Não vem que não tem! A programação da noite de ontem na Arena Banco Original começou com a história de Wilson Simonal. No palco do teatro do festival, Ícaro Silva deu vida e voz às alegrias, conquistas e dramas da vida do músico que foi o grande destaque dos anos 1960. Em uma apresentação reduzida do espetáculo “Show em Simonal”, o elenco mostrou ao público da Arena os detalhes da trajetória de Simonal em uma apresentação que contou com participação inédita e super especial da atriz e cantora Laila Garin. No palco, ela interpretou ao lado de Ícaro Silva o clássico “Mamãe Passou Açúcar em Mim”, de 1966.
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Em uma interpretação brilhante, que inclusive já lhe rendeu indicação ao Prêmio Reverência como Melhor Ator, Ícaro Silva é o grande responsável por narrar os momentos bons e difíceis de Wilson Simonal. No espetáculo, o jovem ator tem a missão de cantar em um timbre diferente do seu, mergulhar na ginga do carioca – Ícaro é paulista –, além de atuar como se fosse um homem bem menor em estatura. Afinal, a altura de Simonal não chegava nem próximo aos 1,80 do ator. No entanto, as semelhanças também conduzem a interpretação de Ícaro Silva como Wilson Simonal. Como o ator destacou, ambos são negros e lutam para ter seu espaço no cenário cultural artístico brasileiro.
Sobre seu trabalho no espetáculo “Show em Simonal”, Ícaro não escondeu a satisfação e a honra em poder contar a vida de um artista que, por algum tempo, morreu na memória dos brasileiros. Segundo ele, este musical acrescentou em sua vida pessoal e profissional. “O Simonal é um artista muito controverso e pesquisar a vida dele me fez entender muito a história do nosso país. Ele passou por questões que são muito graves no Brasil, como a ditadura militar, o racismo e a visão sobre o artista que temos em nosso país. Todos esses assuntos atravessam a história do Simonal e do Brasil no geral. Por isso eu acredito que ele seja um artista que represente muito a nossa cultura”, analisou.
Total insider na vida de Simonal, Ícaro revelou que considera o artista o maior cantor que o Brasil já teve. Como apontou, além de se destacar por sua voz, Simonal também trouxe importantes discursos para a nossa sociedade. “Ele era muito versátil e conseguia cantar de tudo. Por isso, eu o considero também um grande artista. Então, ter a oportunidade de interpretá-lo no palco, ainda mais com a história que ele tem e eu sendo um jovem negro no Brasil racista e segregacionista que temos hoje, é muito importante. Afinal, para mim, dar voz ao Simonal é mostrar o grito de uma geração e um povo. Eu consigo falar de muita gente do Brasil”, disse.
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Para contar essa história, Ícaro Silva e o diretor do musical, Pedro Brício, apostaram em uma combinação de Wilson Simonal com a personalidade do próprio ator. Ou seja, durante o espetáculo, ora a história é contada pelo próprio Ícaro, ora é narrada pela interpretação de Wilson Simonal. “Eu acho um barato poder estar no palco como Ícaro também porque isso me aproxima do público. Eu tenho a liberdade e a sinceridade de poder falar o que eu sou e no que eu acredito vendo nos olhos das pessoas. Ao mesmo tempo que isso permite à plateia e a mim uma viagem no tempo, também nos coloca no presente. Afinal, o teatro é o aqui e agora. Então, essa oportunidade me deixa mais relaxado”, contou.
No entanto, para dar vida a esse personagem da cultura tupiniquim, Ícaro Silva disse que precisou se dedicar ainda mais. Afinal, neste trabalho, ele não poderia deixar sua imaginação artística fluir e ignorar as características e histórias reais de Wilson Simonal. Para o laboratório, Ícaro contou que estudou todos os materiais nos quais teve acesso. “Eu falei com os três filhos dele, vi todos os vídeos disponíveis e existentes e ouvi toda a discografia. Ao todo, essa preparação individual demorou um mês e em grupo, ensaiando, mais dois meses”, relembrou o ator que comemorou o resultado.
Segundo ele, é extremamente importante que, em tempos de cólera, nós resgatemos histórias do passado que foram marcadas por lutas e empoderamentos, como foi no caso de Wilson Simonal. Como nos disse, o ator acredita que esse esclarecimento do que já foi vivido pode ajudar a resolver histórias do presente, por exemplo. “É fundamental resgatar esse tipo de história da ditadura e do Brasil recente. Nós estamos vivendo um momento super difícil e polarizado em nosso país em que as pessoas estão se matando por escolherem um lado para defender e não o outro. Mas não existe isso, não somos polarizados. Essa visão maniqueísta é muito perigosa e política. Então, eu acho muito importante que a gente resgate a história recente para conseguirmos entender o presente”, apontou.
Quem também segue um discurso politizado na arte é Laila Garin. A atriz, que depois de muitas tentativas conseguiu participar do espetáculo “Show em Simonal” ontem na Arena Banco Original, estrela outro musical com tema forte. Em cartaz com “Gota D´Água [A Seco]”, Laila Garin também aborda a questão do dinheiro na vida das pessoas. Enquanto para Simonal este foi um fator prejudicial, para Joana, sua personagem no espetáculo escrito por Chico Buarque, o dinheiro não é razão para mudança de caráter ou forma de pensar. “O papel da arte é nos fazer refletir. No caso do Simonal, o Ícaro traz a história do negro artista, da ditadura e do perdão. E é muito louco ver um exemplo de pessoa que não soube lidar com essa subida de classe e enriquecimento imediato e acabou metendo os pés pelas mãos. Ao mesmo tempo, no teatro, eu faço uma personagem que é extremamente ao contrário: ela não abre mão de nada por dinheiro. Joana é abandonada pelo companheiro porque ele quis casar com uma mulher rica e não aceita que ele pague uma pensão a ela. Então, na vida, eu acredito que precisamos ter pessoas como ela que brigam e protestam, senão a gente não evolui”, analisou Laila Garin.
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