Homenagem a Ney Latorraca, problemas técnicos e empates deram o tom do 14º Prêmio APTR de Teatro


Cerimônia virtual de anúncio dos vencedores do 14º Prêmio APTR de Teatro é marcada pelo delay na maior parte das videochamadas, quebrando o ritmo da festa, entediando o público e prejudicando os discursos dos vencedores.

*Por Simone Gondim

A cerimônia que anunciou os vencedores do 14º Prêmio APTR de Teatro, concedido pela Associação dos Produtores de Teatro, foi tão melancólica quanto a imagem de palcos vazios. Por conta dos riscos relacionados à Covid-19 e como forma de marcar a resistência da classe artística, tão atacada nos últimos tempos, os organizadores decidiram promover uma espécie de festa virtual, com homenagem a Ney Latorraca e apresentação de Maria Padilha e Miguel Falabella. O espetáculo vencedor foi “A cor púrpura, o musical”, que acumulou troféus em um total de cinco categorias.

Seria mais uma live em meio a tantas outras, não fosse o grande penetra involuntário da noite: o delay. Na teoria, Maria Padilha e Miguel Falabella deveriam anunciar os vencedores de cada categoria, que apareceriam em seguida na tela dividida, fazendo seus discursos de agradecimento. Na prática, quando esse processo dava certo, o que se via eram apresentadores e convidados meio sem saber como lidar com o hiato entre a divulgação do resultado e a entrada dos ganhadores. Além disso, quem acompanhava a cerimônia ouvia duas vezes o que apresentadores e convidados diziam, tornando a experiência um pouco confusa, porque era comum os dois lados falarem quase que ao mesmo tempo.

Maria Padilha e Miguel Falabella apresentaram o 14º Prêmio APTR de Teatro (Foto: Divulgação)

Outros problemas técnicos deram as caras durante a cerimônia – premiados que não conseguiam entrar ao vivo para fazer os discursos de agradecimento; conexões que deixavam imagens “congeladas” no ar; depoimentos de artistas que eram mostrados pela metade, pois os apresentadores já tinham dito que aquela pessoa não estava online, uma vez que a imagem não aparecia, e quando iam dar prosseguimento à cerimônia eram surpreendidos, junto com o público, por um discurso quase no fim; as vozes das pessoas da produção vazando conversas e/ou orientações. Nem o homenageado da noite, o grande Ney Latorraca, escapou. Seria melhor que tivessem dado mais ênfase à conexão com a internet do que ao painel multicolorido que aparecia de fundo, deixando a imagem muito esquisita.

A 14ª edição do Prêmio APTR também foi marcada por empates. Eles apareceram em cinco categorias – direção, iluminação, direção de movimento e atriz protagonista. Fazendo uma pesquisa rápida para relembrar resultados de anos anteriores, dá para perceber que a indecisão dos jurados é algo que se repete. Concordo que os talentos brasileiros são muitos e é difícil escolher um por categoria, mas recorrer ao empate com frequência pode passar a impressão errada de uma grande ação entre amigos, em vez da análise das qualidades e dos defeitos de cada concorrente.

Ney Latorraca foi o homenageado no 14º Prêmio APTR de Teatro (Foto: Divulgação)

Em respeito à greve dos entregadores, foi anunciado que os troféus seguiriam para seus donos no dia seguinte. Os apresentadores pediram que todos fizessem fotos com seus prêmios, cada um na sua casa. Embora justa, a medida foi mais uma perda para uma noite morna, já que o público que aguentou acompanhar por mais de uma hora a cerimônia acabou privado da tradicional imagem de vencedores sorridentes, posando com a materialização do reconhecimento por seu trabalho.

Enquanto subiam os créditos da cerimônia, o estúdio onde estavam os apresentadores era mostrado. Embora desse para perceber que Miguel Falabella e Maria Padilha passaram a noite sentados a uma distância segura um do outro, respeitando as regras de distanciamento social, era possível ver uma equipe técnica circulando pelo ambiente. Algo, no mínimo, não recomendado para um período em que o novo coronavírus pode se espalhar por lugares fechados e não há vacina ou remédio adequado para combatê-lo.

Veja a lista de vencedores do 14º Prêmio APTR de Teatro, por categoria:

  • Autor: Leonardo Netto, por “3 maneiras de tocar no assunto”
  • Direção: empate entre Miwa Yanagizawa (“Nastácia”) e Rodrigo Portela (“As crianças”)
  • Cenografia: Ronaldo Fraga, por “Nastácia”
  • Figurino: Gabriel Villela, por “Estado de sítio”
  • Iluminação: empate entre Anna Turra, Camila Schmidt e Rogério Velloso (“Merlin e Artur: um sonho de liberdade”) e Renato Machado (“3 maneiras de tocar no assunto”)
  • Música: Cesar Lira e André Muato (“Oboró – Masculinidades negras”)
  • Direção de movimento: empate entre Sueli Guerra (“A cor púrpura, o musical”) e Valéria Monã (“Oboró – Masculinidades negras”)
  • Ator coadjuvante: Alan Rocha, por “A cor púrpura, o musical”
  • Atriz coadjuvante: Patrícia Selonk, por “Angels in America”
  • Ator protagonista: Gilberto Gawronski, por “A ira de Narciso”
  • Atriz protagonista: empate entre Analu Prestes (“As crianças”) e Letícia Soares (“A cor púrpura, o musical”)
  • Especial: Movimento Teatro Negro do Rio de Janeiro
  • Espetáculo: “A cor púrpura, o musical”
  • Produção: “A cor púrpura, o musical” (Estamos Aqui Produções Artísticas)
  • Jovem Talento (Troféu Manoela Pinto Guimarães): Rafael Telles, protagonista de “O despertar da primavera”