Uma faculdade que vai muito além da sala de aula e que se preocupa e valoriza ativamente a cultura nacional. É assim que a Fundação Cesgranrio se faz presente na educação e na arte brasileira. Ontem, a instituição promoveu o 4º Prêmio Cesgranrio de Teatro, apresentado por Eriberto Leão e Irene Ravache, em um encontro no Golden Room do Copacabana Palace que reuniu nomes ilustres da cultura brasileira. Entre os presentes, Glória Menezes, Tarcísio Meira, Eva Wilma, Débora Bloch, Lília Cabral, Marcos Caruso e atores da nova geração, como Klebber Toledo e Marcelo Mello Jr acompanharam a noite em que a estrela foi o teatro nacional. Além do prêmio, os vencedores das doze categorias ainda levaram R$ 25 mil como reconhecimento pelo trabalho e dedicação nos palcos. Sobre a relação estreita e importantíssima da Cesgranrio com o teatro, o presidente da instituição, Carlos Alberto Serpa de Oliveira, disse que o objetivo da fundação é formar novos amantes e produtores de arte.
“Nós da Cesgranrio acreditamos que não há educação sem cultura e aprendemos há mais de 20 anos que deveríamos investir na arte para, justamente, formar novas gerações que pudessem crescer nesse caldo cultural. Mas, foi há cinco anos que nós resolvemos transformar essa ideia em prática determinante. Hoje, nós vemos que a cultura deve permear a nossa capacidade e alicerçar a nossa possibilidade de fazer a transformação que precisamos para o mundo de hoje. Só a arte que faz isso, e o teatro é a sua forma mais concreta”, disse o presidente que completou a fala fazendo um pedido a todos os artistas presentes. “Eu peço quase que de joelhos a todos os atores e as atrizes que estão neste Prêmio: não deixem o teatro morrer. Ajudem a cultura brasileira e estejam certos que o melhor que podemos fazer para as próximas gerações é proporcionar essa experiência cultural indispensável para gerar novas habilidades artísticas em cada ser humano. Só o teatro é capaz de fazer isso”, pediu. Para expandir as formas de valorizar a cultura nacional, em 2017, Carlos Alberto Serpa irá construir mais um teatro no Rio de Janeiro, o terceiro da fundação na cidade, e irá lançar o 1º Prêmio Cesgranrio de Dança.
Entre os convidados da plateia ilustre que acompanhou a noite de premiação pelos trabalhos desenvolvidos em 2016, uma pessoa era especial. Nesta 4ª edição, Nicette Bruno foi a grande homenageada pelos seus 70 anos dedicados aos palcos brasileiros. Honrada, emocionada e incansável, a atriz contou que não tem planos para parar. “Eu agradeço a todas as pessoas que passaram pelos meus anos no teatro. Mas, sobretudo, eu ainda espero um momento de realização. Eu quero fazer mais teatro e encontrar outros personagens que mexam comigo e que me sacudam. É isso o que eu continuo procurando porque esta arte serve para nos renovar. Além da transformação que recebemos a cada instante, nós renovamos a nossa condição e a possibilidade de realização. Nada vai nos calar e nem fazer parar na vida. Os dias continuam e continuarão para sempre. E nós do teatro sempre teremos uma bandeira para limpar todos os empecilhos que aparecerem pela frente para que tenhamos uma caminhada limpa e livre”, exaltou Nicette que acabou de completar 84 anos.
Além da figura homenageada, o 4º Prêmio Cesgranrio de Teatro ainda enalteceu outras doze categorias. Na relação dos indicados, os espetáculos “Auê” e “Gota D’Água [A Seco]” disputavam o maior numero de troféus. No entanto, foi o musical “Auê” que conquistou mais categorias, um total de três das cinco que disputou. A peça, que apresentava 21 canções autorais e inéditas compostas em viagens da Companhia Barca dos Corações Partidos, ganhou o troféu nas categorias Melhor Espetáculo, Melhor Direção Musical e Melhor Direção. Nesta última, Duda Maia, quem dirigiu “Auê”, destacou o trabalho corporal do elenco. “Eu tenho um amor imensurável pelo teatro desde quando fiz meu primeiro trabalho como diretora. E muito deste sentimento e desta gratidão estão atrelados a esse contato com o corpo. Além de todo o talento do meu elenco, eu queria agradecer pelo trabalho incessante deles. Nós só chegamos até aqui por causa dos corpos de vocês, que são lindos demais”, disse a diretora Duda Maia.
Mas o espetáculo “Gota D’Água [A Seco]” também garantiu seu troféu nesta 4ª edição do Prêmio Cesgranrio de Teatro. Laila Garin ganhou o prêmio de Melhor Atriz em Teatro musical por sua brilhante atuação na peça. Em seu discurso de agradecimento, ela destacou a dificuldade de se fazer arte em 2016. “Neste espetáculo, eu não estou engajada somente como atriz, como se fosse pouco. Eu mergulhei como artista porque eu pude pensar neste projeto por inteiro e chamar toda a equipe. Ainda mais no ano que passou. Com certeza, fazer teatro em 2016 foi um ato de resistência e que continua sendo nesse ano”, disse Laila que foi além. “Eu não sou boa de discurso político, mas ainda bem que eu faço ‘Gota D’Água’. Obrigada Chico Buarque e viva as mulheres, as classes menos favorecidas e tudo o que Joana, minha personagem, representa de não concessão, conchavos e alianças. Precisamos ser fortes para aguentar tudo”, completou.
Por sinal, o discurso politizado e de resistência foi quase que uma unanimidade entre os vencedores. Assim como Laila Garin, Marcos Caruso destacou o panorama de crise pelo qual passamos nos últimos meses. Ele, que estrelou o monólogo “O Escândalo de Philippe Dusseart”, ganhou o troféu de Melhor Ator por sua atuação em uma peça que destacava a importância e a riqueza da arte em nossa sociedade. “Eu queria dividir esse troféu com os atores que foram indicados e com todos os outros que estiveram em cartaz neste ano terrível de crise internacional, nacional, estadual, municipal, cultural, financeira e ideológica. 2016 foi um ano horrível, mas nós conseguimos fazer a diferença no palco. Todos os atores que passaram pelos 200 espetáculos que estiveram em cartaz no Rio de Janeiro no ano passado fizeram com que as pessoas tivessem um momento de paz, sorrisos, reflexão e emoção”, disse Caruso.
Já Artur Luanda Ribeiro, que ganhou dois troféus nas categorias Melhor Cenografia e Melhor Iluminação pelos trabalhos realizados no espetáculo “Gritos”, apropriou-se de uma frase de Rubens Corrêa para analisar sua função no teatro. Ele, que teve a parceria de André Curti na cenografia e Hugo Mercier na iluminação, destacou que o lema do artista é viver sempre no risco. “Tem uma frase do Rubens Correa que marcou muito a minha vida e eu a tenho como lema: ‘O ofício do artista é ver um abismo e se debruçar sobre ele’. Essa frase, que eu ouvi quando tinha 21 anos, foi o que me deu o pontapé para eu ir atrás desse abismo. E, nesse lugar, eu tive a chance de encontrar o André, que divide comigo todo esse trabalho e pesquisa que vai além do que poderíamos chamar de vida. É um processo de existência e de amor”, disse Artur que emocionou parte da plateia com seu discurso.
Em Melhor Figurino, Luiza Fardin ganhou o troféu pelo trabalho no espetáculo “Se Eu Fosse Iracema”. Já em Melhor Ator em Musical, foi a atuação de Alexandre Rosa Moreno em “A Cuíca do Laurindo” a grande premiada. Na categoria “Melhor Atriz”, Débora Bloch garantiu mais um troféu por sua aplaudidíssima atuação na peça “Os Realistas”. E, em Melhor Texto Nacional Inédito, Grace Passô foi contemplada pela autoria de “Vaga Carne”, escrito em 2016 e que tinha as transformações e crises do ano passado como gancho. Ente todas as categorias do Prêmio Cesgranrio de Teatro, uma tem o caráter diferente. Em Categoria Especial, a fundação indica profissionais, personalidades e grupos que se destacaram por seu envolvimento com as artes do palco. E, em 2016, quem se destacou, para a instituição, foi Wolf Maya, pela construção do Teatro Nathalia Timberg. Em janeiro, o diretor inaugurou um novo espaço cultural na Barra da Tijuca, no Rio, que comporta mais de 500 pessoas. “Eu me sinto muito feliz por retomar uma atitude que não existe mais de os artistas serem donos de seu espaço. Eu sou de uma geração em que muitos artistas tinham os seus teatros para se apresentarem. E isso sempre ficou na minha cabeça. Até que, no ano passado eu fiquei maluco e torrei todo meu dinheiro. Vendi minha fazenda em Goiás e juntei tudo o que eu tinha para construir um lindo espaço: o Teatro Nathalia Timberg”, contou.
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