Giovanna Nader volta aos palcos após 7 anos, fala do seu ativismo, crise climática e do casamento com Gregório Duvivier


A atriz é engajada nas questões socioambientais do país, influenciadora digital e ativista climática, e acaba de estrear o espetáculo ‘És tu, Brasil?’, propondo em cena, junto ao 1COMUM Coletivo, um exercício de imaginação, sobre como a ocupação da terra brasileira ao longo do tempo conecta eventos históricos aos efeitos da crise climática. Aqui, ela comenta a passagem do Furacão Milton e a ameaça de eventos do tipo no mundo: “Como o Brasil não tem esse recurso de adaptação climática, aconteceu a tragédia do Rio Grande do Sul, com todas aquelas mortes, imagens, e isso acaba levando a um número gigante de refugiados climáticos. É um caos instaurado. Muito difícil olhar para esta realidade”. A atriz aborda ainda o casamento com Gregório Duvivier com quem tem as filhas Marieta e Celeste, e também, frisa a importância de retormar a carreira de atriz hoje: “A atuação é onde está minha alma, é o que faço desde os meus 12 anos, com muitas idas e vindas, muitos autoboicotes, muitas inseguranças, mas agora eu voltei e a maternidade me trouxe essa força. E não estou fechada apenas para projetos de causa ambiental. Aliás, quero atuar em tudo quanto é tipo de projeto, seja audiovisual, seja teatro, já planejo os próximos”

*Por Brunna Condini

É comprovado que os eventos climáticos extremos estão relacionados ao aquecimento global. O próprio Furacão Milton , que passou pela Florida (EUA) na noite desta quarta-feira (9), deixando rastro de mortes e destruição em diversas regiões do estado americano (mesmo com danos abaixo do esperado), levanta questionamentos sobre a influência da ação humana e das mudanças climáticas sobre esse tipo de evento. Giovanna Nader, que além de atriz, é uma das maiores comunicadoras socioambientais do país, influenciadora digital e ativista climática, acaba de estrear o espetáculo ‘És tu, Brasil?‘, propondo em cena, junto ao premiado 1COMUM Coletivo, um exercício de imaginação, sobre como a ocupação da terra brasileira ao longo do tempo conecta eventos históricos aos efeitos da crise climática. Giovanna comenta a passagem do Furacão Milton e a ameaça de eventos do tipo no mundo. “Está tudo muito assustador, porque sabíamos que isso aconteceria, mas não nesta dimensão e tão rápido. Há pouco tempo falávamos: “O mundo daqui há 10 anos…”. Só que esse futuro virou o agora. A diferença, no Furacão Milton, por exemplo, é que os Estados Unidos são onde tem adaptação climática, então eles conseguem prever que o furacão está chegando, conseguem instruir a população de como se proteger. Diferente do Brasil, que não tem ainda esse recurso”, observa.

Nesta entrevista, Giovanna fala ainda da volta aos palcos após sete anos, e também do casamento com o ator Gregório Duvivier, com quem tem as filhas Marieta, 6 anos, e Celeste, de 3. Sobre a emergência climática, falando do nosso país, ela acrescenta:

Como o Brasil não tem esse recurso de adaptação climática, aconteceu a tragédia do Rio Grande do Sul, com todas aquelas mortes, imagens, e isso acaba levando a um número gigante de refugiados climáticos. Esperamos ter nos próximos anos mais de 100 milhões de refugiados climáticos no mundo todo, que são pessoas saindo das suas terras, dos seus lugares e se adaptando a outras regiões. É um caos instaurado. Muito difícil olhar para esta realidade – Giovanna Nader

Giovanna Nader volta aos palcos após sete anos, fala do ativismo e da emergência climática, do casamento Gregório Duvivier e da maternidade (Foto: Theodora Duvivier)

Giovanna Nader analisa como os Estados Unidos se prepararam para o Furacão Milton (Foto: Theodora Duvivier)

Ela ressalta também que toda essa urgência e acontecimentos, guiam, mesmo que de maneira forçada, a humanidade para solucionar o problema. “Fico muito feliz que temos aqui no Brasil a Marina Silva (Ministra de Estado do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil), ainda acho que ela tem que ser promovida à autoridade climática. É uma pessoa séria, comprometida, que enxerga à frente do seu tempo, que está falando sobre isso há anos, sem ser escutada da maneira como deveria. Ainda assim, temos um longo caminho a percorrer. Olho para tudo isso com um certo desespero, uma ansiedade gigante, principalmente por ter duas filhas que vão viver nesse mundo. Mas, por outro lado, para não adoecer, olho para o presente e para a vida de uma outra maneira. Consigo ver beleza nos pequenos atos, nas pequenas atitudes, na minha convivência com as minhas filhas. Eu acho que é a fuga que eu arrumo para sair desse cenário, sabe?”.

"Olho para tudo isso com um certo desespero, principalmente por ter duas filhas que vão viver nesse mundo. Mas para não adoecer, olho para o presente" (Foto: Theodora Duvivier)

“Olho para tudo isso com um certo desespero, principalmente por ter duas filhas que vão viver nesse mundo. Mas para não adoecer, olho para o presente” (Foto: Theodora Duvivier)

De volta aos palcos

O elenco do espetáculo ‘És tu, Brasil?’, que marca o retorno da atriz aos palcos, busca em seu elenco contemplar a matriz étnica deste país, oferecendo à cena quatro intérpretes que remontam à pluralidade do Brasil: Giovanna, Igor Pedroso, Lucas Sampaio e Luiza Loroza. Assim, o encontro destes corpos e matrizes geram narrativas e símbolos que, munidos do vocabulário socioambiental (povos originários, elevação do nível do mar, aumento de temperatura global, racismo ambiental), revisam as histórias do Brasil e revelam a própria trajetória plural e contraditória da nação. A artista também é idealizadora do projeto junto de Fernando e Thiago. “Essa peça nasceu da vontade de comunicar a urgência do clima em uma outra linguagem, e eu acredito muito no poder do teatro para promover uma conscientização mais profunda sobre a pauta”, afirma.

Estou voltando aos palcos após sete anos, que foi exatamente quando engravidei e me casei. É muito simbólica essa volta porque também tem a ver com um retornar a mim. A maternidade muitas vezes nos puxa para outro universo. E para universos lindos, inclusive. Foi por conta da maternidade que criei toda essa consciência ambiental. Mas tenho a sensação que essa volta aos palcos é um pouco uma busca de mim, um processo de cura para eu voltar para onde está minha alma. E é o que eu quero fazer daqui para frente, sem abandonar minha carreira de ativista como comunicadora socioambiental, principalmente dentro da urgência que estamos hoje nesse cenário – Giovanna Nader

Giovanna Nader no espetáculo “ És tu, Brasil?”, em cartaz no Futuros até dia 27 de outubro (Divulgação)

Giovanna Nader no espetáculo “ És tu, Brasil?”, em cartaz no Futuros até dia 27 de outubro (Divulgação)

 

A atuação é onde está minha alma, é o que faço desde os meus 12 anos, com muitas idas e vindas, muitos autoboicotes, muitas inseguranças, mas agora eu voltei e a maternidade me trouxe essa força. Só consegui voltar aos palcos e fazer essa peça porque sou mãe. E não estou fechada apenas para projetos de causa ambiental. Aliás, quero atuar em tudo quanto é tipo de projeto, seja audiovisual, seja teatro, já planejo os próximos. A sensação que tenho é que essa volta é só a primeira peça. É deste lugar que desejo seguir minha vida daqui para frente – Giovanna Nader

Encontro de almas

Juntos desde 2016, Giovanna e Gregório Duvivier oficializaram a união em 2018, seis meses depois do nascimento da primeira filha do casal, Marieta. “O meu encontro com o Greg, eu digo que foi de um outro espaço-tempo, acho que não é desse universo, não. A gente se encontrou muito por acaso, eu morava em São Paulo, a gente não tínhamos nenhum amigo em comum. Aliás, tinha um ou outro, mas assim, muito de longe, pessoas que a gente não convivia muito. Nos conhecemos em um jantar e descobrimos de cara que nascemos juntos. A gente nasceu no mesmo dia, no mesmo ano (11 de abril de 1986), e na mesma hora. Viemos ao mundo juntos, temos o mesmo mapa astral”, conta.

Giovanna Nader e Gregorio Duvivier na estreia do espetáculo da atriz (Divulgação)

Giovanna Nader e Gregorio Duvivier na estreia do espetáculo da atriz (Divulgação)

“Foi especial saber disso naquele momento da minha vida, em que eu estava super espiritualizada, não que não seja agora, mas na época estava muito enveredada nessa misticidade que existe no universo. Quando me deparei com ele pensei: “Cara, ferrou, eu nunca mais vou conhecer uma pessoa que veio ao mundo comigo”. A gente se apaixonou desde o primeiro momento, e de lá para cá, temos tentado construir uma relação de muito respeito, de muito amor”. Giovanna completa ao falar do relacionamento:

Claro que nada é perfeito, também temos nossas crises, mas acho que o respeito é uma grande chave para a nossa relação, além do amor e do humor. E a família também. Temos objetivos em comum, como a criação das nossas filhas e amamos ficar nós quatro. São nossos momentos mais prazerosos quando estamos nós quatro aqui dentro da nossa casa. Então, digo que eu e o Greg foi um encontro de almas – Giovanna Nader

Giovanna Nader e as filhas Celeste e Marieta (Foto: Reprodução/Instagram)

Giovanna Nader e as filhas Celeste e Marieta (Foto: Reprodução/Instagram)

Descomplicando as atitudes sustentáveis

Que dicas práticas daria para quem quer começar a ter hábitos mais sustentáveis e acha o assunto chato e complexo? “Olha, eu já dei tanta dica por aí, mas hoje vou dar uma que eu nunca dei. Acho que para quem quer se aproximar desse tema e ter uma nova visão de mundo, eu iria pela cultura. Como meu coletivo, que faz um espetáculo que fala sobre a questão climática de uma maneira intensa, com certa dose de humor, sarcasmo, que você vai sentar ali e vai ver um entretenimento, mas também vai se informar. Têm também os livros, os podcasts, séries e programas de TV. Existe uma infinidade de linguagens onde podemos consumir cultura e a pauta climática, em novas narrativas. Eu acho que essa é uma grande chave, é se informar, mas talvez não só no noticiário ou em palestras. Aquela coisa bem quadrada, bem didática que a gente está acostumado. É se informar em outras linguagens, deixando esse tema atravessar o seu corpo de outras maneiras, em outros lugares”.

"Volto aos palcos após sete anos, que foi exatamente quando engravidei e me casei. Isso é muito simbólica porque também tem a ver com um retornar a mim" (Foto: Theodora Duvivier)

“Volto aos palcos após sete anos, que foi exatamente quando engravidei e me casei. Isso é muito simbólica porque também tem a ver com um retornar a mim” (Foto: Theodora Duvivier)