Gustavo Merighi está no elenco de ‘Turma da Mônica’: ‘As histórias transformam crianças em seres mais virtuosos’


Para o ator, “as questões que as crianças precisam entender para crescer, desenvolver e se transformar” estão no universo de Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali, personagens de Mauricio de Souza, que retornam as telas dos cinemas. O longa-metragem Turma da Mônica – Lições, que estreia em dezembro, promete repetir o sucesso do primeiro filme da franquia, Turma da Mônica – Laços, que atraiu mais de dois milhões de brasileiros

* Por Carlos Lima Costa

Os célebres personagens criados por Mauricio de Souza, que fazem parte do universo de gerações de crianças, retornam ao cinema no longa-metragem Turma da Mônica – Lições, em dezembro. E prometem repetir o sucesso absoluto do primeiro filme da franquia, Turma da Mônica –Laços, visto por mais de dois milhões de brasileiros. Além de Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali, veremos na telinha Tina e Rolo. “A turma da Tina é um pouquinho mais velha do que os meninos e chegaram depois mesmo. É uma turminha um pouco hippie, no bom sentido da palavra, porque eles são conectados com a natureza, com a paz, com a reciclagem, então, trazem para a Turma da Mônica um pouco dessa consciência sustentável”, enfatiza Gustavo Merighi, intérprete do Rolo.

O ator prossegue explicando que Rolo sempre se mete em confusão. “Ele tem cabelo azul, é bem excêntrico. De certa forma tem um flerte com a Tina (Isabelle Drummond), mas no fundo são grandes amigos. Parece que surge um clima entre os dois, só que nunca se apresentam como um casal. São mais amigos do que outra coisa”, conta.

Aos 31 anos, o ator faz um paralelo de sua vida com os personagens dos gibis da Turma da Mônica. “Eu gostava muito de esporte, então, vivia na rua. Sou de Catanduva, interior de São Paulo, morava em um bairro cheio de molecada. Muito cedo eu já vivia jogando bola. Quando recebi o convite para integrar o elenco do filme foi muito importante para eu mergulhar no universo das histórias em quadrinhos. Os gibis são muito educativos. Acho que todas as questões que a gente precisa entender para crescer, desenvolver e se transformar em seres mais virtuosos estão ali”, comenta ele, que rodou o longa-metragem no início de 2020, antes da pandemia.

No filme Turma da Mônica - Lições, Gustavo Merighi contracena com Isabelle Drummond (Foto: Globo Filmes/Divulgação)

No filme Turma da Mônica – Lições, Gustavo Merighi contracena com Isabelle Drummond (Foto: Globo Filmes/Divulgação)

Gustavo, que já tomou as duas doses de vacina contra a Covid-19, não contraiu o vírus. Mas em meio ao isolamento social, preencheu a vida afetiva ao iniciar namoro com Mariana Zatz, uma das roteiristas do longa da Turma da Mônica. Nesse período, ele aproveitou também para cursar pós graduação em Direção e Atuação de Teatro.

No momento, ele, que já pôde ser visto na telona, no filme Minha Mãe É Uma Peça 2, com Paulo Gustavo (1978-2021), está em cartaz com o espetáculo Um Passeio no Bosque, no Teatro Solar de Botafogo, no Rio. A peça enfatiza a importância do desarmamento entre as nações, mostrando nas entrelinhas o impulso irracional da destruição. Gustavo explica que o texto de Lee Blessing pega o contexto histórico do final da Guerra Fria e o encontro de diplomatas: um jovem idealista americano querendo diminuir o número de armas nucleares e lutar pela paz e um mais velho, da União Soviética, desejando falar frivolidades. Nas devidas proporções, esse embate que existia remete ao momento de forte polarização política no Brasil atual.

“O governo parece que gosta do caos, da confusão, porque de alguma forma consegue exercer a sua autoridade quando pega uma sociedade dividida, quebrada, contraditória. Ele mesmo faz o jogo dele no país colocando o nosso povo contra o nosso povo. Não acho isso benéfico, não acho que daí vão sair soluções harmônicas pacíficas para o bem comum. Ao mesmo tempo, a gente vive em uma democracia aonde tem que respeitar as manifestações independentemente das ideologias. Então, é um momento complicado. Nosso diálogo está fragmentado, frágil, a gente não consegue mais conversar com alguém que tem uma ideologia diferente da nossa. Ela acaba tirando as pessoas do poder de pensar, refletir. O Brasil está partido ao meio”, lamenta ele.

Gustavo não sabe se é falta de formação política ou de educação primária, mas percebe que o povo brasileiro exige pouco ao refletir sobre os governantes. “O brasileiro quer o menos pior. Esse lutar não é algo relevante. Temos que tentar brigar e lutar por alguém que faça a diferença, que minimamente siga as leis. Só que parece que a gente tem uma instituição tão corrupta e um povo tão explorado desde a colonização que a gente perdeu um pouco a capacidade de entender o que é melhor para o povo, então, nesse país parece que é salve-se quem puder. Trocamos um presidente pelo outro e acaba sendo a mesma coisa, é tudo por interesse deles e não para o bem do povo”, reflete.

Em dezembro, Gustavo Merighi vai estar nos cinemas com o filme Turma da Mônica - Lições (Foto: Rayssa Zago)

Em dezembro, Gustavo Merighi vai estar nos cinemas com o filme Turma da Mônica – Lições (Foto: Rayssa Zago)

E analisa os vértices do triângulo formado pela mistura de política, religião e militares. “São funções diferentes na esfera da humanidade. Eu respeito as religiões, tem muita gente que precisa se apegar a alguma fé, alguma crença, um grupo de pessoas que trabalha em prol de ajuda mútua. Mas quando a religião é usada para domínio, para colocar uma visão única de pensamento e todo resto que não concorda contigo é inimigo, aí eu já vejo o grande perigo. E a religião quando se une com a política e com as Forças Armadas ela quer colocar um selo no pensamento da sociedade. Religiões são narrativas, histórias que ajudam a nos elevar, a trabalhar as virtudes, mas aí se manipula isso na fragilidade do ser humano e você chapa um pensamento autoritário. Mas o nosso país é complexo, um dos mais miscigenados do mundo com sincretismo absurdo de várias religiões convivendo. Como quer instaurar um pensamento único?”, indaga.

Gustavo prossegue em suas elucubrações políticas tendo como base de suas reflexões o espetáculo encenado às sextas e sábados até o dia 25 desse mês. “A peça mostra esse instinto mais primitivo, irracional, que, às vezes, nos leva a essa ânsia por poder, conquista, quanto mais melhor, quanto mais forte estivermos, mais conseguiremos nos proteger do mundo. Uma visão muito separatista. Por outro lado, todos nós vivemos em um único planeta. Antes de termos armas nucleares, essa possibilidade de guerra não colocava em risco a própria humanidade. A partir do momento que a gente consegue ter armas de destruição em massa, começa a perceber que se a gente for impulsivo não vai ser só o meu inimigo que vai sofrer. Então, o que a peça propõe é esse acordar para a realidade que se não nos cuidarmos como planeta, todos nós vamos sofrer. Não vai ter mais modo certo de pensar, sentir, direita, esquerda, porque todo mundo vai sofrer”, ressalta Gustavo sobre a peça.

 

"A partir do momento que a gente consegue ter armas de destruição em massa, começa a perceber que se a gente for impulsivo não vai ser só o inimigo que vai sofrer", ressalta Gustavo (Foto: Rayssa Zago)

“A partir do momento que a gente consegue ter armas de destruição em massa, começa a perceber que se a gente for impulsivo não vai ser só o inimigo que vai sofrer”, ressalta Gustavo (Foto: Rayssa Zago)

Filho de pai eletricista e mãe cabeleireira, o ator foi para São Paulo com 16 para 17 anos e a família o colocou no Colégio da Polícia Militar, pois queria que ele virasse militar. “Mas na escola tinham umas regras tão absurdas, não podia entrar de boné, não podia ter piercing. Eu sempre fui transgressor de regra, nunca conseguia respeitar, não entendia porque. Então, já identificaram rápido que não ia por ali. Terminei o terceiro colegial, fui fazer o que eu sabia, Educação Física. Nessa época, uma mulher me parou na Avenida Paulista e me chamou para fazer umas fotos. Aí comecei a trabalhar como modelo. Eu tinha 18 anos, fiz cursos de etiqueta, porque era caipira, não sabia falar direito, sou tímido”, lembra.

"Eu sempre fui transgressor de regra", conta o ator (Foto: Rayssa Zago)

“Eu sempre fui transgressor de regra”, conta o ator (Foto: Rayssa Zago)

Em uma das preparações, a agência o indicou um curso de teatro com Nilton Travesso. “Era para eu perder a timidez, aprender a me comunicar melhor. Mas quando comecei a fazer teatro o mundo se abriu. Passei a conhecer música brasileira boa, dramaturgia, literatura. Fui uma criança que não lia. Hoje, passo um bom tempo com os livros, amo, é meu principal hobby. Mas naquela época, surgiu a oportunidade para trabalhar como modelo fora do Brasil”, recorda.

Assim, aos 19 anos, morou em Milão, Atenas, Istambul e Londres. “Eu era muito novo, não tinha alguém me preparando, cuidando da minha cabeça. Ficava confuso, porque trabalhava para marcas como Dolce & Gabbana, Ralph Lauren, viajava o mundo, só que morava com seis, sete modelos, um perrengue. O dinheiro que eu ganhava, 50 % era da agência, o restante tinha que pagar as minhas contas, aí comecei a me angustiar e não tive paciência com o mundo da moda. Me achava pessoa que não podia expressar muito seu pensamento. Era um objeto. Aí voltei para o Brasil e retomei o curso de teatro”, acrescenta. Com 20 anos, participou de sua primeira peça, esteve em alguns grupos de teatro, até que veio a oportunidade da primeira novela, A Lei do Amor. No audiovisual esteve ainda na série Toda Forma de Amor, dirigida por Bruno Barreto, no Canal Brasil, além de uma participação no Sessão de Terapia, entre outros trabalhos.