*Por Brunna Condini
Quem estava com saudade de ver Fernanda Vasconcellos em cena, pode vê-la emr ‘Sra. Klein’. Com a peça, a atriz quebra o jejum de quase três anos sem atuar. Mãe de Romeo, do seu casamento com o multiartista Cássio Reis, ela desacelerou para acompanhar as descobertas do filho nos seus (quase) dois primeiros anos de vida. “Me sinto em um recomeço de tudo. Estava sem dirigir um carro há dois anos, por exemplo. E foi a primeira vez que trabalhei fora de casa depois que o Romeo nasceu. Esse trabalho aconteceu em um tempo bom. Se fosse antes, acho que eu teria adoecido, não teria dado o melhor de mim. Mas tem sido uma delícia estar no palco agora”. E destaca: “Programo essa retomada aos poucos. Estou em cartaz em São Paulo, onde moro, já faço viagens curtas, e assim vou indo, uma coisa de cada vez. Tenho o Cássio, que assume quando não estou em casa, e conto também com os meus pais como rede de apoio. Então, consigo ficar mais tranquila”.
E acrescenta: “Entendi a conexão com o universo que tem essa coisa de parir. Você entende a que veio. É muito diferente do que eu imaginava, mas é muito bom. Não estou romantizando a maternidade, que também é difícil. Só que tudo que é importante, precisa do seu trabalho, dedicação. Qualquer projeto de vida”.
“Azar do artista que não passar pelo teatro. O teatro é do ator, é você no seu comando, não existe edição do seu trabalho. Tem uma direção, um estudo, mas ali, na hora, é a arte viva. E há uma cumplicidade única no teatro. Só quem está na plateia vai te ver tão desnudado exercendo seu ofício. O teatro sempre me melhora, em todos os sentidos. Adoro a TV e o cinema, mas essa intimidade com o público, só o teatro te dá”, elabora Fernanda, ao refletir sobre o seu retorno aos palcos em ‘Sra. Klein’ — Fernanda Vasconcellos.
A maternidade veio em um momento de mais maturidade para Fernanda, fazendo uma verdadeira revolução na sua existência. E ela tenta traduzir a potência do que tem vivido. “Quando você se torna mãe, começa a entender de fato o que significa renascer, recomeçar. Em tudo, na forma de pensar, de pegar um carro para dirigir, de ler um texto, de subir em um palco. As coisas que eu quero e os meus limites também ficaram mais claros. Fiquei mais intuitiva e presente. É uma atenção diferente que a gente desenvolve, primeiro para o filho, que depende totalmente de nós, e vamos estendendo isso às outras relações, ao trabalho, a visão para o mundo. Meu filho é a melhor escolha que faço todos os dias!”. Deseja ter mais um depois dele? “Não sei…acho que ainda é cedo para pensar nisso (risos)”.
Pensando na proximidade dos 40 anos, completos em setembro deste ano, e a respeito desse processo de amadurecimento, a atriz avalia:
A maturidade traz o luto de algumas certezas que temos. Por isso, quero aproveitar mais a vida, a minha família, os meus pais. Também estou ganhando uma liberdade de escolha, de ser quem sou, de não violentar o meu tempo, de querer ou não pertencer. As prioridades mudam e isso tem sido muito positivo para mim – Fernanda Vasconcellos
Arte viva
Atriz desde os 13 anos, ela fez muita televisão, e no veículo, foi vista pela última vez em ‘Haja Coração’ (2016). Depois disso, no audiovisual, fez séries como ‘3%’ e ‘Coisa mais linda’, para a Netflix, e ‘Rua do Sobe e Desce, Número que Desaparece’, para o Canal Brasil. Será que nessa retomada cabe fazer um folhetim? “Adoro novela, mas não sei que projetos vão aparecer, o que posso, consigo, mas amo fazer televisão. Agora, se viesse um projeto que eu curtisse muito, toparia, só teria que ajustar isso na vida”.
Hoje já sinto o Romeo mais livre, independente…e a mãe dele aqui também (risos) – Fernanda Vasconcellos
O espetáculo
‘Sra. Klein’, texto do autor inglês Nicholas Wright — com adaptação brasileira de Thereza Falcão — e direção de Victor Garcia Peralta, aborda a relação tóxica entre a psicanalista austríaca Melanie Klein (Ana Beatriz Nogueira) e a filha Melitta (Fernanda). “Elas vivenciam uma dinâmica de dor, inveja, de separações. Existe uma tensão grande no ar. Faço uma personagem mais densa do que as pessoas estão acostumadas a ver, é bem diferente”, diz Fernanda sobre a montagem, que conta ainda com Kika Kalache vivendo Paula, discípula de Klein. “Minha personagem compra as brigas dela. Vim da experiência da maternidade para fazê-la, então estava bem serena, e a Melitta é explosiva, tem grandes batalhas internas e externas, com a mãe. Acabei travando uma briga comigo mesma para dar voz a ela. Abri o ombro, estufei o peito e segui. Tem sido estimulante”.
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