Fernando Bicudo assume a presidência do Theatro Municipal e conta ao Site HT como será sua gestão: “uma luta e uma missão divina”, afirmou o artista


Ana Botafogo abriu mão do cargo, porque impôs uma lista de condições ao governo para entrar no cargo administrativo. Entre os critérios estava a regularização do salário dos empregados. No entanto, Pezão afirmou que só poderá normalizar o pagamento no final de fevereiro, mas o cargo precisava ser ocupado naquele momento

O artista, produtor e diretor Fernando Bicudo aceitou o convite do Secretário de Estado de Cultura, Leandro Sampaio Monteiro, e assume a presidência da Fundação Theatro Municipal. Inicialmente, o cargo foi oferecido para bailarina Ana Botafogo, no entanto ela fez uma lista de exigências que deveriam ser cumpridas pelo governo antes dela começar a administrar o local. Entre as condições estava a regularização dos salários atrasados e o governador Luiz Fernando Pezão garantiu que só conseguiria normalizar os pagamentos no fim de fevereiro. O Theatro Municipal não poderia ficar muito tempo sem alguém como presidente, pois era preciso uma pessoa para fazer a agenda artística da casa em 2018. Ao saber disso, a profissional acabou abrindo mão do cargo e sugeriu que Bicudo se tornasse o novo administrador. “É uma luta e uma missão divina estar à frente do Theatro, as pessoas que trabalham aqui são sacerdotes. É uma equipe do bem e esta cidade está precisando de amor e carinho. Me sinto abençoado de ter esta missão e ser o porta-voz destes artistas maravilhosos”, informou Bicudo. Ana Botafogo continuará no posto de diretora do Corpo de Baile do Theatro ao lado de Cecília Kerche.

Fernando Bicudo assume a presidência do Theatro Municipal e tem a pretensão de voltar aos tempos de glória do local (Foto: O Globo)

Site Heloisa Tolipan: Agora que assumiu a presidência do Theatro Municipal, o que pretende fazer primeiro à frente deste cargo?

Fernando Bicudo: Tem muitas coisas para serem feitas que são prioridade, mas acredito que a primeira coisa seja humanizar o relacionamento com os artistas e funcionários da casa. O problema do Theatro não é apenas salarial, sentimos que existe uma necessidade de ter mais carinho, respeito e valorização dos profissionais.

HT: A verba destinada ao Theatro, em 2017, foi 25% inferior a que foi destinada para o local em 2016. Já sabe se este número irá se manter neste ano?

FB:Ainda não tenho informações sobre verba, mas nunca tive dificuldade de fazer meus projetos por falta de patrocínio. Raramente trabalhei com o dinheiro do estado, na verdade, acabava recebendo por patrocinadores. No entanto acredito que nunca irá faltar verbas para boas ideias e acho que não existe melhor elemento cultural que o Theatro Municipal. É o melhor palco e a melhor vitrine do Brasil.

HT: Quando o Theatro Municipal receber a verba, qual será a prioridade de investimento?

FB: Quero completar os corpos artísticos que estão desfalcados. Nós perdemos muitos dos nossos profissionais por causa da falta de oportunidade de trabalho. Temos pessoas que foram para o exterior e se tornaram conhecidíssimas. Por exemplo, resgatamos o nosso diretor artístico da ópera, o Pier Francesco Maestrini, que é um brasileiro com reconhecimento internacional com mais de cento e cinquenta peças dirigidas. Ele aceitou participar do nosso colegiado artístico, já que temos três que administram a ópera, a orquestra e o balé.

HT: Existe algo que, inicialmente, precisa ser deixado em segundo plano ou que pode ser cortado?

FB: Não sei o que deve ficar em segundo plano, porque tem coisas que acho que precisam ser consertadas. Precisamos de investimentos na infraestrutura, por exemplo. É preciso ter um palco funcional e moderno que esteja à disposição de todas as necessidades dos artistas.

HT:Ana Botafogo se recusou a assumir o cargo, já que Pezão pediu até o fim de fevereiro para regularizar o salário dos funcionários atrasados. O que achou desta condição da artista?

FB:Apoiei a posição da Ana e fiz campanha para que ela aceitasse o cargo, algo que inclusive tomou uma grande repercussão com mais de 50 mil visualizações. Quando o secretário disse que acataria a todas as exigências, menos a dos salários, que ainda levaria um tempo para ser normalizado. No entanto, não foi possível esperar este tempo, porque alguém precisava assumir o cargo de presidência da instituição para fazer a agenda, algo que demora. Por isso acabei ficando à frente do Theatro.

HT:A recusa de Ana Botafogo acabou te favorecendo, já que você se tornou o presidente do Municipal. A própria bailarina te indicou para o cargo. Como encara esta confiança que ela colocou em você?

FB:Ela disse que iria me apoiar e trabalhar junto comigo, então me sinto muito honrado e feliz de estar chefiando uma casa com artistas top de linha. É um local onde não há nenhuma indicação política e os profissionais falam a mesma língua.

HT:Ao assumir o cargo, você também impôs alguma condição, tal qual Ana Botafogo?

FB:Não impus condição, aceitei o desafio. Não fujo da guerra. Estou do lado dos corpos artísticos, estou confiante de que o governador vai regularizar os salários e de que teremos os apoios que disseram que teríamos. Espero que tenhamos os instrumentos necessários para que o Theatro Municipal volte aos seus dias de glória.

HT:Existe alguma previsão para a regularização dos pagamentos dos funcionários?

FB:O governador disse que até o dia 21 de fevereiro os salários estarão regularizados. Estamos confiantes de que isso irá acontecer, até porque só iremos anunciar a temporada depois que tudo estiver normalizado.

HT:Como prevê o ano de 2018 do Theatro e a sua administração como presidente?

FB:Será um ano de ressureição, superação e valorização da nossa história.