Jarbas Homem de Mello é incansável. Mal terminou a temporada de “Crazy For You”, no qual contracenava com sua mulher, Claudia Raia, e “Constellation”, musical que tinha sua assinatura na direção, ele já estava envolvido com a preparação intensiva para viver um ícone da arte mundial em “Chaplin, o musical”, que segue em cartaz em São Paulo até meados de julho.
Baseado na história real de Sir Charles Spencer Chaplin ou simplesmente Charlie Chaplin, um dos maiores artistas cinematográficos de todos os tempos, o espetáculo percorre toda a sua carreira desde a primeira performance, quando ainda era uma criança pobre em plena Londres do século XIX, à consagração e fama mundial como ator, diretor, produtor, comediante e humorista. Jarbas, ao lado de grande elenco, que inclui Marcello Antony, revive cenas antológicas de filmes estrelados por Chaplin, que ganham destaque na produção e são enriquecidas pelas projeções que ocupam grandes telas por todo o palco.
Exemplos? Os lendários: “The Kid”, “The Circus”, “Tempos Modernos” e “O Grande Ditador”. Durante o musical, que tem versão brasileira assinada por Miguel Falabella, além de relembrar seus filmes e personagens – como Carlitos, o vagabundo, o mais célebre deles – o público conhece mais sobre suas escolhas políticas, sua agitada vida amorosa e as pessoas que marcaram sua trajetória, como a mãe Hannah (Naíma); o irmão mais velho Sydney (Marcello Antony), a quarta esposa Oona O´Neill (Giulia Nadruz), a colunista e crítica ferrenha Hedda Hooper (Paula Capovilla), o primeiro empresário Fred Karno (Leandro Luna) e Mack Sennett (Paulo Goulart Filho), fundador dos estúdios Keystone.
Mas para conhecer um pouco melhor sobre Jarbas, suas escolhas e sua relação com Chaplin, fomos atrás de um papinho rápido com ele, entre uma coxia e outra. Quer ler? Então vem com a gente:
HT: Se a sua primeira lembrança de Chaplin fosse uma cena, como ela seria?
JHM: Um adolescente de 16 anos arrumando um cenário para fotografar seu irmão de quatro anos vestido de maneira improvisada como Carlitos
HT: Que detalhes você descobriu da vida do ícone que quase ninguém sabe e que poderia dividir com a gente?
JHM: Seu poder de superação através da arte, desde sua infância como órfão nas ruas de Londres, até o autoexílio na Suíça.
HT: Como foi a preparação para um musical deste tamanho? Soube que até slackline você praticou…
JHM:Estou mergulhado nesse Universso a mais de oito meses, fazendo aulas de patinação, circo, me preparando fisicamente, e intelectualmente para viver esse personagem. São muitas horas de dedicação lendo várias biografias e assistindo toda sua obra cinematográfica para homenagear esse gênio.
HT: Além de ator, bailarino e cantor, você tem se consolidado como diretor de sucesso. “Constellation” é um fenômeno. Por que você acha que ele se comunica tão bem com a plateia?
JHM: “Constellation” fala de um tempo que traz saudades, um Brasil nos anos 50, com todo o modernismo que o mundo prometia, uma época glamurosa e de muitas mudanças e oportunidades, embalada por lindas canções que se tornaram clássicos da música americana.
HT: O que você mais gosta do universo da direção e o que menos gosta? Qual a diferença entre o Jarbas diretor e o Jarbas ator?
JHM: Acho que são prazeres diferentes (risos). A direção torna a obra mais autoral, porque tudo passa pelo seu critério de avaliação: luz, cenários, figurinos, sonorização, direção musical etc. Mas quando o pano sobe, nada mais está em seu controle, porque não é você no palco. Aí só resta torcer para que tudo funcione. O teatro pertence ao ator.
HT: De uns anos para cá, parece que acendeu um holofote sobre você – apesar de já estar na estrada há duas décadas. Como é lidar com o sucesso a nível nacional?
JHM: Tirando o susto do começo quando o simples fato de ir a um restaurante causava um alvoroço, não afetou em nada, continuo o mesmo cara dedicado e apaixonado pelo meu trabalho, a única diferença é que sou casado com uma estrela, mas já tiro isso de letra.
HT: Você e Claudia, além de estarem juntos no campo pessoal, também trabalham juntos. Vocês separam os dois campos de relacionamento ou é tudo junto e misturado?
JHM: Tudo junto e misturado, somos muito parecidos nisso. Claro que tem um momento em que combinamos: ok por hoje chega, vamos sair e namorar e não tocamos mais no assunto (risos). Mas somos muito felizes desse jeito, sempre torcendo e motivando um ao outro.
HT: O aposto reducionista e preguiçoso de parte da imprensa de celebridade no Brasil de “namorado da Claudia Raia” te incomodou em algum momento?
JHM: Na verdade eu sabia que isso ia acontecer, mas eu não tenho pressa na vida, em algum momento as pessoas iriam dissociar a nossa relação da minha capacidade profissional, paguei pra ver e não me arrependo por nem um segundo ao lado da Claudia, ela é incrível e eu estou muito feliz.
HT: Como homem da arte, como você enxerga as políticas culturais no Brasil?
JHM: Essa é uma questão muito importante a ser discutida sempre. Vejo a meia-entrada como uma necessidade cultural, mas acho injusto o prejuízo ficar a cargo do produtor de espetáculos. Vários setores da sociedade têm subsídios do governo, mas ninguém paga meia luz, ou meio arroz e feijão, ou meia roupa para vestir. Cultura e arte são essenciais para a identidade e crescimento do cidadão. É uma questão muito séria, mas infelizmente está cada vez mais difícil levantar um espetáculo no Brasil.
HT: Se fossem fazer um musical da sua vida, como seria?
JHM: (risos) Acho que a minha história não daria um musical, mas se fosse contar minha vida, uma música que com certeza faria parte seria “Tocando em Frente”, de Almir Sater, que diz “só levo a certeza de que muito pouco eu sei, e nada eu sei!”
SERVIÇO
PERÍODO: Até 12 de Julho de 2015
LOCAL: Theatro NET SP | Shopping Vila Olímpia (Rua Olimpíadas 360 – Itaim Bibi) | 5º piso
HORÁRIOS: Quinta, 21h; Sexta, 21h; Sábado, 18h e 21h30; Domingo, 18h.
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