absurda que eu achei até engraçado. É muito natural na vida de um artista que não tem um emprego vitalício em uma empresa, de ter entressafras. E, quando eu estou no meu Facebook, em que tenho muitos amigos diretores e atores, eu aviso que estou nessa fase. Foi bem engraçado, eu achei divertido até. Mas, agora, eu estou trabalhando para caramba”, disse o ator ao HT. Então vamos aos trabalhos pós-entressafra.
Depois de atuar no filme “Mulheres no Poder”, ao lado de Dira Paes, João Velho se prepara para interpretar Luís Carlos Miele no filme em homenagem a Wilson Simonal. “Estou na pesquisa ainda, mas é uma responsa muito grande. Eu conheci o Miele e todas as pessoas próximas a mim e que são de uma geração anterior a minha foram amigas dele. Foi uma figura muito marcante, importante, alegre e carismática. E para passar isso, não é brincadeira. Estou o tempo todo pensando como será”, declarou o ator que ainda está no processo de criação do personagem.
No teatro, João Velho está em turnê com a peça “Santa Joana dos Matadouros”. O espetáculo de Bertolt Brecht é uma referência à figura de Joana D’arc, mas, como João alertou, não é a história da francesa. “A protagonista é uma missionária de Chicago que quer ajudar os pobres no meio de uma crise econômica bizarra. Ao longo da peça, várias pessoas que trabalham nos matadouros da cidade norte-americana ficam sem emprego. Ou seja, é aquela narrativa de Brecht falando sobre capitalismo e as cíclicas crises desse sistema”, resumiu.
Já nas telinhas, o ator participa da série Stella Models, de Samir Abujamra no Canal Brasil. Neste trabalho, João Velho interpreta Beto, o cafetão que apresenta a protagonista, vivida pela atriz Stella Miranda, ao “submundo do sexo”. “A Stella é uma grande cafetina e dona do Stella Models. A séria conta a história de vida sofrida dela em que o meu personagem é o responsável por inseri-la”, adiantou. Além de João e Stella Miranda, a série, que ainda não teve a data de estreia divulgada, também terá Anna Markun como uma travesti.
Repleto de trabalhos em diferentes meios artísticos, parece que João deu adeus à fase ruim, né? Apesar de o país está passando por um momento conturbado na cultura, o ator disse que essa realidade não está sendo apenas negativa para a classe artística. Segundo ele, essa crise cultural pela qual estamos passando está permitindo uma união maior entre os profissionais do meio. “Eu acho que está pior e melhor ao mesmo tempo. Eu acompanhei um movimento muito bonito de ocupação do MinC, vendo que a classe está se unindo de uma forma amorosa e resistente e que, ao mesmo tempo, está criando novas formas de trabalhar sem precisar depender do governo. Estão surgindo outras formas de ganhar dinheiro fazendo teatro, o que é sempre um enigma para a gente. Fora isso, eu vejo essa ocupação do MinC como uma forma de mostrar aos nossos políticos o que a gente quer e vai fazer com a pasta. O Ministério da Cultura não é um órgão que pode ser arbitrário e seguir a vontade de apenas uma pessoa. Outro ponto importante, é que esses movimentos são horizontais, não tem líder. Na minha opinião, isso que está acontecendo é uma boa aula de política”, declarou o ator.
Porém, como sabemos, não é só a cultura que está sendo assunto de discussão entre os brasileiros. A política, de uma forma geral, vem, ultimamente, ocupando muitas rodas de conversa. Sobre isso, João demonstrou indignação durante a conversa com o HT. “Eu estou assustadíssimo com a política, acho que estamos sofrendo um golpe horroroso e bem claro. Eu fico chocado em ver como as pessoas ainda argumentam contra isso. Como um presidente interino muda toda a estrutura de um país sem esperar o impeachment de fato acontecer? O golpe é tão claro que o fato de ele entrar e mudar tudo já demonstra uma total falta de compromisso com o que é certo. As pessoas reclamam muito do PT e querem que o partido saia, porque é corrupto. Mas aí, colocam políticos extremamente mais desmoralizados no poder. Muitos justificam que o Michel Temer entrou por que foi votado. Mas quem colocou ele no poder não fomos nós, foram as pessoas que quiseram essa maluquice de golpe e não aguentaram esperar mais dois anos para votar e eleger um presidente. É uma loucura e eu estou bem assustado com isso”, disse João Velho, que votou em Dilma Rousseff nas últimas eleições e usa frequentemente suas redes sociais para demonstrar a insatisfação com a atual realidade.
Outra polêmica recente que também movimentou a página de João no Facebook foi o caso da menina vítima de estupro coletivo no Rio de Janeiro. Em função desse caso e de outros que tiveram a mulher como vítima, seja de violência verbal ou física, o ator afirmou que passou a repensar atitudes que tinha na adolescência. “Eu acho que todos nós temos que ficar pensando nisso o tempo inteiro. Eu mesmo já refleti sobre mil coisas que fazia há alguns anos atrás e eram consideradas normais, mas que hoje em dia, eu sei que são loucura. Os homens e as mulheres têm que enxergar o machismo como véu na sociedade que polui muito as nossas ideias. Eu acho que estamos tendo que fazer esse trabalho para que nossos filhos cresçam mais tranquilos”, argumentou o ator que acredita que os movimentos feministas tenham se fortalecido com esses últimos casos.
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